Porque daqui se levantará
todo o horizonte, nasces − a Terra toda
em alfabetos, assombros,
degraus.
E se abrem os tesouros:
vertigem: as vísceras
iluminadas.
Porque sou eu quem levanta das palavras o dizer
inscrevo nas fábulas o fogo,
o arco e a pedra, a seta envenenada
e o sangue − a sua carne
a árvore dos ventos.
E nenhuma voz (rio adormecendo
a margem frágil) repetirá a voz
deste dizer, a sua caligrafia −
do voo
dirá a flecha,
da viagem, os caminhos.
Porque daqui se levantará
Todo o horizonte, nasces − Terra
e nómada
−
Bosquímano.
2.
Porque daqui se levantará
todo o horizonte, nasces: Terra
de ombro a dedos o instante,
esse rigor
de caligráficos fonemas − o nome.
Porque sou eu quem levanta das palavras o dizer
inscrevo nas fábulas o sangue,
o arco e a pedra,
a seta envenenada e o fogo.
E nenhuma voz (rio adormecendo
a margem frágil) repetirá a voz deste dizer,
a sua caligrafia − do voo
dirá a flecha,
da viagem, os caminhos.
Quem passa e se atreve, atravessando,
do ar − que dirá
teu sonho de em ti mesmo te inaugurares
a casa? Fogos violentam
a luminosidade noctívaga.
3.
Porque sou eu quem abre nas casas − árvores
os pés que sobem ao mel,
contorno dos ventos o pressentimento, as abelhas e o
fumo o capim
em volta: Oh Lua Nova, relampeja:
relampeja
no alto e negro da Terra,
traz-nos a água esculturada
nos ventos, a chuva − penteando
o verde exausto dos horizontes.
Porque sou eu quem leva ao ombro a aljava
e nos passos
os frutos e a carne adolescente do desejo − dos
antepassados:
as quatro caudas do leopardo.
ZETHO CUNHA GONÇALVES
In: A Palavra Exuberante. Lisboa: Parceria A.M.
Pereira, 2004.
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