Dante
Milano, poeta da contra dicção, tem sido negligenciado nos estudas dos
críticos brasileiros, talvez por dois motivos. Um pelo caráter contra-dictórico
de seus poemas. O outro pelo desdobramento que esse contra-dictório tem na
percepção do poético.
Ao contrário de Trakl, que faz
uma poesia do mundo fechado, o poeta brasileiro usa palavras e sintaxes
palmares, passíveis de serem entendidas, em sua superfície, pelo mais tosco
entre os toscos político do país. O misto de entendimento e contra dicção faz
de Milano o poeta brasileiro mais irredutível ao aparelhamento dos média.
No seu poema Pietá, a dor da mãe, que poderia se identificar com o
lugar comum do leitor, é jogada para longe, quando se afirma na sua
intransitividade, na incapacidade de dividir com o outro o que lhe é próprio, a
dor. Anti-romântico por excelência, o poema, ao fazer a mulher olhar para baixo,
faz com que ela veja apenas o que o filho é em seu presente momento de cadáver.
Nenhuma contemplação, nenhuma dúvida; o olhar que olha vê apenas o que pode olhar,
a afirmação do humano em sua finitude.
Qual mídia usaria essa força,
essa trágica percepção e a aproveitaria para fazer o poema se submeter aos seus
desejos de venda e compra? Ao se tornar irredutível à propaganda, o poema de
Dante Milano afirma o lugar exato que a poesia deve ocupar.
(Oswaldo Martins)
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