É lamentável a redução de horário de funcionamento das Bibliotecas Parque do Estado do Rio. A desocupação começa por aí. A outra ocupação continua por aí. A repressão, os achaques e os assassinatos perpetrados pelo estado continuam. Nada de novo no front. É pela cassação aos direitos de educação, cultura e lazer que começam os apertos das vacas magras. Por que manter abertos, em horários alternativos aos da exploração do trabalho, aparelhos de formação, informação e transformação? Melhor deixar os pobres, "quase sempre pretos", sob a mira podre dos fuzis e das ideias que facilmente os assimilam como marginais, baderneiros, ladrões. Parece que isso é para justificar matá-los com tiro. Salvar a propriedade que os livros e a cultura podem ameaçar.
O curioso é que a ideia original era tirar das mãos do Estado, onde o projeto não garantiria continuidade nas sucessões de governos, e entregar ao terceiro setor, para que Organizações Sociais pudessem ter mais liberdade de captar, administrar e manter acesa a chama transformadora das bibliotecas. Faço minha a pergunta de Sergio Bianchi, "quanto vale ou é por quilo?". Para onde irão, na hora das vacas magras, os colaboradores de projetos bica aberta tão paradoxalmente condoídos e esperançosos com a criatividade das gambiarras pão com ovo?
Lembro bem (e agora a coincidência de ideias vem a calhar) que uma das primeiras ações do Sarau Manguinhos (na época, Sarau Poético de Manguinhos) naquela Biblioteca Parque foi o velório de Machado de Assis. Uma leitura, à luz de velas, de trechos sobre o tema da afrodescendência retirados da obra do bruxo. Na entrada do velório projetávamos as cenas iniciais do filme de Bianchi ao som do conto "Pai contra mãe".
Agora com a redução dos horários, para trabalhador não usar, para estudante do vespertino não usar, continuamos velando (e embranquecendo) Machado de Assis.
O Sarau Manguinhos continua vivo porque preexiste à ocupação da Biblioteca. Já ocupávamos o território com cultura e poesia, antes do Estado.
Os movimentos populares continuarão crescendo no Brasil. E com eles consciência de que é possível mudar a realidade que passa no repórter esso.
(Alexandre Faria)
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