quinta-feira, 2 de outubro de 2014

sem título

conto nos dedos da menina de rua
os abraços que nunca recebeu
nos vãos que as mãos criam
no ar
quando ela brinca perto do chafariz

há estatísticas para quase tudo

mas eu preciso achar o cacho de cabelo
que a mãe nunca cortou nem colocou
num álbum de fotografias

há estatísticas para quase tudo

e empobrecer
é feito um nascer do sol
que nunca veio

a falta de banho  que talha
o acúmulo
de camada após camada
de sujeira
própria e outra
gera uma casca que em certa medida
em madrugadas empoeiradas e bêbadas
em reuniões em volta do fogo
– ou da lareira –
seria considerada
– por um louco –
e sentida dentro do oco da noite
como riqueza.

(Lúcia Leão)

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