A lista dos narradores premiados com o Jabuti, divulgada na última terça-feira, atribui mais importância ao I Brazilian Literary Festival, realizado há uma semana (25 de setembro de 2009) em Washington, DC. Dentre os cinco narradores presentes, dois deles - Moacyr Scliar, em primeiro lugar, e Daniel Galera, em terceiro – encabeçam a lista.
Promovido pela Embaixada Brasileira em Washington e realizado em conjunto com a Universidade de Georgetown, que o sediou, o evento se compôs de três painéis, cujo tema foi "A Nova Literatura Brasileira". Os debates contaram com a mediação de professores da Georgetown University e tiveram o formato de um diálogo que incluiu a platéia. Além de promover a nossa literatura nos Estados Unidos, cada escritor apresentou um pouco de sua obra para o público presente ao evento.
Esta foi a programação:
10h00 - 12h00 Lídia Santos e Bernardo Carvalho, com a mediação do professor Michael Ferreira;
13h30 - 15h15 Daniel Galera e Adriana Lisboa, com a mediação da professora Patrícia Vieira;
15h30 - 17h30 Moacyr Scliar, com a mediação do Professor Vivaldo Santos.
O blog do Oswaldo esteve presente lá. Foi nele que os professores e alunos de Georgetown encontraram meu conto “Vertigem”, que foi comentado pelo público, assim como “A Volta do Bruxo”, este último incluído no meu livro Os Ossos da Esperança. Partes do conto que deu título a esse livro, vencedor do Premio Radio France Internationale, e de um conto recente, “Música de Boi”, ambos traduzidos ao inglês, foram lidos por uma estudante da Universidade de Georgetown. O último conto, traduzido ao inglês com o título de “Cowboy Music”, sairá breve numa antologia de contos de escritores de língua portuguesa residentes nos Estados Unidos.
Citei publicamente a importância do blog no processo de divulgação da minha narrativa. Os escritores mais jovens trabalham muito bem com o formato, como se pode ver com Adriana Lisboa (http://www.adrianalisboa.com.br/, ou http://caquiscaidos.blogspot.com) e Daniel Galera (http://www.ranchocarne.org). Galera, no entanto, embora tenha construído sua carreira na Internet, diz que já se está distanciando dela. Preferiu ler partes do seu livro Cordilheira, premiado com o Jabuti. Adriana leu uma parte da tradução de seu livro Rakushisha, a ser lançada aqui nos Estados Unidos no ano que vem, revelando estar morando no estado americano do Colorado. Bernardo Carvalho nos brindou com a história paralela de Nove Noites: a do processo de sua escritura e das muitas viagens e contatos que fez para a realização desse e também do seu romance Mongólia.
O encerramento, com Moacyr Scliar, revelou a justiça de sua premiação com o Jabuti. Alicerçado nos seus 80 livros publicados, Moacyr é um orador brilhante e bem humorado, mesmo em inglês, língua em que, embora tenha dito não dominar, se expressou perfeitamente. Sua fala passou pelo “separatismo” dos gaúchos, tema levantado por Daniel Galera, também gaúcho, no painel anterior; da dificuldade – e responsabilidade - de escrever na época da ditadura e da esperança no Brasil, país que ele afirmou estar cada vez melhor e mais democrático. Como exemplo, citou a literatura escrita por índios brasileiros, recém apresentada na Academia Brasileira de Letras, da qual faz parte. Leu partes da tradução ao inglês do seu livro O Centauro do Jardim e dialogou por quase uma hora com o público.
Em minha opinião, essa primeira versão do festival cumpriu seu objetivo (a equipe da Embaixada brasileira pensa repetir anualmente o evento). Tivemos, nós e o público, a oportunidade de vivenciar a diversidade da literatura atualmente produzida no Brasil, esteja ele onde estiver. Uma das mais polêmicas perguntas a que tive que responder tinha como tema a globalização, fenômeno que eu havia identificado como algo que englobava todos os escritores presentes.
Tive que explicar a quem me fez a pergunta a falta de entendimento sobre o que eu queria dizer. Afirmei que concordava com sua afirmação de que globalização significa apenas “fluxo de capital”. Por outro lado, como processo irreversível, vem sendo usado de maneira estratégica, e com competência, pelos escritores. Se o mercado global, para justificar-se, necessita de tintas locais, isso abre a um escritor a possibilidade de colocar seu livro no mercado global sem antes passar pelo cânone nacional, ampliando também e espectro dos ambientes onde localizar suas tramas, caso, por exemplo, de Bernardo Carvalho, de Adriana Lisboa e de Daniel Galera, cujo último romance se passa em Buenos Aires.
No entanto, ressaltei, há também a necessidade, na qual me incluo, de denunciar o processo de globalização como aumento da exploração da mão de obra barata dos imigrantes ilegais, peças descartáveis do mercado de trabalho global e outras questões políticas que evidenciam que nem só de vantagens vivemos por estar expostos à globalização. O modelo desse tipo de narrador, no caso latino-americano, é Roberto Bolaño. Embora procure tratar essas questõesde maneira bem-humorada, minha escritura recente persegue, como o fez Bolaño em sua obra, a denúncia dessa situação, objetivo que firmemente acredito justificar a literatura que escrevo.
Promovido pela Embaixada Brasileira em Washington e realizado em conjunto com a Universidade de Georgetown, que o sediou, o evento se compôs de três painéis, cujo tema foi "A Nova Literatura Brasileira". Os debates contaram com a mediação de professores da Georgetown University e tiveram o formato de um diálogo que incluiu a platéia. Além de promover a nossa literatura nos Estados Unidos, cada escritor apresentou um pouco de sua obra para o público presente ao evento.
Esta foi a programação:
10h00 - 12h00 Lídia Santos e Bernardo Carvalho, com a mediação do professor Michael Ferreira;
13h30 - 15h15 Daniel Galera e Adriana Lisboa, com a mediação da professora Patrícia Vieira;
15h30 - 17h30 Moacyr Scliar, com a mediação do Professor Vivaldo Santos.
O blog do Oswaldo esteve presente lá. Foi nele que os professores e alunos de Georgetown encontraram meu conto “Vertigem”, que foi comentado pelo público, assim como “A Volta do Bruxo”, este último incluído no meu livro Os Ossos da Esperança. Partes do conto que deu título a esse livro, vencedor do Premio Radio France Internationale, e de um conto recente, “Música de Boi”, ambos traduzidos ao inglês, foram lidos por uma estudante da Universidade de Georgetown. O último conto, traduzido ao inglês com o título de “Cowboy Music”, sairá breve numa antologia de contos de escritores de língua portuguesa residentes nos Estados Unidos.
Citei publicamente a importância do blog no processo de divulgação da minha narrativa. Os escritores mais jovens trabalham muito bem com o formato, como se pode ver com Adriana Lisboa (http://www.adrianalisboa.com.br/, ou http://caquiscaidos.blogspot.com) e Daniel Galera (http://www.ranchocarne.org). Galera, no entanto, embora tenha construído sua carreira na Internet, diz que já se está distanciando dela. Preferiu ler partes do seu livro Cordilheira, premiado com o Jabuti. Adriana leu uma parte da tradução de seu livro Rakushisha, a ser lançada aqui nos Estados Unidos no ano que vem, revelando estar morando no estado americano do Colorado. Bernardo Carvalho nos brindou com a história paralela de Nove Noites: a do processo de sua escritura e das muitas viagens e contatos que fez para a realização desse e também do seu romance Mongólia.
O encerramento, com Moacyr Scliar, revelou a justiça de sua premiação com o Jabuti. Alicerçado nos seus 80 livros publicados, Moacyr é um orador brilhante e bem humorado, mesmo em inglês, língua em que, embora tenha dito não dominar, se expressou perfeitamente. Sua fala passou pelo “separatismo” dos gaúchos, tema levantado por Daniel Galera, também gaúcho, no painel anterior; da dificuldade – e responsabilidade - de escrever na época da ditadura e da esperança no Brasil, país que ele afirmou estar cada vez melhor e mais democrático. Como exemplo, citou a literatura escrita por índios brasileiros, recém apresentada na Academia Brasileira de Letras, da qual faz parte. Leu partes da tradução ao inglês do seu livro O Centauro do Jardim e dialogou por quase uma hora com o público.
Em minha opinião, essa primeira versão do festival cumpriu seu objetivo (a equipe da Embaixada brasileira pensa repetir anualmente o evento). Tivemos, nós e o público, a oportunidade de vivenciar a diversidade da literatura atualmente produzida no Brasil, esteja ele onde estiver. Uma das mais polêmicas perguntas a que tive que responder tinha como tema a globalização, fenômeno que eu havia identificado como algo que englobava todos os escritores presentes.
Tive que explicar a quem me fez a pergunta a falta de entendimento sobre o que eu queria dizer. Afirmei que concordava com sua afirmação de que globalização significa apenas “fluxo de capital”. Por outro lado, como processo irreversível, vem sendo usado de maneira estratégica, e com competência, pelos escritores. Se o mercado global, para justificar-se, necessita de tintas locais, isso abre a um escritor a possibilidade de colocar seu livro no mercado global sem antes passar pelo cânone nacional, ampliando também e espectro dos ambientes onde localizar suas tramas, caso, por exemplo, de Bernardo Carvalho, de Adriana Lisboa e de Daniel Galera, cujo último romance se passa em Buenos Aires.
No entanto, ressaltei, há também a necessidade, na qual me incluo, de denunciar o processo de globalização como aumento da exploração da mão de obra barata dos imigrantes ilegais, peças descartáveis do mercado de trabalho global e outras questões políticas que evidenciam que nem só de vantagens vivemos por estar expostos à globalização. O modelo desse tipo de narrador, no caso latino-americano, é Roberto Bolaño. Embora procure tratar essas questõesde maneira bem-humorada, minha escritura recente persegue, como o fez Bolaño em sua obra, a denúncia dessa situação, objetivo que firmemente acredito justificar a literatura que escrevo.
(Lídia Santos)
Obrigado pelas informações. Boa cobertura. Vou passar para os amigos. Importante!!!
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