terça-feira, 14 de julho de 2009

di CINEMA

por onde passará o seu pensamento,
por dentro da minha saia.

(adriana calcanhoto)

Primeiro, mandou-me uma sobrinha minha; agora manda-me uma amiga fotos de cinemas antigos desta cidade. EMOCIONANTE, diz a chamada. Mas o emocionante não foi escrito por elas, faz parte do pacote.
ESPANTADO foi como fiquei. Como podem ser apresentados como antigos os cinemas CARIOCA e AMÉRICA, ali na Sães Peña, se ainda há pouco estive lá com os meus filhos pequenos?!
Gosto dos cinemas antigos, mas também gosto dos cinemas atuais.
Antigamente, as sessões eram às duas, às quatro, às seis...ou às duas, às três e quarenta, às cinco e vinte... Podia-se entrar no cinema às duas e sair na hora do lobo. Podia-se entrar no meio da sessão, ver o filme do meio para o final e despois vê-lo do início para o meio. O expectador tinha a liberdade de transformar uma narrativa linear em não linear, ti nha a liberdade de fazer o seu flash-back.
Antigamente, comprava-se um saco de pipocas na carrocinha; agora, como os intervalos entre uma sessão e outra são maiores, a gente tem de ver um vassalo carregando para uma suposta princesa uma bandeja com sacos enormes de pipocas e refrigerantes.
Antigamente, tínhamos o azar, ou a sorte, de nos debruçarmos sobre a poltrona ao lado, porque o outro da frente nos impedia de ler a legenda. Agora como as poltronas estão dispostas em degraus e entre elas há um copeiro, temos de aturar o odor da pipoca e ouvir o chupão no canudo do refrigerante.
Mas os cinemas de hoje têm um bom som, uma acústica boa. Acho que isto sempre foi um atrapalho para o cinema brasileiro. O gênio rebelde gravava em som direto o filme que seria passado em salas pífias.
Os cinemas de hoje são pequenos, mas os grandes cinemas de antigamente tinham grandes filas.
Mas os melhores cinemas, de ontem ou de hoje, são aqueles que ainda têm poltronas no mesmo plano, sem degraus. Aqueles que ainda escondem, que ainda permitem que a mão boba percorra a namorada por dentro de sua saia.

Elesbão Ribeiro

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