Em Marrakesh
uma mulher me pegou pela mão:
guiava-me
nos vapores (sem ardores) do banho coletivo.
Nunca me esquecerei desse acontecimento:
o mistério desse espaço
fechado – mas difusamente iluminado,
onde corpos femininos,
diferentes de todos os que eu antes conhecera,
descansavam
depois da ablução.
Corpos reais:
curvas, banhas, tempo neles tatuado.
Corpos nus, corpos corpos,
corpos de mulher
por outras mulheres – e só por elas – vistos.
Naquele espaço fumoso e velado
onde se adentra com as retinas
reduzidas
pela luz inclemente do deserto:
o sol lá fora sempre (esse deus tão masculino)...
Lá dentro, protegidas, purificadas
e nuas,
as mulheres
percebem da vestida estrangeira
o espanto,
o medo talvez.
Uma delas - a mais velha - lhe oferece a mão,
como a dizer:
- Aqui estamos! És uma de nós, se achegue...
Nas minhas retinas
e no meu corpo fatigado
esse acontecimento
nunca será esquecido.
As mulheres de Marrakesh
estavam ali relaxadas.
Como também relaxam quando dançam.
Contorcionistas
de si mesmas e de sua espécie.
Fechei os olhos e as vi:
bailavam com esses mesmos corpos
- inusitados -
em diáfanos trajes,
com rebolados que em minha terra
também há
(mas diferentes).
Em círculos completos,
ou desenhando o infinito
(sem os pezinhos marcados da minha terra,
por exemplo).
Mas, por exemplo,
a sabedoria,
essa não diverge.
(Dizem que também há homens
contorcionistas no baile oriental.
Mas esses vão aos banhos em outras horas:
não os vi, nem me seria permitido).
Fico então
com o rebolado que conheco e reconheço
em corpos semelhantes ao meu.
Tentada a concluir
que requebros e rebolados
são artes femininas.
Mas a metáfora gasta não me satisfaz.
Se assim o fosse,
porque aquele homem sentado na porta dos públicos banhos,
em Marrakesh me disse:
- Entre, essa hora é para mulheres...
Ou porque esse amigo, homem bem homem
propõe o desafio do rebolado?
O grande mistério
é apenas quebrar-se o corpo que não requebra,
seja ele de homem,
seja ele de mulher.
(Não era uma pedra,era um rebolado mo meio do caminho).
(Lídia V. Santos
uma mulher me pegou pela mão:
guiava-me
nos vapores (sem ardores) do banho coletivo.
Nunca me esquecerei desse acontecimento:
o mistério desse espaço
fechado – mas difusamente iluminado,
onde corpos femininos,
diferentes de todos os que eu antes conhecera,
descansavam
depois da ablução.
Corpos reais:
curvas, banhas, tempo neles tatuado.
Corpos nus, corpos corpos,
corpos de mulher
por outras mulheres – e só por elas – vistos.
Naquele espaço fumoso e velado
onde se adentra com as retinas
reduzidas
pela luz inclemente do deserto:
o sol lá fora sempre (esse deus tão masculino)...
Lá dentro, protegidas, purificadas
e nuas,
as mulheres
percebem da vestida estrangeira
o espanto,
o medo talvez.
Uma delas - a mais velha - lhe oferece a mão,
como a dizer:
- Aqui estamos! És uma de nós, se achegue...
Nas minhas retinas
e no meu corpo fatigado
esse acontecimento
nunca será esquecido.
As mulheres de Marrakesh
estavam ali relaxadas.
Como também relaxam quando dançam.
Contorcionistas
de si mesmas e de sua espécie.
Fechei os olhos e as vi:
bailavam com esses mesmos corpos
- inusitados -
em diáfanos trajes,
com rebolados que em minha terra
também há
(mas diferentes).
Em círculos completos,
ou desenhando o infinito
(sem os pezinhos marcados da minha terra,
por exemplo).
Mas, por exemplo,
a sabedoria,
essa não diverge.
(Dizem que também há homens
contorcionistas no baile oriental.
Mas esses vão aos banhos em outras horas:
não os vi, nem me seria permitido).
Fico então
com o rebolado que conheco e reconheço
em corpos semelhantes ao meu.
Tentada a concluir
que requebros e rebolados
são artes femininas.
Mas a metáfora gasta não me satisfaz.
Se assim o fosse,
porque aquele homem sentado na porta dos públicos banhos,
em Marrakesh me disse:
- Entre, essa hora é para mulheres...
Ou porque esse amigo, homem bem homem
propõe o desafio do rebolado?
O grande mistério
é apenas quebrar-se o corpo que não requebra,
seja ele de homem,
seja ele de mulher.
(Não era uma pedra,era um rebolado mo meio do caminho).
(Lídia V. Santos
grande...grande e belo poema.
ResponderExcluirSe me permitem vou ligar este vosso blogue ao meu deliriospoeticos.blogspot.com
Caroi José Miguel,
ResponderExcluirtudo bom?
O poema é da Lídia Santos, uma das nossas colaboradoras. Ah, em tempo, passei a seguir os teus delírios poéticos,
Abraço,
Oswaldo
Lídia, enfim, um Drummond pra lá de Marrakesh. E tão lindo quanto o nosso aqui, que, quando muito, chegou pra lá de Itabira.
ResponderExcluirAbraços... vou frequentar esse site do Oswaldo.