Acabei de ler o DIÁRIO DE UM ANO RUIM de J. M. Coetzee. O livro – como a testar os limites da narrativa – desenvolve-se numa trama em que as opiniões do narrador vão se colocando e se modificando a partir do momento em que a segunda narrativa dá conta da relação entre o narrador e a digitadora de seus textos. Há um segundo desdobramento que vem a ser a terceira narrativa na qual a digitadora e seu companheiro conversam sobre o que escreve o narrador e digita a secretária. Homens de épocas diferentes, os dois duelam pela simpatia da Filipina. O que um diz, diz a respeito do que o outro desdiz. De uma escrita clássica sobre diversos temas, passa-se para a percepção do imediatismo econômico da contemporaneidade, para a percepção do que se deveria dizer a partir do senso-comum. Cada plano narrativo se desenvolve na página mesma em que um e outros se escrevem. Como ler? Devem-se seguir as opiniões até o final? Deve-se seguir a narrativa da Filipina? Seguir a o diálogo da digitadora e seu companheiro? Deve-se ler o livro três, quatro vezes? A escrita de Coetzee brinca com as opções do leitor.
(oswaldo martins)
(oswaldo martins)
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