antiode para gisele büdchen
para o elesbão que me deu o motivo
os rebolados das moças nas passarelas são rebolados que não contam. antes diria de tais rebolados – como de frangos ou frangas que quebram as asas – serem rebolados de gringos ou de sujeitos pouco afeitos, digamos,
aos rebolados da cama.
os rebolados mucamas
os rebolados da ante-câmara
são os rebolados das baianas,
das falsas baianas;
fatal, o rebolado da moça que, no ônibus,
ultrapassa com uma quebra de cintura ou de bunda
o obstáculo entre o trocador e o corpo –
melhor, quando tal rebolada atrai os olhos
sobre o espesso do corpo que se transforma em poema
e resta aos atônitos que olham
apenas no minuto clarão de si mesmo.
não, o rebolado
como diria bandeira,
do conde julião;
não, o rebolado
da opressão
mas o rebolado das belas tetas, dos belos e cheios, principalmente cheios, quadris
não o rebolado dos rebuçados americanos
– tylenóicos, aspirínicos, sonambúlicos, abulínicos, apolínios –
mas o requebrado das mulheres, sem mais.
os rebolados das bundas que ajeitam as calças para que elas modelem para que elas refaçam com mão e observação de artista a matéria do corpo que só a matéria sobrevive na imagem dionisíaca da mulher. desta matéria, o estupor – êxtase e entusiasmo – perene que, se foge à medida exata do deixar livre a bunda e prendê-la nos panos da calça, não mais permite ao rebolado
o seu rebolar
entretanto, quem mais afeito ao corpo vara, ao corpo büdchen, de rebolado não fala;
fala da imprecisão metódica com que os pós-corpos posam,
com que os pós corpos – estrelas – impõem como corpos.
descorpos que são a medida exata do nada cigarro
do nada bebida
do nada combustão
corpos que se espelham
em guatánamo
em gaza
nos guetos
um corpo vara é também um corpo político
que apaga do corpo o que do corpo urge
diria até que o que urge apagar está na periferia do corpo
em seus azedumes
no cancro, nos gazes, nas pústulas – na urina e fezes.
um corpo vara corre o risco de apagar o que o espírito faz urdir em segredo no corpo a incontenção do errôneo – do infarte,
da cantada,
da trepada
do tesão.
o corpo vara é um corpo limpo – assim mesmo como quando os generais mandavam limpar a casa, ou como quando os eugeniastas mandavam salvar a raça ou mesmo quando os aristocratas mandavam purgar o sangue – o corpo vara é um corpo canalha
um corpo vara não é um corpo marilim
não é corpo suicida, como o de carmem miranda
um corpo vara não vara madrugadas
não cai, não se desequilibra nem nunca leva porrada
um corpo vara é um corpo campeão
como o de uma vaca
não o corpo daquelas vacas palustres
que andam rebolando as ancas
que andam ruminado tesão
que essas antes de tudo
rebolam felizes
pelo que são
ou ainda o corpo égua
como os das gregas
como o das mulheres de dioniso
que relincham e põem a seus pés
o cortejo dos deuses
um corpo que rebola
permite-se ser cachorra
cadela
aluvião
um corpo que rebola
que quebra
requebra
seja no levantar da calça
seja no passar pela catraca da contenção
um corpo que rebola
que quebra
e requebra
é contra o corpo vara
é corpo social
derrisão
(oswaldo martins)
para o elesbão que me deu o motivo
os rebolados das moças nas passarelas são rebolados que não contam. antes diria de tais rebolados – como de frangos ou frangas que quebram as asas – serem rebolados de gringos ou de sujeitos pouco afeitos, digamos,
aos rebolados da cama.
os rebolados mucamas
os rebolados da ante-câmara
são os rebolados das baianas,
das falsas baianas;
fatal, o rebolado da moça que, no ônibus,
ultrapassa com uma quebra de cintura ou de bunda
o obstáculo entre o trocador e o corpo –
melhor, quando tal rebolada atrai os olhos
sobre o espesso do corpo que se transforma em poema
e resta aos atônitos que olham
apenas no minuto clarão de si mesmo.
não, o rebolado
como diria bandeira,
do conde julião;
não, o rebolado
da opressão
mas o rebolado das belas tetas, dos belos e cheios, principalmente cheios, quadris
não o rebolado dos rebuçados americanos
– tylenóicos, aspirínicos, sonambúlicos, abulínicos, apolínios –
mas o requebrado das mulheres, sem mais.
os rebolados das bundas que ajeitam as calças para que elas modelem para que elas refaçam com mão e observação de artista a matéria do corpo que só a matéria sobrevive na imagem dionisíaca da mulher. desta matéria, o estupor – êxtase e entusiasmo – perene que, se foge à medida exata do deixar livre a bunda e prendê-la nos panos da calça, não mais permite ao rebolado
o seu rebolar
entretanto, quem mais afeito ao corpo vara, ao corpo büdchen, de rebolado não fala;
fala da imprecisão metódica com que os pós-corpos posam,
com que os pós corpos – estrelas – impõem como corpos.
descorpos que são a medida exata do nada cigarro
do nada bebida
do nada combustão
corpos que se espelham
em guatánamo
em gaza
nos guetos
um corpo vara é também um corpo político
que apaga do corpo o que do corpo urge
diria até que o que urge apagar está na periferia do corpo
em seus azedumes
no cancro, nos gazes, nas pústulas – na urina e fezes.
um corpo vara corre o risco de apagar o que o espírito faz urdir em segredo no corpo a incontenção do errôneo – do infarte,
da cantada,
da trepada
do tesão.
o corpo vara é um corpo limpo – assim mesmo como quando os generais mandavam limpar a casa, ou como quando os eugeniastas mandavam salvar a raça ou mesmo quando os aristocratas mandavam purgar o sangue – o corpo vara é um corpo canalha
um corpo vara não é um corpo marilim
não é corpo suicida, como o de carmem miranda
um corpo vara não vara madrugadas
não cai, não se desequilibra nem nunca leva porrada
um corpo vara é um corpo campeão
como o de uma vaca
não o corpo daquelas vacas palustres
que andam rebolando as ancas
que andam ruminado tesão
que essas antes de tudo
rebolam felizes
pelo que são
ou ainda o corpo égua
como os das gregas
como o das mulheres de dioniso
que relincham e põem a seus pés
o cortejo dos deuses
um corpo que rebola
permite-se ser cachorra
cadela
aluvião
um corpo que rebola
que quebra
requebra
seja no levantar da calça
seja no passar pela catraca da contenção
um corpo que rebola
que quebra
e requebra
é contra o corpo vara
é corpo social
derrisão
(oswaldo martins)
Gostei de descobrir teu blog. Ótimo manejo das palavras e poemas bem bacana. Fiquei curioso pelos nus masculinos. De repente, Travessa.
ResponderExcluirUm abraço,
Ai vai ele:
ResponderExcluirGostei do muito do seu poema. O mote do Elesbão deu um salto com seu poema. A fusao do trabalho formal sugerido pela palavras do mote + palavras “reles”, no sentido de H. de Campos, com a crítica ferina ao corpo/sexualidade da era anorexica que vivemos, resultou “massa”’, como se dizia quando sai do Brasil.
Lídia Santos