quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O Cristo de Eugênio

Eugênio Hirsch várias vezes nos visitou em casa. Com seu jeito peculiar de ver o mundo, nos ensinou muitas coisas, a todos. Lembram-se com carinho dele meus filhos, Walnice e eu. Um dia, desses perfeitos que o passado nos cria e faz sentir saudade dele, convidei-o a ir a Barbacena para corrermos o barroco mineiro. Tiradentes, São João e Congonhas – não deu para esticar até Ouro Preto, pena.

Armou-se o amigo de desenhos feitos por ele para presentear a casa de meus pais. Levou uma montagem com a figuração da Pietá com recordes feitos por ele mesmo. Era uma interpretação livre – Zélia Cardoso era a Madona que amamentava um garboso Grande Otelo de Cristo, com uma bela e portentosa atriz, de que não me lembro agora do nome, de cupido. E para meu pai um Cristo na cruz com um pau enorme e ereto, também em montagem de imagens de revistas.
A conversa e explicação da imagem para meu pai foi uma conversa a Eugênio.

Ah, sim – dizia – ele (o Cristo) era do carajo. O fato de ter comido Madalena e algumas outras merecia uma homenagem e como toda pessoa ao morrer tem a rigidez peniana não poderia ser de outra maneira que se podia retratá-lo na cruz. E daí decorria sobre a arte clássica com enorme fervor e sacanagem, temperados pelos ah, sim, que soavam musicalmente nos nossos ouvidos.


(oswaldo martins)

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