Oswaldo Martins. Poeta e professor de literatura. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório
domingo, 29 de março de 2015
sexta-feira, 27 de março de 2015
sábado, 21 de março de 2015
Sobre uma gravura de Picasso
para bárbara martins
o fauno e a bailarina
não dançavam
mas a dança
que iludiam
iludia
a menina
destes olhos
(oswaldo martins - minimalhas do alheio)
o fauno e a bailarina
não dançavam
mas a dança
que iludiam
iludia
a menina
destes olhos
(oswaldo martins - minimalhas do alheio)
nelsinho 2
para dalton trevisan
depois do banho
penteou o cabelo com brilhantina glostora
refrescou a garganta com cepacol
ajeitou a gravata borboleta
saiu para mais um estupro
elesbão ribeiro
15/ 03/15
sábado, 14 de março de 2015
Pilulinha musical 2
Escuto a música
de Paulo Cesar Pinheiro há muito tempo. Desde
minha adolescência, vivida em Barbacena, quando o Bernardino me apresentou um
álbum do Eduardo Gudim, lá pelos idos dos ano
70. Havia neste álbum músicas antológicas, como A
velhice da porta-bandeira. Desde então, escuto as músicas do compositor.
Mais tarde
descobri a parceria com João Nogueira, com Baden, e uma infinidade de parceiros tão distintos,
como os mais afeitos ao samba – Mauro Duarte, Wilson das Neves – e os que compõem a mais legítima
música popular brasileira, como Tom Jobim, Guinga e Edu Lobo. A parceria com Guinga é bem mais antiga do que
possa supor a atual fama e sucesso – merecidos aliás – do compositor de Vila
Valqueire.
Sempre me espantou
a capacidade de bordar a melodia com versos definitivos, perfeitos. Quem ouviu
agravação de Monica Salmaso da música Fim dos
tempos sabe do que estou falando. Entretanto,
me incomoda – puta que o pariu – algumas questões. Sempre soube elas que eram
muito, mas muito bem resolvidas, mas que seguiam um padrão do já lido, ou mesmo
um saudosismo frequente ou a questão, que nunca resolvi no compositor, de uma
religiosidade meio travadora que às vezes barra a proposição agressiva das
composições. Quem ouviu O importante é que nossa emoção
sobreviva haverá de ter sentido esse mesmo desconforto.
Sou implicante,
eu sei. Gosto desconfiando , mas gosto.
(oswaldo
martins)
segunda-feira, 9 de março de 2015
Pilulinha 42
O romance de
Herta Müller, editado pela Cia. das Letras, em 2013, apresenta um ambiente
tenso e inconcluso. As frases curtas, o espaço sufocante da inação aos poucos se
descortina para o leitor que deixa de ler as ilações cabíveis e se deixa encontrar
na pura construção da linguagem.
A falta de
opções, a corrupção, os favores inconfessáveis se entrelaçam na pequena aldeia
romena, que tem como única possibilidade atentar para a finalidade em si mesma
fechada e sem sonhos. Comer ou não comer, preparar as pequenas rações devidas
de forma indevida ao outro, trepar ou não trepar, prostituir-se ou não se
prostituir fazem parte de um espaço cujo sonho se coloca fora daquele espaço
restrito da aldeia.
Refletindo a
presença estrangeira e a vida sob a ditatura de Ceausescu, O Homem é um Grande Faisão no Mundo é um romance cuja
principal virtude está em não nomear em momento algum as raízes de onde provém
a ficção, mas em nomear as ações que se escondem sob a capa da impossibilidade
gerada por aquilo que não se nomeia, tornando-a mais presente e insuportável.
A escrita
literária, e Herta Müller a compreende com maestria, é tanto mais eficaz quanto
mais faz o leitor mergulhar num paradoxo cuja temporariedade é intemporal, quase
como nas dobras do que as palavras dizem.
(oswaldo
martins)
o capote
1
o capote anda pela cidade
nada há nele
nem o braço nem a pança
de alguém
anda com sua alma de vento
2
com sua alma de vento
ginga nas gafieiras
o busto das estátuas
são seu estuário
o capote é uma figura ingente
3
esta figura ingente
abarca com as mangas
os quadros dos museus
e furta uma carícia
à moça que olha o quadro
4
a moça que olha o quadro
sente nas coxas o olhar
os braços do capote
que a enlaçam
mais de perto a moça olha
5
a moça mais perto olha
já não vê o quadro
nada e ninguém
apenas o comichão
toma lhe a as partes
6
as partes da moça
se molham e o quadro ali
já não dispunha-se a ser
olhado o capote queria
avultar-se em em ação
7
a violência do capote
derruba a moça
faz os olhos pasmos
saltam os botões da blusa
o capote guarda-os no bolso
8
as pernas da moça se mexem
lentamente sobe-lhe a saia
e a mão com força abre
os lábios e geme
o capote deita-se sobre
9
a moça percebe a luz
que a envolve e entontece
o quadro gira na cidade
escura e o capote pontua
a cena dos visitantes
10
o capote com sua luz
constrói a desilusão
de quem a cidade toma
por cidade o capote por
capote e o quadro por museu
(oswaldo martins)
terça-feira, 3 de março de 2015
Sobre o poema seco de Luiz Fernando Medeiros
Uma teoria do medalhão tensa, sem
gestos dadivosos, o discípulo e seu discípulo despem e revestem a autoridade.
Mestres calados solitários, solidários, bode e onça das crendices cretinas,
entram em canoa manjada. Disse e crendice rimam, versículos, essas destrezas
verbais que irrigam a goela dos cantores.
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