1
o capote anda pela cidade
nada há nele
nem o braço nem a pança
de alguém
anda com sua alma de vento
2
com sua alma de vento
ginga nas gafieiras
o busto das estátuas
são seu estuário
o capote é uma figura ingente
3
esta figura ingente
abarca com as mangas
os quadros dos museus
e furta uma carícia
à moça que olha o quadro
4
a moça que olha o quadro
sente nas coxas o olhar
os braços do capote
que a enlaçam
mais de perto a moça olha
5
a moça mais perto olha
já não vê o quadro
nada e ninguém
apenas o comichão
toma lhe a as partes
6
as partes da moça
se molham e o quadro ali
já não dispunha-se a ser
olhado o capote queria
avultar-se em em ação
7
a violência do capote
derruba a moça
faz os olhos pasmos
saltam os botões da blusa
o capote guarda-os no bolso
8
as pernas da moça se mexem
lentamente sobe-lhe a saia
e a mão com força abre
os lábios e geme
o capote deita-se sobre
9
a moça percebe a luz
que a envolve e entontece
o quadro gira na cidade
escura e o capote pontua
a cena dos visitantes
10
o capote com sua luz
constrói a desilusão
de quem a cidade toma
por cidade o capote por
capote e o quadro por museu
(oswaldo martins)
Nenhum comentário:
Postar um comentário