A
Poem
Wisława
Szymborska
July
10, 2014 Issue
Nothingness
unseamed itself for me too.
It
turned itself wrong side out.
How
on earth did I end up here—
head
to toe among the planets,
without
a clue how I used not to be.
O
you, encountered here and loved here,
I
can only guess, my arm on yours,
how
much vacancy on that side went to make us,
how
much silence there for one lone cricket here,
how
much nonmeadow for a single sprig of sorrel,
and
sun after darknesses in a drop of dew
as
repayment—for what boundless droughts?
Starry
willy-nilly! Local in reverse!
Stretched
out in curvatures, weights, roughnesses, and motions!
Time
out from infinity for endless sky!
Relief
from nonspace in a shivering birch tree’s shape!
Now
or never wind will stir a cloud,
since
wind is exactly what won’t blow there.
And
a beetle hits the trail in a witness’s dark suit,
testifying
to the long wait for a short life.
And
it so happened that I’m here with you.
And
I really see nothing
usual
in that.
—Translated
from the Polish by Clare Cavanagh
Um
poema
O
nada se descosturou para mim também.
Virou
o avesso para o lado direito.
Por
que cargas d’água eu, da cabeça
Aos
pés, vim parar por aqui entre planetas,
Sem
pista sobre como eu costumava não ser.
Você
– encontrado aqui e aqui amado −,
Apenas
posso adivinhar, abraçados os dois,
Em
quanto vazio nos imiscuímos para nos fazer,
Quanto
silêncio por lá para um gafanhoto solitário por aqui,
Quanto
alagadiço seco para um único ramo de azeda,
E,
para o acerto de contas, o sol numa gota de orvalho
Depois
da escuridão – para que as infindáveis secas?
Assim-assim
estrelado! Paroquiano ao avesso!
Refestelado
em curvas, cargas, asperezas e movimentos!
O
tempo apossado do infinito para o céu infindável!
O
bem-estar do acanhado na silhueta da bétula friorenta!
Agora
ou nunca o vento irá alvoroçar uma nuvem,
Porque
o vento é tudo o que não soprará por lá.
E
a joaninha sai em viagem pelo terno escuro duma testemunha,
Evidenciando
para tão curta vida a longa espera.
E
acontece que estou aqui contigo.
E
na verdade não consigo ver nada
De
habitual nisso.
Tradução
Silviano Santiago
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