quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Memórias esotéricas 4


Fui moça do balacobaco. Os babacas me seguiam na rua com os olhos, um chiste aqui outro acolá me fazia sorrir, principalmente se acompanhada de alguém. Usava vestidos bem curtinhos, as pernas à mostra, feliz de provocar e poder escolher. Muitas vezes andava sem calcinha, fazia pose para que me vissem. Meu corpo dispunha de todas as artes liberais – era uma enciclopédia do sexo e gostava disso.

Comprei um Karmanguia vermelho conversível e deixava os cabelos – que os usava ondulados e soltos – ao vento. Ao chegar em Copacabana, recostava-me em seu para-lama e fazia cara de quem não quer nada e pode tudo, uma perna decaída para o chão a outra recolhida, abraçada por minhas mãos de unhas longas e vermelhas. Era moda fazer-se de pin up. Muitas tinham vergonha o que era uma vantagem a mais no combate feroz pela alegria.

A vida para mim sempre foi conduzida por essa busca; ainda agora neste exílio do mundo, busco reavivar as boas lembranças, afinal cri nelas e posso fazer com que as mocinhas de agora saibam que o importante na vida não é correr feito loucas atrás da tão maldita segurança – seja através do casamento ou do trabalho. Já dizia o Aretino, escritor libertino do século XVI, que a profissão mais atraente para uma mulher aceder ao poder é de cortesã.

(Jurema Silva)

Um comentário:

  1. Oswaldo,

    bela narrativa! Manda um email para a Jurema e vê se ela não que postar também no TextoTerritório.

    Grande abraço,

    Alexandre

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