A ocorrência da poesia e da literatura em minha vida foi quase concomitante com o aparecimento da leitura. A primeira vez que li um poema percebi que não poderia mais fugir de seu circulo lógico, do que descobrira através desta linguagem específica. De imediato, pensei que meu destino estava traçado. Não escrevi de imediato, demorei mais ou menos uns seis meses para escrever algumas palavras. O choque havia sido tremendo e necessitava me acostumar a ele, em outras palavras, necessitava ler. Li Drummond, Bandeira, Cabral, Vinícius, Murilo Mendes, Neruda. Foram meus primeiros poetas e os iniciadores de minha perspicácia quanto a linguagem. À prosa estava já meio que acostumado, pois era leitura mais corrente lá em casa. Havia diversos livros que meu pai lia e que eu pegava para ler. A poesia para mim, embora já houvesse tido notícias dela, era outra coisa. A prosa lia por gosto, a poesia por urgência vital. Creio ter sido esta a diferença inicial.
A percepção de uma lógica poética demarcou desde este início a necessidade de aprendizagem. Ao contrário do que se supõe a todo iniciante do ato poético, que se aproxima da linguagem como um inspirado, para mim escrever versos demandava outro viés. O do trabalho e do estudo. Intuía que para poder chegar a fazer alguma coisa que prestasse deveria ler e aprender. Educar a sensibilidade. Assim venho fazendo com meus versos durante toda a vida.
Não é fácil tornar-se poeta. A poesia deve fugir de toda sombra dos lugares comuns, deve se dar como ficção e desconstruir nosso eu que teima em penetrar por suas brechas. Condensar o máximo de significados e um mínimo de símbolos – mesmo os poemas longos, como as epopéias, são criados a partir desta contenção intencionada e vão muito além do que a letra mostra. Aprender a dizer sem dizer, a significar sem fazer significar, a incomodar o leitor e a seduzi-lo, num só impulso.
Não nasci poeta, criei-me poeta porque necessitava da poesia para fazer-me sobreviver ante o assombro de sua leitura. Hoje não vivo sem ela. De tal modo é inconsequente essa aliança que me fundi, amalgamei-me ao seu império. Gosto de dizer as coisas com claridade. Se hoje sou professor e figura física, apenas o sou porque me toca a capacidade de ler e fazer ler esse universo que é um mundo em sim mesmo – como uma cosmologia imprecisa, a poesia me toma e matiza todas as coisas que existem fora dela. O mundo se torna o próximo poema possível.
(oswaldo martins)
A percepção de uma lógica poética demarcou desde este início a necessidade de aprendizagem. Ao contrário do que se supõe a todo iniciante do ato poético, que se aproxima da linguagem como um inspirado, para mim escrever versos demandava outro viés. O do trabalho e do estudo. Intuía que para poder chegar a fazer alguma coisa que prestasse deveria ler e aprender. Educar a sensibilidade. Assim venho fazendo com meus versos durante toda a vida.
Não é fácil tornar-se poeta. A poesia deve fugir de toda sombra dos lugares comuns, deve se dar como ficção e desconstruir nosso eu que teima em penetrar por suas brechas. Condensar o máximo de significados e um mínimo de símbolos – mesmo os poemas longos, como as epopéias, são criados a partir desta contenção intencionada e vão muito além do que a letra mostra. Aprender a dizer sem dizer, a significar sem fazer significar, a incomodar o leitor e a seduzi-lo, num só impulso.
Não nasci poeta, criei-me poeta porque necessitava da poesia para fazer-me sobreviver ante o assombro de sua leitura. Hoje não vivo sem ela. De tal modo é inconsequente essa aliança que me fundi, amalgamei-me ao seu império. Gosto de dizer as coisas com claridade. Se hoje sou professor e figura física, apenas o sou porque me toca a capacidade de ler e fazer ler esse universo que é um mundo em sim mesmo – como uma cosmologia imprecisa, a poesia me toma e matiza todas as coisas que existem fora dela. O mundo se torna o próximo poema possível.
(oswaldo martins)
Nenhum comentário:
Postar um comentário