quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Dois textos do Cesar Cardoso

NASCER

O ovo é o câncer da galinha. A galinha é o passado da canja. A canja é o efeito colateral da gripe. A gripe é o escritório do termômetro. O termômetro é o símbolo fálico do suvaco. O suvaco é uma axila que não tem erudição. A erudição é um cachorro sem mato. O mato é o cabelo da terra. A terra é o apartamento da minhoca. A minhoca é o desejo do peixe. O peixe é o homem da água. A água é uma invenção da sede. A sede é uma fome em forma de líquido. O líquido às vezes é um tipo de liquidação. A liquidação é a literatura do extermínio. O extermínio é o gozo do poder. O poder é o sorriso da mordida. A mordida é o sexo do dente. O dente é o nocaute do vampiro. O vampiro é a porção voadora da masturbação. A masturbação é o consumo do sonho. O sonho é a Marilyn Monroe do sono. O sono é o provisório do eterno. O eterno é a desculpa esfarrapada de deus. Deus é o almoxarifado do medo. O medo é o garfo e a faca da coragem. A coragem é o sexto mandamento do cinema. O cinema é o pânico da pipoca. A pipoca é a borboleta do milho. O milho é uma civilização. A civilização é um parto partido ao meio. O meio nunca é igual a seu irmão. O irmão é a diferença da repetição. A repetição é o aprendizado e sua morte. E a morte é o fim botando um ovo.


QUANDOS E ONDES

A pátria é o medo com fronteiras, a fronteira é a pior distância entre dois pontos, o ponto é um final circular, o circulo é um triângulo que rodou o mundo, o mundo não é nada mais o resto, o resto é a mais valia da aritmética, a aritmética não é o que conta, contar é o emprego da palavra, a palavra é um coelho na cartola da língua, a língua é o bumerangue do camaleão, o camaleão é o mostruário de tinta da natureza, a natureza é o cachorro de deus, o cachorro é um vibrador que abana o rabo, o rabo é o final de todos os bois, o boi é o passado do bife, o bife de hoje é o câncer de amanhã, o câncer é o reencontro da família, a família é a metástase da reprodução, a reprodução é o turismo do espermatozóide, o espermatozóide é a pré-história da saudade, a saudade é a mentira da memória, a memória é a cirurgia plástica do esquecimento, o esquecimento é o band-aid do ódio, o ódio é o mesmo lado da moeda, a moeda é o chocolate do tio Patinhas, o tio Patinhas é a Monalisa que tampa o cofre, o cofre é o sexo metálico, o sexo é um automóvel nas curvas, a curva é a mais bela distância entre dois pontos, a distância é o bate-boca entre o longe e o perto e perto é a fronteira sem pátria.


Cesar Cardoso

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