Para Cesar Cardoso, presente na cadência do samba
Muitos são os sambas, muitas a cadências. Carlos Cachaça, Nélson Cavaquinho. Cartola. Geraldo Pereira. Nelson Sargento. Lembro-me quando os ouvi pela primeira vez. Um espanto. Como podia? Os menestréis me davam resposta em seus próprios sambas, na elocução com que escandiam cada sílaba, cada acorde. Fiquei e fico parado ouvindo, como uma unção. O samba em Mangueira.
Gosto de ouvir música sem luz ambiente, em treva total. Mergulhado no significado, construção daquilo que ouço. Já ouviram o violão do Nelson Cavaquinho? Só o violão, abstraindo o canto? É como um mergulho na loucura, nas ficções mais complexas já criadas pelo homem. E tudo é tão simples.
Depois Oswaldo Cruz. Monarco, Mijinha, Casquinha, Argemiro. Os Paulos. Outro espanto. Outra unção. Os homens rudes de meu país são pessoas delicadas, capazes da transparência mais ousada do sentimento humano. Pedreiros, forjadores, lavadores de carro, figuras do ruído urbano transformado. Tudo tão límpido, claro com que ao alcance da mão.
Depois ainda a Serrinha. Unção. Espanto. Dona Ivone Lara, Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola. Wilson das Neves. A extrema função do batuque, do acompanhamento de fundo de quintal, como uma bateria potente de ritmos insuspeitados. A voz dos ex-escravos. Da nobreza do samba. Já ouviram a limpidez da voz de Dona Ivone? O requebro de cabrocha soando em nossos ouvidos, retinindo como o cristal dos corpos em requebro sonoro.
Apaguem depois os violões, os pandeiros, as cuícas. Ouçam a voz com que cantam nossos cantores. Dizia o Nelson Cavaquinho que achava sua voz uma voz que melhor cantava, pois recriava o ambiente da emoção da criação. Do porre, da sujidade embelezada pela angústia, pelo trágico movimento dos homens pela cidade, saudosos, ressequidos e abandonados.
Um parêntese para a voz madura, já envelhecida, dos que entraram em estúdio tardiamente, no canto sublime de Guilherme de Brito. Meu deus! A beleza se revela de forma integral.
(oswaldo martins)
Muitos são os sambas, muitas a cadências. Carlos Cachaça, Nélson Cavaquinho. Cartola. Geraldo Pereira. Nelson Sargento. Lembro-me quando os ouvi pela primeira vez. Um espanto. Como podia? Os menestréis me davam resposta em seus próprios sambas, na elocução com que escandiam cada sílaba, cada acorde. Fiquei e fico parado ouvindo, como uma unção. O samba em Mangueira.
Gosto de ouvir música sem luz ambiente, em treva total. Mergulhado no significado, construção daquilo que ouço. Já ouviram o violão do Nelson Cavaquinho? Só o violão, abstraindo o canto? É como um mergulho na loucura, nas ficções mais complexas já criadas pelo homem. E tudo é tão simples.
Depois Oswaldo Cruz. Monarco, Mijinha, Casquinha, Argemiro. Os Paulos. Outro espanto. Outra unção. Os homens rudes de meu país são pessoas delicadas, capazes da transparência mais ousada do sentimento humano. Pedreiros, forjadores, lavadores de carro, figuras do ruído urbano transformado. Tudo tão límpido, claro com que ao alcance da mão.
Depois ainda a Serrinha. Unção. Espanto. Dona Ivone Lara, Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola. Wilson das Neves. A extrema função do batuque, do acompanhamento de fundo de quintal, como uma bateria potente de ritmos insuspeitados. A voz dos ex-escravos. Da nobreza do samba. Já ouviram a limpidez da voz de Dona Ivone? O requebro de cabrocha soando em nossos ouvidos, retinindo como o cristal dos corpos em requebro sonoro.
Apaguem depois os violões, os pandeiros, as cuícas. Ouçam a voz com que cantam nossos cantores. Dizia o Nelson Cavaquinho que achava sua voz uma voz que melhor cantava, pois recriava o ambiente da emoção da criação. Do porre, da sujidade embelezada pela angústia, pelo trágico movimento dos homens pela cidade, saudosos, ressequidos e abandonados.
Um parêntese para a voz madura, já envelhecida, dos que entraram em estúdio tardiamente, no canto sublime de Guilherme de Brito. Meu deus! A beleza se revela de forma integral.
(oswaldo martins)
Nenhum comentário:
Postar um comentário