sábado, 5 de julho de 2008

Da amizade 1

para ronald iskin


A celebração dos cem anos de morte de Machado de Assis tem dado lugar a uma série estapafúrdia de episódios. Publicações estranhas e desnecessárias. Falatórios. Pequenos fuxicos. Arrematadas besteiras. Citações sobre o óbvio. Concursos. Do que vi publicado na imprensa, apenas me interessou o texto em que Silviano Santiago analisa o Instinto de Nacionalidade. Espanta-me, assusta-me e me entristece a ausência de referências a uma das mais lúcidas análises da obra machadiana, feita por Luiz Costa Lima no texto “Sob a face de um Bruxo”, publicado em 1981. Sorrio, entretanto, com a capacidade destes dois mestres.

Em conversa com meu amigo Ronald, relembrávamos o belo texto. A releitura deste texto fundamental fez-me lembrar dos belos cursos oferecidos pela Letras da PUC-RJ, entre 1979 e 1984. O privilégio de ter sido aluno de Luiz, de Silviano, do Jorge Fernandes foi meu, de Dora, de Ronald e de tantos outros que aprendemos a partir da lucidez, da ironia com que conduziam suas aulas e críticas.

O curso de criação literária, ministrado por Silviano, nos aparelhou para que crescêssemos e amadurecêssemos a vontade de escrita. Foi neste curso que tivemos a primeira medida da escrita profissional e cumprimos os ritos da amizade que nos coloca em um lugar especial de referências pessoais. Ponhamos. Ou o curso em que Luiz Costa Lima nos fez ler, perceber e medir a seriedade com que João Cabral criava a poesia, dando-nos a medida do possível, a certeza de que valia a pena fazer o que fazíamos. Ou o curso sobre Machado, no qual esquadrinhamos – a partir do Sob a face de um bruxo – as possibilidades de outra constituição de sentido para a literatura.

Tudo isso misturado ao belo grupo de estudo sobre teoria de literatura de que fazíamos parte Dora, Ronald, Rachel, Márcia, Liana e eu. Parafraseando Mário, a partir de Pedro Nava. Saudade.

(oswaldo martins)

Um comentário:

  1. Querido amigo, você é generoso até no relato das suas próprias memórias. Obrigada por lembrar e me incluir nessa recordação. Fez-me pensar em como a minha cabeça era inculta e hoje continua na mesma. beijo.

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