segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

domingo, 29 de dezembro de 2019

Sijô, poesia coreana anônima

Sem calendário
em meio às montanhas
não sei da mudança
das estações

Quando floresce
é primavera
Quando caem folhas
é outono

E quando as crianças pedem roupas grossas
sei que é inverno

(Tradução Yun Jung Im)

Regresso

Dijo ella,
No vuelvas solo a cumplir con tu palabra.
Así vuelven los que
Se hastían de
Ser impotentes
Y solos en su distancia

Sigue,
Sacia tu sed en cada arroyo,
Cualesquiera que sean los ojos que seduces,
Los corazones que tientas.

Pero,
Cuando se encienda e ilumine
La llama
De tu deseo hacia mí,
Y suplique tu corazón
Entonces
Debes regresar.

(ahmed faraz)

sábado, 28 de dezembro de 2019

Grupo de leituras para 2020


Livros e datas para as leituras do ano de 2020 – primeiro semestre

Fevereiro

Datas

1 – Com o diabo no corpo – Radiguet – França (Novela) 04/02 e 11/02
2 – O Melro e outros escritos – Roberto Musil – Áustria (Contos) 18/02 e 03/03

Março

3 – Tonio Kroeger Thomas Mann – Alemanha (novela) 10/03 e 17/03
4 – As nuvens – Juan Jose Saer – Argentina (romance) 24/03 e 31/03

Abril

5 – Sapé – Josoaldo Lima Rêgo – Brasil (poesia) 07/04 e 14/04
6 – Intimidade – Hanif Kureishi – anglo-paquistanês (romance) 28/04 e 05/05

Maio

7 – Um grão de trigo – Ngugi wa Thiong'o – Quênia (romance) 12/05 e 19/05
8 – EREC Y ENIDE -Manuel Vázquez Montalbán Espanha (romance) 26/05 e 02/06

Junho

9 – O fantasista – Hernan Rivera Lentelier – Chile (romance) 09/06 e 16/06
10 – Alguma Coisa Negro - Jacques Roubaud – França (poesia) 23/06 e 30/06

Interessados entrem em contato pelo zap (21) 981438622

Oswaldo Martins

A maneira de ungaretti

certos olhos semelham matinas
celebram o universo em cursos
d'água

(oswaldo martins)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Em caminho a casa

El camino a casa´

 Es tan fácil encontrar el camino a casa…

Cerca del arroyo,
donde una pluma flota,
pasar sobre la cerca,
tomar el atajo de la era,
detenerse en el puente,
sobre la rugiente presa
buscar para la espuma la palabra adecuada
arrojarla de nuevo
y andar,
andar,
hacerse un bastón en el camino,
contar las estrellas,
perderse en el bosque,
empujar la oscuridad
como un carro de heno
y oír como el eje que guía
el lamento en sueños de los pájaros.

Es tan fácil encontrar el camino a casa…

domingo, 22 de dezembro de 2019

só a sintaxe nos salva



1

sintaxes servem de antepasto os silêncios aos corpos põem e dispõem habilidade tal que o universo se pressente nos amplos buracos negros se abrem como afeitos fossem ao gozo de adão e eva fodendo no paraíso.

2

poetas alguns deles amam as palavras servem para ditar o ritmo o equilíbrio sonoro de um peido balança medido entre o silêncio e o ruflar das bandas se sacode minete de peito farto arrostando consigo os orelhas mais amigos.

3

à semântica se pegam debaixo dos laranjais poetas cruzam a infância merencória da pátria sem tempo ou espaço preferem o comezinho dos sentimentos expande uma dor aqui uma prisão ali chamando a dom pedro paipai.

(oswaldo martins)


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Walt Whitman


Aos que falharam

Aos que falharam, grandes na aspiração,
aos soldados sem nome caídos na vanguarda do combate,
aos calmos e esforçados engenheiros, aos pilotos nos barcos,
aos super-ardorosos viajantes,
a tão sublimes cantos e pinturas sem reconhecimento
– eu gostaria de erguer um momento coberto de louros
alto, bem alto, acima dos demais:
A todos os truncados antes do tempo,
arrebatados por algum estranho espírito de fogo,
tocados por morte prematura.

.

To Those Who’ve Fail’d.

To those who’ve fail’d in aspirations vast,
To unnamed soldiers, fall’n in front, on the lead,
To calm, devoted engineers, to over ardent
travellers, to pilots on their ships,
To many a song and picture without parturition,
I’d rear a laurel cover’d monument
High, high above the rest—to all cut off before
their time,
Possess’d by some great spirit of fire
Quenched by an early death.


– Walt Whitman, em “Folhas de Relva”. [seleção e tradução Geir Campos; ilustrações Darcy Penteado]. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1964; 2002.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

cosmologia do impreciso leituras

Amante escuálido.

Amante escuálido
El hijo de Cándida
Es un ser misterioso y escuálido
Que llegó a mi madrugada ebria
Con aire sur.
Amante de Francesca Woodman,
Amante mío.
De la oscuridad
Perturba-me
Aquel lado del seno
Hecho para sentir
Me entró con demasiada luz
Por los poros abiertos
Puso proa en mi jardín
De histerias mal remuneradas
Su obturador pasó a ser mi tormento…
Ser escuálido, no llegues
A mi fiesta
Vestido así.
No estoy lista
Tengo apuntes y brebajes hirsutos
Para el buen dormir.
No vengas
Mi reino puede ser demasiado común.
Darcy Borrero Batista (Palma Soriano, Santiago de Cuba, 1993). Graduada de Periodismo por la Universidad de La Habana y egresada del Centro de Formación Literaria Onelio Jorge Cardoso.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

entrevista

Umberto Saba

A Cabra

Falei com uma cabra.
Sozinha no prado, amarrada.
Saciada de erva, molhada
pela chuva, balava.

Aquele balido era fraterno
à minha dor. E eu respondi, primeiro
por graça, depois porque o sofrer é eterno,
tem uma voz não vária.
Esta voz senti
gemer naquela cabra solitária.

Numa cabra de perfil semita
senti que se queixavam outros males,
os da vida infinita.

La Capra

Ho parlato a una capra.
Era sola sul prato, era legata.
Sazia d"erba, bagnata
dalla pioggia, belava.

Quell"uguale belato era fraterno
al mio dolore. Ed io risposi, prima
per celia, poi perché il dolore è eterno.
ha una voce e non varia.
Questa voce sentiva
gemere in una capra solitaria.

In una capra dal viso semita
sentiva querelarsi ogni altro male,
ogni altra vita.

sábado, 14 de dezembro de 2019

brasil


o sargento-ajudante do 39. °
listras vermelhas de fardas
trincheira sinistra de corpos

últimos casebres submersos
o arremesso de um quadro
horror tangível dos mortos

mar e serão as vozes findas
atonia e assombro hosco
velho homens feitos criança

abra-se o livro da desdita
acentue-se a vertigem

que vive nos ossos
a abstrusa história

(oswaldo martins)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O helicóptero




Wesley Duke Lee (São Paulo, SP, 1931- 2010)
O helicóptero, 1968. Instalação
Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Antiodes

Quando as estruturas culturais sofrem os ataques mais sórdidos, quando seus agentes são postos como párias sociais, quando o próprio sentido de cultura é atacado e achincalhado, quando os detentores do poder propõem uma destruição tanto mais maciça quanto mais à margem do processo civilizatório, é necessário não calar, é necessário reagir e construir elementos de reflexão que combatam a arbitrariedade, o descaso e a ânsia por assassinar a todos que divergem do núcleo central de um pensamento único e falseador.”

(Oswaldo Martins entrevista sobre as Antiodes, para o jornal Tribuna de Minas, Juiz de Fora)

Veja integra da entrevista no link abaixo:

https://tribunademinas.com.br/blogs/sala-de-leitura/10-12-2019/oswaldo-martins-o-poeta-deve-ser-um-monstro-preenchido-de-sentidos.html

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Poesia catalã


Mula morta

Per què tremoles quan dius que m’estimes?
Per les trenta monedes?
Tremoles com qui viure?
O bé fremeixes pel costum del mal?
L’amor existeix, i és fort, i brilla,
i desafia el pes del cos,
el pes del vespre, el pes exagerat
dels anys que ens resten encara per viure.
L’amor existeix, però s’allunya
de la  gent com nosaltres, amor meu. [1]

(Sebastià Alzamora, Mula Morta)

*

Por que tremes quando dizes que me amas?
Pelas trinta moedas?
Tremes como quem vive?
Ou bem te estremeces pelo costume do mal?
O amor existe, e é forte, e brilha,
e desafia o peso do corpo,
o peso da tarde, o peso exagerado
dos anos que ainda me restam para viver.
O amor existe, mas se alonja
das pessoas como nós, meu amor.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Ana Chiara

III

Beija-flor parado
Tremor de asas
Também viaja
Suga alegria
Por deslocamentos mínimos

(Ana Chiara - Poema da travessia)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Rosalía de Castro - Poesia Galega


I – VAGUEDÁS

II

Bem sei que non hai nada
Novo en baixo do ceo,
Que antes outros pensaron
As cousas que ora eu penso.

E bem, ¿para que escribo?
E bem, porque así semos,
Relox que repetimos
Eternamente o mesmo.

(Rosalía de Castro – 1837-1885)


I – VAGUEDADES

II

Bem sei que não há nada de
Novo sob o céu,
Que antes outros pensaram
As cousas que ora eu penso.

Bem, para que escrevo?
Bem, porque somos assim:
Relógios que repetem
Eternamente o mesmo.

(Tradução de Andityas Soares de Moura)

domingo, 8 de dezembro de 2019

Iván Segarra Báez - Porto Rico


IX
"El hombre es mortal por sus temores e inmortal por sus deseos"
Pitágoras

Descubrimos que la vida se va asesinando
entre pétalos descalzos y llantos desnudos,
como símbolos desterrados
de pequeñas muertes desoladas y tristes.

El tiempo
va trasnochando horizontes muertos de frío
y todo se acuesta entre la nota absurda
de la sombra en pena de la risa muerta.

Descubrimos que los cuerpos son el cosmos,
un deseo que se retuerce en el mar de la lujuria.

(Iván Segarra Báez)

IX
“O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos”
Pitágoras

Descobrimos que a vida se vai assassinando
Entre pétalas desfolhadas e prantos desnudos,
Como símbolos desterrados
De pequenas mortes desoladas e tristes.

O tempo
Vai desvairando horizontes mortos de frio
E tudo se comprime entre a nota absurda
E a sombra penosa de um riso morto.

Descobrimos que os corpos são o cosmos,
Um desejo que se retorce em um mar de luxúria.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Dois poemas de Leopoldo María Panero


O QUE STÉPHANE MALLARMÉ QUIS DIZER COM OS SEUS POEMAS

Quis o velho dizer quando já a última lâmpada
no quarto estava apagada
e o sol não nos via, a serpente lançada
com as fezes do dia ao poço da memória
ao sonho que tudo apaga, ao sonho,
quis dizer o velho que as leis
do amor não são as leis do nada
e que somente abraçados a um esqueleto no mundo vazio
saberemos como sempre que o amor é nada,
e que o nada
sendo algo que com o amor e a vida
fatalmente rompe, pede uma ascese
e é por ele que uma cruz nos olhos e um
escorpião no falo representam o poeta
nos braços do nada, do nada cheio
dizendo que nem sequer Deus é superior ao poema.

(Contra Espanha e Outros Poemas de Não Amor, 1990
Tradução Jorge Melícias)


LO QUE STÉPHANE MALLARMÉ QUISO DECIR EN SUS POEMAS

Quiso el viejo decir cuando ya la última lámpara
en el cuarto estaba apagada
y el sol no nos veía, la sierpe lanzada
con las heces del día al pozo del recuerdo
al sueño que todo lo borra, al sueño,
quiso decir el viejo que las leyes
del amor no son las leyes de la nada
y que sólo abrazados a un esqueleto en el mundo vacío
sabremos como siempre que el amor es nada,
y que la nada
siendo así algo que con el amor y la vida
fatalmente rompe, quiere una ascesis
y es por ello que una cruz en los ojos, y un
escorpión en el falo representan al poeta
en brazos de la nada, de la nada henchido
diciendo que ni siquiera Dios es superior al poema.

(Leopoldo María Panero)


SERENIDADE

A Martin Heidegger

Só há duas coisas: o meu rosto desfigurado
e a dureza da pedra.
A consciência só se acende
quando o ser está contra ela:
e é por isso que todo o conhecimento
e a matriz de toda a figura
é uma ferida,
e apenas é imortal
o que chora.
E a noite, mãe da sabedoria
tem a forma inacabável do pranto.

(Ourives, 1994 - Tradução Jorge Melícias)


SERENIDAD

A Martin Heidegger

Sólo hay dos cosas: mi rostro desfigurado
y la dureza de la piedra.
La conciencia sólo se enciende
cuando el ser está contra ella:
y es así que todo conocimiento
y la matriz de toda figura
es una herida,
y sólo es inmortal
lo que llora.
Y la noche, madre de la sabiduría
tiene la forma inacabable del llanto.

(Leopoldo María Panero)


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

lenda


mato e acoito
na paragem bacamartes
brilho de relâmpago

noite mais silêncio
somam estandartes
tranco-de-reses

o levantamento
das pedras no oco
dos patrimônios

trilhas e alpercatas
sobem até onde deus
é uma igreja torta

que esquarteja e espalha
víveres para a manhã
do levante

(oswaldo martins)


terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Melhores livros lidos e relidos em 2019


Melhores livro lidos em 2019

1 – Nossa senhora do Nilo - Scholastique Mukasonga;
2 – O anjo azul – Heinrich Mann;
3 – A morte do pai – Karl Ove Knausgård;
4 – Dora sem véu – Ronaldo Correia de Brito;
5 – A segunda história – Cees Noteboom
6 – Pó de parede – Carol Bensimon;
7 – A vida em espiral – Abasse Ndione
8 – A fórmula secreta do professor – Yoko Ogawa
9 – Quando tinha cinco anos me matei – Howard Buten;
10 – Não está mais aqui quem falou – Noemi Jaffe.


Melhores releituras de 2019

1 – Mr Gwin – Alessandro Barico;
2 – O mestre e a Margarida - Mikhail Bulgákov;
3 – A bela senhora Seidenman – Andrzej Szczypiorski;
4 – Os sinos da agonia – Autran Dourado;
5 – Jogo em cena em Bolzano – Sandor Marái;
6 – Machamba – Gisele Mirabai;
7 – Relato de um certo Oriente – Milton Hatoun
8 – Beleza e triztreza – Ya sunari KKawabata;
9 – Inferno – Strindeberg
10 – País sem chapéu – Dany Laferrière


Melhores livros de poesia lidos em 2019

1 – Rebute – André Capilé;
2 – Sapé – Josoaldo Lima Rego;
3 – Coração pronto para o roubo – Manuel António Piva;
4 – Terra e paz – Yeuda Amichai;
5 – Só para maiores de cem anos – Nicanor Parra;
6 – Hérnia – Rogério Batalha;
7 – Os cinco bandidos – Kim Ji-Há;
8 – Variações sobre tonéis de chuva – Jan Wagner
9 – Estação Piedade – Elesbão Ribeiro
10 - Belo Horizonte Boulevards – Masé Lemos


domingo, 1 de dezembro de 2019

Femme Noire / Mujer Negra


Femme Noire


Femme nue, femme noire
Vêtue de ta couleur qui est vie, de ta forme qui est beauté!
J’ai grandi à ton ombre, la douceur de tes mains bandait mes yeux.
Et voilà qu’au cœur de l’Été et de Midi, je te découvre,
Terre promise, du haut d’un haut col calciné
Et ta beauté me foudroie en plein cœur, comme l’éclair d’un aigle.

Femme nue, femme obscure
Fruit mûr à la chair ferme, sombres extases du vin noir, bouche qui fait lyrique ma bouche
Savane aux horizons purs, savane qui frémis aux caresses ferventes du Vent d’Est
Tamtam sculpté, tamtam tendu qui gronde sous les doigts du vainqueur
Ta voix grave de contralto est le chant spirituel de l’Aimée.

Femme nue, femme obscure
Huile que ne ride nul souffle, huile calme aux flancs de l’athlète, aux flancs des princes du Mali
Gazelle aux attaches célestes, les perles sont étoiles sur la nuit de ta peau
Délices des jeux de l’esprit, les reflets de l’or rouge sur ta peau qui se moire
À l’ombre de ta chevelure, s’éclaire mon angoisse aux soleils prochains de tes yeux.

Femme nue, femme noire
Je chante ta beauté qui passe, forme que je fixe dans l’Éternel
Avant que le Destin jaloux ne te réduise en cendres pour nourrir les racines de la vie.

(Léopold Sedar Senghor – Senegal, 1906)


*

Mujer Negra

Mujer desnuda, mujer negra
Vestida en tu color que es vida, en tu forma que es belleza.
Crecí en tu sombra y la dulzura de tus manos me vendaba la mirada.
Y así que al corazón de nuestro otoño y medio día, te descubro,
Tierra prometida, de alturas y de altivo calcinado cuello
Y tu hermosura me fulmina el corazón, como del águila el destello.

Mujer desnuda, oscura
Fruta ya madura y con la carne firme, éxtasis oscuros de este vino negro, boca que hace lírica mi boca
Sabana de horizontes puros, sabana que estremece las caricias fervientes de los aires del Oriente
Tam tam tallado, tam tam tendido que gruñe con los dedos de quien vence
Tu voz grave de contralto es el canto espiritual de la amada.

Mujer desnuda, oscura
Óleo que no arruga el viento, bálsamo de calma en los costados del atleta, en los costados de los príncipes de Malí
Gacela de celestes atractivos, las perlas son estrellas en tu piel de noche
Delicias del espíritu y sus juegos, reflejos de oro rojo que en tu piel destella
A la sombra de tu cabellera, se aclaran mis angustias con los soles a tus ojos tan cercanos.

Mujer desnuda, mujer negra
Yo canto tu belleza ahora que pasa, la forma que en lo Eterno voy fijando
Justo antes que el Destino receloso te reduzca a las cenizas, para poder alimentar las raíces de la vida.

(Versión de Samuel Espinosa (Puebla, Pue., 1985)

sábado, 30 de novembro de 2019

Carmen



CARMEN

Sobre las ruinas de la locomotora
ha nacio la rosa de los ventos,
transportada al Espacio por un ángel
sus pétalos serán nubes de hielo.

Coros del Limbo entorarán un réquien
por tí, por mí y por la Muerte Nueva,
mientras un ángel con als de papel
decretará el Imperio de la Carne.

(HOMERO ICAZA SÁNCHEZ)


CARMEM

Sobre as ruinas da locomotiva
nasceu a rosa dos ventos,
transportada ao Espaço por um anjo
suas pétalas serão nuvens de gelo.

Coros do Limbo entoarão um réquiem
para ti, por mim e pela Morte Nova,
enquanto um anjo com asas de papel
decretará o Império da Carne.

(TRADUÇÃO DE ANTONIO MIRANDA)

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Antiodes


essa biblioteca é minha

medo no rio de janeiro
havia dois diabos
padre, que pecado,

quando me sugeriram escrever homenagem
ao que se foi para o quinto dos infernos
eles nem imaginam na praia lotada
que alexandria foi uma biblioteca na qual os homens liam

talvez porque aqueles
enquanto juízes e doutores e sábios e pastores
hoje de madrugada nos subúrbios de minha cidade
as atitudes práticas possuem deuses

esta biblioteca é minha
os rebolados das moças nas passarelas são rebolados
e também desdenhar das saras shivas
tirando das telas suas pernas os peitos
resta o suicídio
lágrimas, as minhas, também recendem a gim
senhora das terras herdeira eterna chefe de clã

fizeste mal, senhora,
disse maradona
para quem de longe vê os gráficos da eficiência
tantos são os produtos!
não basta as folhas secas de nélson o encanto da paisagem
cantoras do passado são várias
ouve nessa voz o que cantam os terreiros

as burguesinhas fúteis pensam que descobrem a américa
quando descobrem a Disney

selvagem língua danto-viperina

estou fora, histrião
há abdulas e abdulas neste mundão de deus!
os homens plantam o que a terra dá

as instituições comercializam seus produtos enlatados

julgais, senhores, a bastardia
há barbosas e barbosas
os tatibitates com suas cláusulas atemporais
dizem poesia quando o sol se põe nas areias de Ipanema
aplaudem o cu dos outros

há urubus no ar como aviões de carreira
quando a bola gira de pé em pé
eu vi os campos de pelada do subúrbio
as marias pretas com seus carrões

as moças saem de casa
às vezes as bocas sensuais bocas ávidas

quando franco assumiu o poder na espanha,
aretino criou uma metafísica própria, estranha ao mundo

(versos das Antiodes)


quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Poesia catalã

Divisa

A l'atzar agraeixo tres dons: haver nascut dona,
de classe baixa i nació oprimida.
I el tèrbol atzur de ser tres voltes rebel.

(maria mercè marçal)

Divisa

À sorte agradeço três dons: ter nascido mulher,
de classe baixa e nação oprimida.
E ao turvo azul de ser três vezes rebelde.

(tradução vanderley mendonça)


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

delírio

rumina a fome acordado

mascando folha de coca
no estro de um labor arcaico

o insone ao cardar a lã

diante da lucidez possível
encontra sua moldura - papel

na parede decorando o ocaso

- e acredita que o sol quando acorda
amola em suas mãos as adagas

(andré capilé - rebute)

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

paisagem zero

1

na casa-um há
o suporte

sobre o morro
a construiu

o que nem homem
era e no entanto

2

a casa, pois
o homem

concluem-se
o que habita

e o habitat-zero

3

o homem-adereço
tem braços-sem

pés-de-planta

um assento
pende

na casa
do onde-não

4

o narrador-a-caco
tartamudeia

o mundo

solfeja e atira
pedras

5

louco-de-cuspe
beato-sem

o tilintar das águas
soçobra os sinos

da cidadela-fim

(oswaldo martins)

sábado, 23 de novembro de 2019

as armas


para carolina bezerra

insígnia beatitude madeiro-cruz
faca-de-ponta borduna sarão-ur
o caça-forca o buraco-dos-ratos
radiam no peito a cidadela-beco

rocinha capão casa nova jurunas
amarela canudos barrigas vazios
de acari complexo maré fazenda
bica barreira amor prazeres caju

conselheiro lampião caneca ciço
marias penhas marielles katendê
iorubás quimbundos fons bantos
jorge-ogum co’as armas de armar

canudo-foice chuço-de-vaqueiros
forquilha ferrões quinquim coiam
corpo-a-corpo horror e gestos-hor
pânico das bravuras e recuo-amuo

ecoo nas vosse mercês o seco nulo
nor-nordestes manguezal de putos
homens e putas mulheres do pajeú
discorrerão sobre os dias do haver

a vir

(oswaldo martins)


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O cheiro

O que impressiona primeiro é o cheiro. A cidade fede. Mais de um milhão de pessoas vivendo em uma espécie de lodo (mistura de lama preta, de detritos e de cadáveres de animais). Tudo isso debaixo de um sol tórrido. O suor. Mija-se em todo lugar, homens e animais. Esgotos a céu aberto. As pessoas cospem no chão, quase no pé do vizinho. Sempre a multidão. O cheiro de Porto Príncipe tornou-se tão forte que elimina todos os outros perfumes individuais. Toda tentativa pessoal torna-se impossível nessas condições. A luta é por demais desigual.

(País sem chapéu - Dany Lafarrière)

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Recanto


Guido Cavalcanti - Poesia Italiana


Per gli occhi fere um spirito sottile
Guido Cavalcanti

Per gli occhi fere un spirito sottile
Che fa in la mente spirito destare,
Dal qual si muove spirito d’amare,
Che’ogn’altro spiritello fa gentile.

Sentir non può di lui spirito vile,
Di contanta virtú spirito appare.
Questo é lo spiritel, che fa tremare
Lo spiritel che fa la donna umile.

E poi da questo spirito move
Um altro spirito soave,
Che segue um spiritello di mercede.

Lo quale spiritel spiriti piove,
Che di ciacuno spirit’ há la chiave,
Per forza d’uno spirito, Che ‘l vede.


Pelo olhar fere o espírito sutil
Augusto de Campos

Pelo olhar fere o espírito sutil
Que faz na mente o espírito acordar,
Do qual se move o espírito de amar
Que faz todo outro espírito servil.

Não o descobrirá espírito vil,
Tal é o dom deste espírito sem par,
Espírito que faz tremer o ar
Do espírito que faz dama gentil.

E deste mesmo espírito se move
Um outro doce espírito suave,
Que um espírito segue de mercê.

O qual espírito espíritos chove
E dos espíritos conhece a chave,
Por força de um espírito, que vê.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Heiner Müller - O pai - Der Vater


O pai

I.

Um pai morto teria sido talvez
Melhor pai. Ainda melhor
é um pai nado-morto.
Sempre nova cresce a grama sobre a fronteira.
A grama tem que ser arrancada
De novo e de novo que sobre a fronteira cresce.


II.

Eu queria que meu pai tivesse sido um tubarão
Que estraçalhara quarenta baleeiros
(E eu aprendido a nadar neste sangue)
Minha mãe uma baleia-azul meu nome Lautréamont
Morto em Paris
Em 1871 desconhecido

(Tradução de Ricardo Domeneck)


Der Vater

I.

Ein toter Vater wäre vielleicht
Ein besserer Vater gewesen. Am besten
Ist ein totgeborener Vater.
Immer neu wächst Gras über die Grenze.
Das Gras muß ausgerissen werden
Wieder und wieder das über die Grenze wächst.

II.

Ich wünschte mein Vater wäre ein Hai gewesen
Der vierzig Walfänger zerrissen hätte
(Und ich hätte schwimmen gelernt in ihrem Blut)
Meine Mutter ein Blauwal mein Name Lautréamont
Gestorben in Paris
1871 unbekannt

(HEINER MÜLLER)

domingo, 17 de novembro de 2019

Terça-feira


Enquanto você se despe
eu te cubro de palavras,
e esse corpo em que moramos,
pântano de costelas
de Adão e palmeiras, quase implora
algum tipo menos maltratado
de razão.

Que eu perco
quando você se despe, folha
de bananeira, tanto verde, verde
ao teu redor, pela manhã
recuperado, esse corpo demanda
uma explicação natural.

Não há panfleto, não há
vão de porta que aceite só
a fatia
de luz que nem bem
te representa.

Se me perguntassem
amanhã, o que foi,
o que é, eu passaria
os olhos de novo como fiz
por cada sinônimo contrário
de mim.

(Lúcia Leão)

teoria do mínimo 3


3

sempre depois o antes
escondida agudeza

a teoria resmunga
os efeitos do zero

faz da unha universo
a morada-esfinge

do fim

sábado, 16 de novembro de 2019

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

teoria do mínimo


1

o cisco no olho ao invés
de assoprar

forja o memento zero
o objeto e o sujeito

se irmãos ou inimigos
importam pouco

o advento da fotografia
traz apenas cenas

no sem tempo
da rasura

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Totem

O totem.
O para-raios de toda ação.
Buda do silêncio,

oblata fugaz
para o consolo do nada,

antena ancestral

aplacando tribulações
da tribo,
animal que se mexeu,
corvo, tigre.

Alto trigo.

Sóa terra não logrou
estar quieta.

A terra        erra
ainda.
*
(Daniel Jonas - Os fantasmas inquilinos)

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Poesia boliviana


Nos denominam

Nos chamam de indígenas
Nos chamam de autóctones
Nos chamam de étnicos
Em palavras claras
qualquer coisas nos chamam

Esses que nos denominam
Quem são?
Esses que nos denominam
De onde serão?
Hoje em dia
indagamos

Até de pobre
nos chamam
Esses que nos chamam de pobres
Como conseguem
seu dinheiro e o ouro?

Por nada caem
do céu.
Mandam para eles?
Gostaríamos de saber.

(Tradução: Antonio Miranda)

*

Suticht'apxistu


Indígenas sasaw uticht'apxistu
Autóctonos sasaw uticht'apxitu
Étnicos sasaw suticht'apxistu
Qhana arunxa kunaymana
Suticht'apxistu.

Uka suticht'irinakasti
Kunapxisa

Uka suticht'irinakasti
Kawkinkir'ipxpachasa
Sasawa, jichhaxa
jiskt'asitáxi

Puwri sasasa
suticht'apxakirakistuwa
Uka puwri sirinakasti
Kunámatsa, qurs qullqsa
Katupxpacha

Justupakiti
alapachatt jalaqtanpacha
jan ukax kuna laq'ucha
jupanakatak achunirappacha
Sasarakiw yaqhipa arst'i.

*

Nos ponen nombres

Nos llaman indígenas
Nos llaman autóctonos
Nos llaman étnicos
En palabras claras
cualquier cosa nos llaman

Esos que nos llaman
¿Quienes son?
Esos que ponen nombres
¿De dónde serán?
Hoy en día
se pregunta

Hasta de pobre nos llaman
Esos que nos llaman pobres
¿Cómo consiguen
su plata y oro?

 ¿De por sí caerán
del cielo?
O qué gusano
se los trae para ellos?
Se preguntan unos.

(Juan de Dios Yapita)





sábado, 9 de novembro de 2019

RUPERT BROOKE (1887–1915)


II. SEGURANÇA

Amada! Entre os que são felizes nesta hora
Bendito o que achou nossa silente segurança
Nas sombrias marés do mundo que ressona.
“Quem mais seguro há?”, foi a nossa demanda.
A segurança achamos em tudo que não morre,
Os ventos, a manhã, alegria e abandono,
A noite densa, os pássaros, nuvens que no céu correm,
O sono, a liberdade e a terra no outono.

Erguemos uma casa que o tempo não derruba.
Ganhamos uma paz de todo inabalável.
A guerra nada pode. Será armada e segura
Minha ida ante a morte, o êmulo inelutável;
Mesmo que não mais haja segurança e que os homens
Caiam; e mais segura ainda se estes meus membros morrem.

RUPERT BROOKE (1887–1915)

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Taras Shevchenko - George Ovashvili


O Barco


O vento e o bosque falam,
Sussurram os juncos,
O barco vai com as vagas
Só no vasto mundo.
O barqueiro naufragado
Foi-se na corrente,
Cheio de água vai o barco
E ninguém o prende.
Até o mar azul alcança...
O mar soa bravo,
Os vagalhões brincam - dançam
Com os estilhaços.

(Taras Shevchenko)Tradução do ucraniano: Wira Selanski  


















(fotograma do filme A ilha no milharal de George Ovashvili)

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

No blog do Lúcio Autran

Resenha no blog do Lúcio Autran

https://lucioautran.blogspot.com/

MANTO EMINENTE – Oswaldo Martins e Arthur Bispo do Rosário – os aedos desencantadores das palavras – ou “os planos da arte”.

“a voz na falha das mãos
os lenho-laços
os fios

os planos da arte”
sianinha – Oswaldo Martins
Ao menos para mim, é muito difícil fazer da loucura objeto da poesia, aliás, mais do que isso, difícil falar da loucura, poeticamente ou não. Tudo nesse assunto é estigma, até porque quem vivenciou alguma forma de... e aqui o problema se evidencia, como chamar a “loucura”? Doença mental, alienação? E seu sujeito, doido? Ou, carinhosamente, que por vezes é possível, principalmente nas lembranças mais remotas da infância, doidinho?
Melhor nomeá-lo assim do que apedrejá-lo ou dele rir, ou cuspir-lhe a face transtornada, pois a loucura nada tem de lírica, muito menos de divertida, ao contrário, ela dói, rasga de angústia seu portador e os que com ele convivem, pois a sociedade, se melhorou no trato com ele, foi muito pouco, e ainda está presente em nós, navega no nosso preconceito, a “Nau dos Insensatos”, o escondê-lo na vergonha dos segredos da família, medo talvez de que sobre nós recaia o fatal estigma, como certa vez arrisquei: “No fundo das grutas, esperando adormecerem / os filhos e os vizinhos, para saírem pelos fundos. / Como a nudez, é melhor escondê-los nas serras / de Barbacena, ouro podre do limite das grutas”.
É o medo de um estigma infelizmente ainda presente, pois quem, como dizia e as palavras me fizeram desviar, conviveu com alguma forma de loucura sabe como é tênue a membrana que separa a doença de uma suposta, e apenas suposta, “normalidade”, citoplasma mental.
Mas toda sinonímia é precária, senão impossível. Qual a abordagem possível da loucura, se mesmo a abordagem “científica”, médica, ainda padece de irremediáveis precariedade e desconhecimento, salvo, aberta e honestamente, confessar esses mesmos desconhecimento e precariedade?
Talvez a poesia seja a única forma possível, pois permite a desconstrução, permite a (in) significação, o (não)significado, o desprezo ao significante, a partir do estigma / enigma onde o encarceram.
Como reconstruir a linguagem dos loucos? E o chamemos assim, por estranho que pareça, pois ainda acho “louco” a palavra de menor força estigmatizante. Como nos aproximar de sua sintaxe, que sintaxe é essa e como se recria no nada?

Aleksander Púchkin


A UVA

Não choro, finda a primavera
ligeira, a rosa que definha,
pois, maturando numa vinha
ao pé do monte, a uva me espera:
primor do vale viridente,
deleite do dourado outono,
tão diáfana e tão longo como
os dedos de uma adolescente.

(1824)
.

ВИНОГРАД

Не стану я жалеть о розах,
Увядших с легкою весной;
Мне мил и виноград на лозах,
В кистях созревший под горой,
Краса моей долины злачной,
Отрада осени златой,
Продолговатый и прозрачный,
Как персты девы молодой.

(1824)
– Aleksander Púchkin (Алекса́ндр Пу́шкин). A dama de espadas: prosa e poemas. [tradução de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher]. Coleção Leste. São Paulo: Editora 34, 1999; 3ª ed., 2013.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Ossip Mandelstam


1

[Tradução de Augusto de Campos¹]

Vivemos sem sentir o chão nos pés,
A dez passos não se ouve a nossa voz.

Uma palavra a mais e o montanhez²
Do Kremlin vem: chegou a nossa vez.

Seus dedos grossos são vermes obesos.
Suas palavras caem como pesos.

Baratas, seus bigodes dão risotas;
Brilham como um espelho as suas botas.

Cercado de um magote subserviente,
Brinca de gato com essa subgente.

Um mia, outro assobia, um outro geme.
Somente ele troveja e tudo treme.

Forja decretos como ferraduras:
Nos olhos! Nos quadris! Nas dentaduras!

Frui as sentenças como framboesas.
O amigo Urso abraça suas presas.³

Notas

¹ Do livro “Poesia da Recusa” (Perspectiva, 364 páginas), de Augusto de Campos. Edição de 2011. Tradução direta do russo.

² Augusto de Campos prefere “montanhez”, no lugar de montanhês, para rimar com vez? É provável.

³ Nota de Augusto de Campos: a tradução literal desta última linha equivale a: “O largo peito do ossétio” (cidadão da Ossétia, da Geórgia, região de origem de Stálin). Variante literal: “Um abraço de Ossétia às suas presas”.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

ladainha do bom jesus


poema para muitos pés

pletora passos preclaros os pés
em clave de sol a pino

pisar pedras as escarpas
proteger o refluir do humor

crestado solar sobre o solo
rachado subir pelos rebordos

dos cravos espinhos cravar
calcanhares e artelhos parcos

pousar no plexo dos dedos
o perfurante das arestas

irregulares provas ao longo
corpo-serpente do morro

até as portas do paraíso
do nós que se revolta

(oswaldo martins)