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sábado, 14 de dezembro de 2019

brasil


o sargento-ajudante do 39. °
listras vermelhas de fardas
trincheira sinistra de corpos

últimos casebres submersos
o arremesso de um quadro
horror tangível dos mortos

mar e serão as vozes findas
atonia e assombro hosco
velho homens feitos criança

abra-se o livro da desdita
acentue-se a vertigem

que vive nos ossos
a abstrusa história

(oswaldo martins)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

lenda


mato e acoito
na paragem bacamartes
brilho de relâmpago

noite mais silêncio
somam estandartes
tranco-de-reses

o levantamento
das pedras no oco
dos patrimônios

trilhas e alpercatas
sobem até onde deus
é uma igreja torta

que esquarteja e espalha
víveres para a manhã
do levante

(oswaldo martins)


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

paisagem zero

1

na casa-um há
o suporte

sobre o morro
a construiu

o que nem homem
era e no entanto

2

a casa, pois
o homem

concluem-se
o que habita

e o habitat-zero

3

o homem-adereço
tem braços-sem

pés-de-planta

um assento
pende

na casa
do onde-não

4

o narrador-a-caco
tartamudeia

o mundo

solfeja e atira
pedras

5

louco-de-cuspe
beato-sem

o tilintar das águas
soçobra os sinos

da cidadela-fim

(oswaldo martins)

sábado, 23 de novembro de 2019

as armas


para carolina bezerra

insígnia beatitude madeiro-cruz
faca-de-ponta borduna sarão-ur
o caça-forca o buraco-dos-ratos
radiam no peito a cidadela-beco

rocinha capão casa nova jurunas
amarela canudos barrigas vazios
de acari complexo maré fazenda
bica barreira amor prazeres caju

conselheiro lampião caneca ciço
marias penhas marielles katendê
iorubás quimbundos fons bantos
jorge-ogum co’as armas de armar

canudo-foice chuço-de-vaqueiros
forquilha ferrões quinquim coiam
corpo-a-corpo horror e gestos-hor
pânico das bravuras e recuo-amuo

ecoo nas vosse mercês o seco nulo
nor-nordestes manguezal de putos
homens e putas mulheres do pajeú
discorrerão sobre os dias do haver

a vir

(oswaldo martins)


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

ladainha do bom jesus


poema para muitos pés

pletora passos preclaros os pés
em clave de sol a pino

pisar pedras as escarpas
proteger o refluir do humor

crestado solar sobre o solo
rachado subir pelos rebordos

dos cravos espinhos cravar
calcanhares e artelhos parcos

pousar no plexo dos dedos
o perfurante das arestas

irregulares provas ao longo
corpo-serpente do morro

até as portas do paraíso
do nós que se revolta

(oswaldo martins)

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

martírio da terra


deprimida revolta
nordeste de ignota
morada

maior que a brasil
português terra rabisco
cartas em hiato

um buraco tão grande
quanto a fome-sede
no estômago

dos viventes o eco
torneia a borda-planalto
das gengivas

dentadas e faltas
em cujo alimento
a pedra

dos séculos adere
tapa na orelha
das flores

rosa que não serve
antes o grude-pó
no corpo áspero

dos mandacarus

(oswaldo martins)

terça-feira, 24 de setembro de 2019

farda


entre arbustos ressequida
calçola assustava a litorânea

gente seus sus inflavam
pelo soprar de um tropel

de fugitivos que ao vê-la
espaventosa guarda

dos sertões ante a coorte
de antônio beatinho

de esgueira pelos solcacos
via luzir hiroshimas

quando estrondavam
os bacamartes

(oswaldo martins)

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

cavalo


o selvagem desabrido
com suas crinas ao vento

fora a montada do alferes
fantasma que balança

sua carcaça na vala
particular dos vermes

(oswaldo martins)

segunda-feira, 29 de abril de 2019

conselheiros


conselheiro 1

o estorno das palavras afunda
a voz nas cercanias

nega-se até a exata
designação das coisas

quando o dizer cala
a face enruga

e o corpo nu
marca as aras

e as sustenta
de enxugamentos

no oco
da lucidez


conselheiro 2 

destampa o vau
dos bons conselhos

faz com que os rios
de areia seca

transmudem-se
labirintos

em que a escuna
dos fiéis

braceja pelos mares
da alucinação

constrói casas
que se subissem

os montes santos
a escada de jacob

(oswaldo martins)