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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

delírio

rumina a fome acordado

mascando folha de coca
no estro de um labor arcaico

o insone ao cardar a lã

diante da lucidez possível
encontra sua moldura - papel

na parede decorando o ocaso

- e acredita que o sol quando acorda
amola em suas mãos as adagas

(andré capilé - rebute)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Excerto do MUIMBU

#
o gusa gosta de comer
o sacrifício do bode

se o inhame está cozido
o gusa também aprecia

#
arrojado

toma a coroa e não usa
sobe os córneos dos carneiros

se te amam ai gusa
fazem do cortejo dos cães

o apelo que salva os pescoços

(MUIMBU – ANDRÉ CAPILÉ)


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

"2 variações do mesmo rio":

I

dos nós de nosso contexto,
textos são feitos diversos.
de muitos fios que se tecem,
no conforme de portar
os ciclos, e suas voltas,
por dentro de vias e vaus.
e seguimos, por cuidado,
em turnos e tubos, mas
só comemos o coturno
dos dias. do singular
agudo de um rio vivo --
natural -- embarco o rio;
não medido pelo fundo,
nem pelo estanque das margens.

II

um rio, são rios de água vária,
que na avaria do terreno encontra
percurso. um rio tem muitos caminhos,
que em si deságua pedra, queda bruta.
que não por navegar, mas de ser levado
a beber dele -- o remoinho -- um rio
que corre sem córrego, natural
da força donde se cria a si, sem
freio -- puro dínamo de ser rio
corrente, uma usina de não caber
em comportas -- não se estagna em remanso.
nos damos muito próximos à dança
mobilizados ao tremor dos dias.
brandos, somos dois; somos como bandos.

(André Capilé)

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

1/2

Eu, que sou um, e estou com os demais,
tenho o endereço incerto da partida
enquanto espero. Não desperto a luz,
nem cedo ao desespero dos mosquitos
que zunem pela beira do chapéu.

comia pelo trecho, com os meus
companheiros, a conta da ração
medida por miúda; não o tempo,
inchado na capanga, indiferente
ao sol estacionado que esvazia.

olhava o dia longe, longo e verde
contando só o furo das miçangas
os fios que atravessam o inimigo
a reza da tocaia que se avia.


(André Capilé)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Cabriola

1

educadas
na palma da mão
- dedurando celulares -

nas praças

vrianças veem
mas não sacam

(André Capilé -  Rapace - TextoTerritório)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Soneto CXVI


Sonnet CXVI

Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:
O no! it is an ever-fixed mark
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.
Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come:
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved.

(Willian S)

André Capilé
Soneto CXVI -- W. SHKSPR

Nada atravanca o enlaçar de almas veras
— bem ao contrário; posto o amor não ser
amor, se muda por mudar seus pés
fujões — ou se deserta sem peleja.
Aí deu ruim, que amor é ponta firme;
raios! vê-se em tumulto e não sacode
— erra, uiva, vibra, estrela, resiste —
desconhecido, é certo; e mais que pó.
A célere ampulheta — a boca e a face
coram — declina, compassiva à muda
que o amor não cede à toda hora. Amar,
agüenta paciente o tempo cru.
Se no lance a parada deu equívoco,
quem vai provar? Não, se amou. Nunca o escrito.

domingo, 4 de novembro de 2012

o urubu tresvariado

para o andré capilé


o bico de lacre fecha a tampa
do quê quem comove a hora
do campo sem a mata

o bico de lacre enfeixa o livro
rapace rapa rapina rapaz que
arruína o campo mata

o bico de lacre dá faxina lava
a larva da beca poética doética
da moderna rês mata

o bico calado a assassina avra
da palavra que não intestina
na  mata a prima poesia

bica de lacra passara no que
non passaran de passionara
altiva ave ava da evoé

cápsula que abre o bico
cárcara desavisado luzia
luz voz em capilé

(oswaldo martins)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

maquilagem



para Leonardo Marques
 
1

no cabaré das varejeiras

mariposa
não bole


saia não leva
o sol do poste

se

mariposa
quica no salto

a caralha
ganha na grita

2

no cabaré das varejeiras

o gravata
comparece

        e

mia ao pedir
         :
upa neguinho
 
3

nenhuma napoleão
no mundo varão de verônica
 
4

minha pica

flor
no truque

pia

emplasto
sabiá
 
5

tá com nojo, moço?

fica tranquilo
sagrado o sossego da chuca

segura a pemba
agora vai

me chupa
 
6

pagão fui eu
que paguei

o que deus me deu

a bunda e os peitos
que chamo de meus

7

mulher

eu
sou

como os demais

(André Capilé)