Protagonista
de nome shakespeareano, professora de literatura clássica, a Julieta de
Almodóvar vive fado vertente de viagem de trem e mortes - de um viajante
suicida e do pescador e amante. Mortes trágicas, sem mais. Provém, se mais
houver, alguma coisa de relatos de língua inglesa da autoria de Alice Munro,
contista canadense e Nobel de Literatura em 2013.
Disse o
diretor a Elsa Fernández-Santos (El País, Brasil, 19mar2016) que restou dos
relato de Munro aquilo que se dá no trem.
O que há de
mais é a própria fatalidade de defrontar-se num trem com um suicida
desconhecido e de se ligar no mesmo trem a um pescador que morrerá numa
tormenta marinha, assim que sua infidelidade é desnudada por Julieta.
O desencontro
da filha, a trama da governanta e a existência de Ava, amante do pescador, são
dados sobre as mulheres que compõem a rede. A governanta e Ava afastam Julieta
da filha, direta e indiretamente.
Julieta
madura, que escreve uma carta a sua única filha cujo endereço desconhece,
permite a nós, plateia, sabermos de toda a estória filmada.
Julieta madura
recusa-se a ir viver em Portugal com o namorado escritor que, ao fim, ao
contrário do drama com Romeu, salva-a da morte e da solidão.
Julieta jovem
é abatida pela morte do pescador e pelo distanciamento da filha. Ava perde o
amante pescador e aparece abatida pelo desfecho trágico.
A governanta
arquiteta a trama que separa, como um fado, mãe de filha, mas é abatida pela
morte do pescador a quem se dedicava.
Morrem dois
homens - um na viagem de trem, outro em viagem de barco em tempestade.
Abatem-se a dedicada governanta, a pesquisadora clássica e a escultora Ava, que
morre dessa tristeza. Ninguém chora, porque não há condições para lágrimas,
restando o abatimento das personagens femininas restantes como pretendia
Almodóvar no mais seco de seus dramas, segundo Elsa Fernández-Santos na fonte
citada.
Uma estrada e
um horizonte na cordilheira dos Pireneus suavizam toda a aridez.
Cláudio
Correia Leitão