sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O rei-chuchu

O Sr. Alkmin I governa São Paulo com a ignorância dos que se acham superiores. Seu governo que busca garantir os privilégios sempre concedidos aos poderosos se põe agora, após embolachar os jovens, com balas, a tirar-lhes a única oportunidade de abandonarem a vida do subemprego, da miséria, para a qual foram encaminhados por anos de espoliação e maus tratos públicos, ao retirar-lhes os estudos. Além, é óbvio, para privilegiar as universidades particulares, retira das já combalidas universidades a verba com que elas poderiam tocar as pesquisas necessárias e a formação mais que necessária dos jovens e profissionais.

Além de plantar a seca, a vanguarda do atraso em que São Paulo vem se transformando tem neste senhor e nos seus sequazes os representantes mais óbvios de um mal disfarçado desejo monárquico, conservador e religioso. Dom Alkmin I, o rei-chuchu, como ficará lembrado na história do país, porque insulso, deveria voltar para sua Pindonga e continuar o capiau que nunca deixou de ser.



(oswaldo martins)

Raphael Rabelo e Elizeth Cardoso Completo Parte 1









Fotos de Alexandre faria e Vand Santiago

Fotos para o lapa




 

Fotos Alexandre faria e Vand Santiago

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

a poesia da conselheira

no meio do caminho os peitos se imiscuíam
era – não era – que a sapa se enterra

no meio do caminho as pernas
as retinas fatigadas

no meio caminha beatriz e trepada
para os olhos do apogeu

caísse mais a blusa
subisse mais a saia

que esse aluá essa cachaça
deixam a gente puta como uma diaba


(André Capilé e Oswaldo Martins)

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

1/2

Eu, que sou um, e estou com os demais,
tenho o endereço incerto da partida
enquanto espero. Não desperto a luz,
nem cedo ao desespero dos mosquitos
que zunem pela beira do chapéu.

comia pelo trecho, com os meus
companheiros, a conta da ração
medida por miúda; não o tempo,
inchado na capanga, indiferente
ao sol estacionado que esvazia.

olhava o dia longe, longo e verde
contando só o furo das miçangas
os fios que atravessam o inimigo
a reza da tocaia que se avia.


(André Capilé)

Sobre o lapa


Oswaldo Martins: lapa – memória, fetiche e contemporaneidade.

o detalhe capta a imagem e te
integra toma teus olhos olha
na perspectiva mínima
Oswaldo Martins

Ao se relacionar, de maneira muito menos direta, com a mímesis, a libido, em vez de vazar sua energia, retém a e a prolonga no objeto que constitui.
Luiz Costa Lima

No livro A ficção e o Poema, Luiz Costa Lima desenvolve o conceito de mímesis-zero. Deslindando a noção kantiana de intuição, o teórico brasileiro tenciona as noções de tempo, espaço, violência e libido para propor a mímesis como uma dimensão do conhecimento; assim, em seu estágio zero, [a mímesis] implica todas as faculdades humanas, fracassando na tentativa de explica-la a partir de uma decisão pessoal e consciente (LIMA, 2012, p. 34). Costa Lima explica

Tenho a mímesis-zero como uma mímesis-sem; uma mancha ou nebulosa na psique de um agente, que, não tendo ainda forma, tampouco possui movimento. Mímesis-zero equivale a dizer que não contém figuras ou linhas de força configuradas. Ela é um como se, isto é, algo que, em estado de gestação, se for plenamente diante, será um objeto ficcional. Mímesis sem movimento porque mera potencialidade. Enquanto potencialidade, ela é uma mancha ou nebulosa já tocada pela libido. A junção entre mancha psíquica e libido significa que algo ou alguém, uma paisagem ou quem a atravessou, ali deixou uma marca que, por enquanto, provoca tão só uma impressão, no entanto duradoura (LIMA, 2012, p.  26).         

Assim, gerado pela libido, o objeto ficcional é fruto da mímesis-sem ou mímesis-zero porque é potencialidade; pois, a despeito de suas ligações com o real, a sua criação se dá como o “vir-a-ser”, daí sua “nebulosidade” que, no entanto, se tornará “marca duradoura”.
Tomado como lugar teórico, a mímesis-zero será o fio condutor para a leitura de alguns poemas do lapa, de Oswaldo Martins. Publicado em 2014, o livro é organizado em sete cenas e propõe uma complexidade singular: seus poemas estão em diálogo intersemiótico com diversas fotos feitas pelas ruas do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, cidade onde o autor passou a residir na sua juventude. Feitas para (com)figurar no livro, as fotografias foram produzidas, sob a supervisão do poeta, por Vand Santiago e Alexandre Faria que registraram os movimentos de duas modelos contratadas –  que posaram como prostitutas passantes mulheres tão-somente – e colaboraram para alargar fronteiras de gênero ao se apropriarem dos sintagmas da rua e dos corpos, compondo, numa relação metonímica entre imagem e texto, uma lírica de foto-poemas.
 Assim, fruto da memória (que é a libido prolongada no olho do observador) do rapaz que caminhava por aquelas paisagens, as duas artes miméticas – a fotografia e a escrita – tornam a lapa ficcionalizada  potencialmente o vir-a-ser; pois assim como cada foto desloca a paisagem de seu lugar de pertença, cada poema toma teus olhos, desalienando a visão para uma perspectiva mínima, como adverte o poema citado na epígrafe. Fetiche do poeta, as ruas se desreificam, tornando-se parte da construção de um eu que lê no seu tempo ido o seu tempo presente:


a  rua  caminha  sob  teus  pés  objetos
confusos  miram  e  acatam  a  vista no
recompor  de  moeda uma cega te mira
bicuda  enquanto  levantas   a  saia   va
gabunda   solícita   a   dedos   e   lirismo
(MARTINS, 2014, p.35).


O quinteto, quarto foto-poema da cena II, poderia estar dedicado à une passante. A tônica fetichista que remete à Baudelaire, o gozo do voyeur, atravessará toda a obra, pois a Lapa ficcionalizada por O. Martins é cheia de olhares atentos aos mínimos detalhes, à perspectiva mínima. Os objetos confusos da rua miram a mulher que passa. A cega que guarda a esmola mira a mulher enquanto ela passa com seu movimento de saia de tecido vaporoso. No lapa, tudo se dá a ver. E a foto em preto e branco ao lado esquerdo do poema – meus olhos não perguntam nada – registra o momento em que fortuitamente a saia se levanta enquanto a moça, parada, ajeita o sapato. Enquanto todos esses elementos se movimentam no poema, dançando diante dos olhos, a personagem da foto que é feita em preto e branco, estática, ganha uma perspectiva distante no tempo, como se estivesse a caminhar pela rua projetada na memória do poeta.
Mímesis-zero, a marca das reminiscências do poeta são, não um leitmotiv, mas uma coleção de intuições que a libido projetou no devir. Como relata o poeta no prefácio ao lapa, escrito em 1984, o livro permaneceu inédito até 2014, mas foi se tornando obsessão e matriz de tudo o que escrevi depois. [...] funcionava como um fetiche para mim (MARTINS, 2014, p.06). Assim, como um jogo de sinédoques, toda a obra de Oswaldo Martins é parte do projeto iniciado nos anos 80. É neste jogo de ausências e presenças que a própria categoria de tempo vem à tona nos poemas, através do olhar:




rua da lapa

e paras. as retinas contra-postas nas vitrines quase
espelhos. te olham. o descortínio de um gato modorra
sobre a careca de um manequim de barro. abana o rabo
permite o tempo. o gato. recorre aos lábios o rictus
do peito estufado e paras. as roupas vestem no corpo
o gato no manequim de barro. abana o rabo, previne o
tempo. o pacto. ritualizas os lábios e paras
(MARTINS, 2014, p.33)
   

A cena cindida pelas construções paratáticas para o poema. Ali, o olhar pode se demorar em vitrines sem pressa como a preguiça letárgica do gato, observando a si mesmo como sujeito que sorri o gesto enregelado, ausente de si. A fotografia capta a rua praticamente sem movimento e transeuntes, parada ao entardecer de casas com diversas arquiteturas atravessadas pelo tempo. Segundo Giorgio Agamben, no livro Estâncias – a palavra e o fantasma na cultura ocidental:

Por mais que o fetichista multiplique as provas de sua presença e acumule um harém de objetos, o fetiche lhe foge fatalmente entre as mãos e, em cada uma de suas aparições, celebra sempre e unicamente a própria mística fantasmagórica (AGAMBEN, 2012, p. 62)

Desse jeito, a lapa é construída pela fluidez da memória que, perecível, não pode ser colecionada como coisa; assim, a importância da libido como propulsora desta poética é radical, pois mantém o mosaico de acontecimentos teso e em projeção, podendo ser revisitado e saqueado, ao mesmo tempo matriz e motriz da escrita, como confessa Oswaldo. Como explica Agamben:  

É curioso observar que um processo mental do tipo fetichista está implícito em um dos tropos mais comuns da linguagem poética: a sinédoque (e na sua parente mais próxima, a metonímia). No fetichismo, à substituição da parte pelo todo que ela efetua (ou de um objeto contíguo por outro) corresponde a substituição de uma parte do corpo (ou de um objeto anexado) pelo parceiro sexual completo. Prova-se assim que não se trata apenas de uma analogia superficial pelo fato de que a substituição metonímica não se esgota na pura e simples substituição de um termo por outro; o termo substituído é, pelo contrário, ao mesmo tempo negado e lembrado pelo substituto, com um procedimento cuja ambiguidade lembra de perto a Verleugnung freudiana, e é justamente dessa espécie de “referência negativa” que nasce o potencial poético particular de que fica investida a palavra (AGAMBEN, 2012, p. 60).

A construção do tempo de lapa é, portanto, vincada pela subjetividade e também pelo trabalho do leitor crítico – leitor de si e de seu tempo –, de forma que a criação da Lapa dos poemas é contemporaneamente anacrônica, na mesma medida em que desterritorializada. Isto é; ao tratar do bairro boêmio carioca, o lirismo escatológico de lapa é uma como uma ronda que à maneira de Agamben, percebe no presente uma facho escuro do passado.    

ronda

tocaram-se as fumaças que a outra boca expelia
a paixão repetia têmporas paroxismos os corpos
tensionados refluíam pela névoa chuva miúda na
comissura dos lábios cabelos molhados onde tal
vez suporte do improvável mão vultos movimento
transmude passivo nos labirintos do lirismo
(MARTINS, 2012, p.37).


 (Tatiana Franca - comunicação feita em Três Corações MG)

domingo, 25 de outubro de 2015

Erótica chinesa




A erótica japonesa 2

Penso: “nos meus sonhos

poderemos encontra-nos” …

Virando a almofada,

eu ando às voltas na cama

incapaz de adormecer.


***


Se o cavalo dele

tivesse sido domado

pela minha mão –

eu tê-lo-ia ensinado

a não seguir mais ninguém.


ISUMI SHIKIBU (974? – 1034?)



O meu desejo de ti

é forte para contê-lo –

assim ninguém vai culpar-me

se à noite for ter contigo

pela estrada de meus sonhos.



ONO NO KOMACHI (834? – ?)

A erótica japonesa




quinta-feira, 22 de outubro de 2015

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

o poema ainda quer

contar uma história, cuspir
dentes de leite, angariar
fundos para a roupa nova
descosturada de um rei
espantalho
adulto zumbi encurralado

ele se acha
caindo
em si.


(Lúcia Leão)

pentagrama da canalha

1

há certos corpos tão bonitos
e porque abissais
nada podem

contra as algemas dos olhos
que os querem
engolir

2

há certos cabelos negros
que ao caírem pelas espáduas
ondulam tão suavemente

que fazem o corpo
tangido pela música
evocar mais e mais

pica

3

há certas bundas tão redondas
que ao andarem pelas ruas
levam consigo

um séquito de biltres
uma canalha ávida
de cona e capricho

4

há certos peitos tão altivos
que ao despontarem
sob a blusa

são como o anúncio
de que o mundo só termina
na trepada


5

ou barrigas barrigotas
tão barriguinhas
que encimam o púbis

sob a calça saint-tropez
e revelam a anatomia
ainda mais fina

que a navalha.


(oswaldo martins)

vazios do campo

correr de marcar um gol
para achar por acaso
os vazios do campo
não enxergar
bola chutada
quando se foi
menino goleiro
para entrever
a sandália dela
sob vestido longo
suar
o tempo
da superfície
como mudas novas
os pés
deixam o hábito
e pisam na terra
como um deus forte
e aspiram
no deserto
vento que move
em promessa
e ávidos
buscam no quarto
outros pés
dispostas na sala
sandálias
esperam
a volta
de sua dona
esperam
no tempo contíguo
um olhar
que lhes contemple
o desenho
a cada dia
renovado

Luiz Fernando Medeiros

Juiz de Fora, 20/10/2015

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

aforismos

1
os sentimentos de comunhão deixo-os a quem os queira
2
a noite dos homens foi a conquista de luzes elétricas
3
a dimensão dos improváveis é mais exata que qualquer teorema
4
arte não é o que não é para ser o que nunca foi ou será
5
surfar, só na dimensão do abismo
6
crença é coisa para passarinho ou poetas passarinheiros
7
o amor em poesia só acontece de vez em quando, da mesma forma que o trágico é um sentimento que, ao acontecer, demarca toda a existência do poético
8
um pode descobrir-se poeta bastante cedo, mas só se realiza como, muitos anos mais tarde, o resto é pura síndrome de rimbaud
9
o corpo na dança – a expressão mais densa da arte
10
o melhor canto é o que se ouve sem que se conheça o significado de uma palavra sequer; de outra forma, não é canto, mas alusão - só se deve ouvir música em língua totalmente estrangeira.


(oswaldo martins)

Oliverio Girondo

ATARDECER

Íbamos entre cardos,
por la huella.

La vaca me seguía.

No quise detenerme,
darme vuelta.

La tarde, resignada,
se moría.

Íbamos entre cardos,
por la huella.

Su sombra se mezclaba
con la mía.

Yo miraba los campos,
también ella.

La vaca, resignada,
se moría.


MI LU


mi lubidulia
mi golocidalove
mi lu tan luz tan tu que me enlucielabisma
y descentratelura
y venusafrodea
y me nirvana el suyo la crucis los desalmes
con sus melimeleos
sus erpsiquisedas sus decúbitos lianas y dermiferios limbos y gormullos
mi lu
mi luar
mi mito
demonoave dea rosa
mi pez hada
mi luvisita nimia
mi lubísnea
mi lu más lar
más lampo
mi pulpa lu de vértigo de galaxias de semen de misterio
mi lubella lusola
mi total lu plevida
mi toda lu

lumía

sábado, 17 de outubro de 2015

se

se rosto deixa cair um gesto
estende ao longo do corpo
a corda retesada dos músculos
crus movimentos a insuspeita

precisão da vaga ondulante
a cabeça no ir-se alongada
ainda mais até a cava blusa
em que balançam os peitos

quando se respira o corpo
o meneio ousa e se deixa
frente ao nada e saboreia
do corpo a síntese mesma

do que não se sabe se é
corpo ou alusão festiva
das moças que vestem
roupas e se acham nuas


(oswaldo martins) 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Dia Um

insanos e definitivos entendimentos.

1. numa idade ociosa
    se pode desfrutar
    de ventos alísios
    a poemas nunca escritos

    mas tal etapa capciosa
    nos faz defrontar
    todas as nulidades
    de que a vida se constitui

    requer estarmos preprarados
    para entender este mundo
    como reino do vazio
    lotado de ridicularias

    compre todo o barulho
    ou se entregue à prostração
    já que não há meio termo
    para uma idade temerária

2. já não escrevo:
    capto palavras
    que tento combinar
    para gerar estupor

    já nem sei pensar:
    permito que intuições
    me dominem e confundam
    até que tudo se esclareça

    (Ricardo Tollendal)

Perder um Amigo - Aldir Blanc e Maurício Tapajós

Me dá a Penúltima - Aldir Blanc

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A riqueza da Língua Portuguesa

As mil possibilidades da linguagem são exemplificadas ao longo da história em forma de metamorfoses literalmente ambulantes, agentes e fatores modificantes do falar original. A Língua Portuguesa, originária do latim e cosanguínea de línguas como o italiano, espanhol ou francês, reflete com precisão esse processo de transformação ativo que acontece constantemente com a linguagem.

Desde o momento em que o português pisou no Brasil, perdeu um pouco de Portugal e ganhou um pouco de Tupi; de jacaré, de mandioca, abacaxi, tamanduá. Começou-se a gerar aí a Língua Brasileira. Com a chegada do africano, o povo ganha o batuque, a macumba, uma boa bagunça e o cafuné. Palavras e costumes, crenças e o multicolor da nova terra formam a cultura, nesse momento, que iria criar a base para todas as futuras variações do autêntico falar brasileiro.

A propagação da língua e sua consequente transformação, de indivíduo a indivíduo, de cidade a cidade, de região a região e no espaço comum, dão ao idioma esse caráter camaleônico e, por isso, colorido, principalmente ao se tratar de uma cultura tão vasta em um território tão extenso que é o Brasil. Inúmeros são os sotaques e variações, desde o nordestino arrastado até o gaúcho pizzicato; o português é um verdadeiro veículo de expressão de diferentes grupos, de diferentes ideias. Observam-se na música ou na literatura tamanhas possibilidades que fazem do português abrasileirado uma profunda e interminável fonte de criação.

O povo do Brasil deve orgulhar-se de sua autonomia linguística, no que diz respeito às suas tradições locais e sociais, uma vez que qualquer falar é o falar correto e rico por si só. A língua deve ser explorada e aceita em todas suas dimensões e incentivada aos mais jovens de modo que os faça entender seu caráter transformador e perpetuante, pois serão esses jovens que continuarão, por gerações, girando a manivela do mundo, girando a manivela da transformação.

(Jade Luz Ciconello)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Café

Desencarno arábias
de uma xícara morna
de café.
E um fio negro
me assedia a boca.

(Através da janela
o galho de pitanga
ostenta seu adorno
encarnado).

Viajo
pelo negror do pó:
Dar-El-Salam,
Bombaim,
Áden
(sem Nizan, sem Rimbaud):
as colinas ocres,
a poeira dos dias.

De onde vem o grão
dessa saudade?

Desentranho arábias
dessa xícara fria.
Enquanto aguardo o dia
que não chega.

Desacordo e sorvo
a sombra morna
do que sou
na borra
do café.

(Everardo Norões)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

cabeça um

pá de cal umbra pó umbra cinza umbra nada
depois o anedotário do sertão pau de cordel
a cabeça de lampião em auto pose lambe-

lambe percorre a fantasmal dos macacos se
desloca para os morros alvorada que beleza
quando a matraca benzedeira urge no corpo

dança o flash a foto de quem passa e marca
o recém garoto amarrado o pelourinho seco
da vergonha como de lampião a cabeça fora

o resto que separa o corpo e dá aos porcos
como pérolas que a serpente engorda e faz
parir da morte o cortejo célere dos ex-votos


(oswaldo martins)

domingo, 4 de outubro de 2015

entradas

fantasia de cartógrafo
excepcional e selvagem

o rio – rios – vaza barris
entorna à primitiva

drenagem caótica
das torrentes

o hipotético grau
da vazante


(oswaldo martins)

domingo na quinta

juntou-se a ele
na estação do engenho novo
estou no terceiro vagão
disse-lhe pelo celular

tinham combinado passear de barco
no lago da quinta da boa vista

agora sentados
deixavam-se tombar de costas
sobre a relva

elesbão ribeiro
04/10/15