sábado, 31 de março de 2012

Ode para as prostitutas espanholas


Para as moças da vila mimosa

mesmo que pelo peso do ouro
das pesetas envergonhadas

as perna se fecham aos putos
das limusines

aos putos das igrejas santander
e similares fábricas de ludibriar
a consciência

mesmo que pelo peso do corpo
as moças trancam a boceta
e colocam as armaduras nos peitos

dão um passo a frente e dizem
NÃO

*

não que se não faz de cruz ao peito
elas que não mais rezam seus rosários
sob as vestes dos santarrões
encapuzados

assaltantes das américas
que, segundo oswald,
transformaram nossas índias
em garotas das gares
em garotas da praça tiradentes
em garotas das quintas
da boa vista

**

as chinas espanholas ensinam
com o corpo e o silêncio do corpo
que o corpo místico das corporações

por isso fecham suas pernas
como se fechassem contas
e cobram as dívidas
das de antanho

e hoje
lavam as almas
e o corpo

dos desvalidos
dos coxos
e maltrapilhos

(oswaldo martins)




sexta-feira, 30 de março de 2012

nunca mais


nunca mais

os quantos foram os mortos
quando forem os mortos de sobrecasaca
a conta ainda não estará zerada

restarão nas covas ralas
os ossos polidos
dos cadáveres insabidos?

nunca mais

mortos
deixarão seus rostos
serem carcomidos pelos porões
da tortura

em cada esquina
se erguerão os fantasmas
desfigurados para exigir
o exigível

para agastar as botinadas
dos velhos gorilas

para cobrar os trinta anos de atraso
e outros tantos inflacionados
pelos bastardos

que assumiram como velhos bispos
as sinecuras de suas igrejas
e quartéis

(oswaldo martins)





quinta-feira, 29 de março de 2012

às vezes é assim


os dias em que nos cansamos da poesia
são os melhores dias para a poesia

ela some do alcance
do nosso olhar
saia discreta, sandália rasteira
e só

quando volta é de um jeito tão novo que
ninguém entende nem sabe se quer

você se senta para olhar de frente
para essa poesia fresca
e no final é ela
que se encanta
por você.

(Lúcia Leão)

quarta-feira, 28 de março de 2012





hopper



para daniela


o acaso
a verde voz

compõem harmonias
desde quando

os braços levantam
para a linha improvável

do sovaco


*

as incríveis pernas

desde o traço
rubro da calcinha

quando se senta
com aturdido estudo

no escorço da manhã

iluminam

**

as pernas
incrível realidade

do abismo

em afetivo atonal
sumarento jorro

que o fio de arame
guarda


***

ou o antes fio
de janela para janela

guarda as especulações
sobre a vida íntima

destas desconhecidas pernas
que andam

descoladas da peça
que os olhos

guardam


****

como em um quadro
de autonomias

a luz que desvela
tange

os olhos e em seus círculos
retina

sobre a retina
que as pernas

revelam


oswaldo martins

domingo, 25 de março de 2012

casamento, poesia


deixe-me trabalhar sozinha
porque as vozes me bastam
preciso de luz no canto esquerdo
sobre a pia e de céu azul na memória
água que interrompo cuidadosa

é preciso economizar este dia

a festa será mais tarde
e quando chegar a visita
estarei pronta para mais uma vez
mais uma vez escutar e ouvir

por agora preciso trabalhar

a massa do pão, a superfície da forma
espelhando meus olhos
esse assoalho
pedindo algo como
mais peso dos meus pés
e que se aproximem
deste corpo seu, mas preciso agora
ficar sozinha  

porque se eu não descobrir
o paladar correto desses sons
nunca saberei apurar
o tempero que nos seus me adoça
e arrepia.

(Lúcia Leão)

sábado, 17 de março de 2012

os pés de benjamim


os pés
lampejam do chão

pequeno tesouros
perdidos

na noite escura
do silêncio

cambaleiam danças
e madrugada


*

estes os pés
de leve

e assustados
tocam-me as coxas

como o estouro
de benjamim

preme percepção
e mundo

(oswaldo martins)

Quimera

os algodões
do nariz

pesam
sobre mim

(oswaldo martins - cosmologia do impreciso - di-glauberiana)

quarta-feira, 14 de março de 2012

A Poesia Partilhada


O Museu de Arte Murilo Mendes oferece o curso


A POESIA PARTILHADA:
uma introdução às linhas mestras
da lírica de língua portuguesa.


Objetivos:
  Através da leitura ativa de diversos poemas, compreender melhor as características da lírica de nossos dias.
  Estabelecer práticas de abordagem capazes de pavimentar o acesso à produção poética contemporânea.
  Romper os obstáculos que impedem um trânsito mais efetivo do texto lírico junto ao público leitor.
  Consolidar formas de leitura que estejam atentas à natureza polissêmica do fenômeno poético.


Programa:
  A essência da realização lírica.
  A tensão como princípio formador da trama poética.
  Uma forma sem fórmulas: leituras de poemas.
  O processo leitor-criador.
  Os limites da periodização literária.
  Muito além dos manuais: os manifestos e as mitologias poéticas.


Professor responsável:

Iacyr Anderson Freitas

Mestre em Letras pela UFJF (Área de Concentração: Teoria da Literatura). Ensaísta, poeta e contista; tendo sua obra divulgada em diversos países: Colômbia, Espanha, Argentina, Estados Unidos, França, Chile, Malta, Itália e Portugal. Seus livros obtiveram importantes premiações nacionais e internacionais, entre as quais destacamos: 1º lugar no Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte; Prêmio Nacional Eduardo Frieiro; Prêmio Nacional Centenário de Oscar Mendes (Ensaio); 1 º lugar no Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil (Poesia) e a Menção Especial no Prêmio Literário Casa de las Américas (de Cuba).



Matrícula:
De 12 a 20 de março de 2012, das 10h00min às 18h00min, na Secretaria do MAMM.

Investimento:
R$ 40,00 (quarenta reais).


Período de Realização do Curso:
De 21 de março a 06 de junho de 2012, somente às quartas-feiras, das 19h00min às 21h00min, no MAMM.


Informações Complementares:
- O MAMM irá conferir certificado de participação (75% de frequência mínima obrigatória, neste caso).



MAMM - Museu de Arte Murilo Mendes
Rua Benjamin Constant, 790 – Centro – Juiz de Fora.
Telefone: (32) 3229-9070

www.ufjf.br/mamm

DEIXA



deixa-me com minhas mãos
acariciar tuas costas
e acarinhar as nádegas
de teu corpo

deixa-me mordiscar
teus calcanhares
e beijar teus joelhos

deixa deixa
deixa-me descansar
em ti

deixa-me brincar outra vez
com os teus seios
e chegar outra vez em  tua boca

e quando em repouso
sobre meu ombro
deixa-me dizer-te ao ouvido
falas de amor.

elesbão
(24/12/11 e 13/03/12)

segunda-feira, 12 de março de 2012

pés


na composição de silêncios
os pés

desavisados dos deuses

sobem pelas panturrilhas
até o meio das coxas

deixam-se mornos
e leves

avisam:

amor esse,
bicho imperfeito

(oswaldo martins)

Les pas


Tes pas, enfants de mon silence,
Saintement, lentement placés,
Vers le lit de ma vigilance
Procèdent muets et glacés.

Personne pure, ombre divine,
Qu'ils sont doux, tes pas retenus !
Dieux !... tous les dons que je devine
Viennent à moi sur ces pieds nus !

Si, de tes lèvres avancées,
Tu prépares pour l'apaiser,
A l'habitant de mes pensées
La nourriture d'un baiser,

Ne hâte pas cet acte tendre,
Douceur d'être et de n'être pas,
Car j'ai vécu de vous attendre,
Et mon coeur n'était que vos pas.


(Paul Valery)

Pies Hermosos


La mujer que tiene los pies hermosos
nunca podrá ser fea
mansa suele subirle la belleza
por totillos pantorrillas y muslos
demorarse en el pubis
que siempre ha estado más allá de todo canon
rodear el ombligo como a uno de esos timbres
que si se les presiona tocan para elisa
reivindicar los lúbricos pezones a la espera
entreabir los labios sin pronunciar saliva
y dejarse querer por los ojos espejo

la mujer que tiene los pies hermosos
sabe vagabundear por la tristeza.


(Mario Benedetti)

domingo, 11 de março de 2012

Hugo Cabret


Rapaz, não resisto a comentar algo que li no seu blog. É que acabei de assistir à Invenção de Hugo sei lá o quê e vou te dizer uma coisa: este filme é o mais fraco de todos os filmes fracos do Scorsese, isto para não utilizar o calão. Eu fui dormir pensando neste assunto e por isso não pude deixar de escrever estas linhas quando acordo e vejo o comentário no seu blog. Este negócio de "homenagem ao cinema" se converteu numa das maiores picaretagens da sétima arte. Na verdade é (mais uma) demagogia deste filme. Ou seja, um filme 3D, 4 D, sei lá, que as câmeras quase entram pelas paredes, a neve cai em cima da gente, o cachorro quase nos baba, mas vejam só a verdadeira poesia do cinema eram na verdade aquelas coisas circenses e ingênuas do Mélies, de quem vocês, público ignaro (e aí vem também a coisa pedagógica, igualmente insuportável) jamais ouviram falar e de cuja notícia devem em muito agradecer a este cineasta do século 21 (ou ao menos mui sensível a ele, embora velho). Estas homenagens geram um "lirismo" (puxa, mas como ele sabe reconhecer a beleza do passado, não?) falso, tão superficial quanto o efeito "estético" dos truques digitais. O texto é um lixo, o roteiro (ai o calão) uma pobreza, incapaz de aproveitar as deixas mais óbvias que a trama lhe oferece, a música, um realejo amorfo (é engraçado, porque aparece o tempo todo um guitarrista com toda a cara do Django Reinhardt, mas nada se ouve do jazz cigano que já existia). Os atores não conseguem salvar o texto porque acho que nem JC conseguiria, o menino, fraquinho, fraquinho... Puxa rapaz, que decepção! Ora, se o Martin quer homenagear o cinema, que volte a fazer um filme que preste, que diabos.

(Ronald Iskin)

Namoro



a pele da sua alma
parece nome de canção
e deve ser a que você
entoa enquanto descemos
a escada para o museu
atrás do muro da catedral

não estamos em paris
mas num interior de brasil
as obras cobertas por goteiras
nossos pés seguindo
o cheiro de pipoca
doce, na calçada

nada merece mais amanhã
do que nós dois
neste instante que não é
febril nem desesperado
mas nosso

de fora, os musgos,
nos corredores o mofo 
o passado sufoca
alguém usa a palavra
an-tro-po-fa-gia
e o encanto quase se desfaz

mas eu retomo o fio

na praça central
o vento balança folhas
de árvores manchadas
de preguiças
é tempo de recolher
degraus, rostos, mãos

a pele que se desloca
e muda
se confunde.

sábado, 10 de março de 2012

pés


*


pés
desnudos e ágeis

como a linguagem
alucinam



**

o toque surdo
e benfazejo

lira
que depõe cuidados

pés
sobre o dorso

língua em queda
e o incendido fogo

das entranhas


***

tudo é clarão, pois

o andarilho
deixa-se andar

um, um outro
rua, um transeunte

já o governo das graças
um, o eu perdido

tu, linguagem que se ancha

(oswaldo martins)

sexta-feira, 9 de março de 2012

artifício que usa o poeta para conhecer a dama a quem tem feito a corte, porquanto ela não se dê a conhecer.


artifício que usa o poeta para conhecer a dama a quem tem feito a corte, porquanto ela não se dê a conhecer.


quando caminhamos lado
                             a lado
retardo, às vezes,
                             o passo

quando caminhamos lado
                              a lado
antecipo, às vezes,
                              o passo
vejo-te assim de todos os lados


quando antecipo meus passos
vejo-me
assim
          frente
                  a frente
na espera
                dos teus passos.


elesbão
(01/12/2011) 

sábado, 3 de março de 2012

Sarau e oficina na Moviola



10/03 tem sarau literário na Moviola das 18h as 21h.


12/03 Inicio das Segundas Literárias, sempre c/ a apresentação da obra de algum autor, começando com "A Poesia na Canção de Chico Buarque".

curadoria de Alexandre Faria e Oswaldo Martinsinscrições e infos: moviolaonline@gmail.com