segunda-feira, 19 de outubro de 2020

SONETOS A ORFEU (II.12)

Anseia pela mudança. Celebra a chama,

ainda que algo do novo se perca na transformação;

o gênio, mestre dos misteres terrestres, só ama,

na dança, o ponto de mutação.

 

Já é pedra quem estagnado se mantém;

supõe-se protegido quando em cinza se disfarça.

Aguarda: mais duro que o ferro é o aço quem vem do além.

Cuidado - o martelo ausente ameaça!

 

Quem como fonte flui, vem à luz pela percepção;

ela o conduz, feliz, pela criação serenada

que, às vezes, nasce no fim e finda no nascimento.

 

Todo tempo feliz é filho ou neto de separação,

que, pasmos, percorrem. E Dafne, transformada

em loureiro, deseja que te transformes em vento.

 

(RAINER MARIA RILKE - Tradução: Karlos Rischbieter e Paulo Garfunkel)

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