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Nas melhores cenas de Goya parece que vemos
as pessoas do mundo
no exato momento em que
pela primeira
vez elas ganharam o título
de ‘humanidade sofredora’
Tais pessoas se contorcem na página
num verdadeiro acesso
de
adversidade
Amontoadas
gemendo com
bebês e baionetas
sob um céu de cimento
pela paisagem abstrata de árvores
bombardeadas
estátuas decaídas
asas bicos de morcegos
patíbulos escorregadios
cadáveres galos
carnívoros
monstros finais berrantes todos
da
‘imaginação
do desastre’
tão danados de reais
que
até parece que ainda existem
E existem mesmo
Só mudou a
paisagem
Todos continuam em fila nas estradas que estão
infestadas de legionários
falsos moinhos de vento e
grandes galos dementes
E são aquelas mesmas pessoas
apenas mais distantes de casa
e em estradonas de cinquenta
pistas
num continente
de concreto
demarcado
por pencas de cartazes
que ilustram ilusões imbecis de
felicidade
A cena mostra menos carretas para a forca.
(Lawrence Ferlinghetti trad. Leonardo Fróes)
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