segunda-feira, 1 de julho de 2019

Leitura de agosto


Leitura Agosto

A Borra do café

Em A borra do café, Mario Benedetti mescla memória e invenção e resgata as lembranças de sua infância em Montevidéu para construir uma narrativa lírica, profunda, sobre as surpresas e as dificuldades do amadurecimento. Com seu peculiar lirismo e habilidade narrativa, o autor relata pequenos acontecimentos de uma vida distante, fazendo com que o leitor reconheça a si mesmo.

Na figura do jovem Claudio, o consagrado escritor uruguaio, autor de A trégua, reinventa muitas passagens marcantes de sua própria vida: as brincadeiras de rua com os amigos, as constantes mudanças de bairro com a família, a trágica morte da mãe e a descoberta do amor e do sexo.

Em seu texto de apresentação do livro, a escritora Martha Medeiros destaca que toda história de infância corre o risco de parecer piegas. Mas que, no caso Benedetti, a narrativa escapa desta sina, graças ao talento do escritor. Ressalta ainda que, com mais de 80 livros publicados, a poesia comum a seus livros jamais o deixou na mão, mesmo quando não era um poema o que escrevia. “Fosse um manifesto político ou uma história contemporânea, sua emoção permaneceu desinfetada de lugares-comuns”, descreve.

“E não foi diferente quando escreveu A borra do café, que conta a história de um garoto de Montevidéu que se apaixonou primeiro pela professora e depois por uma menina que ele não sabia se existia ou se era fruto da sua imaginação. Um dia, descobriu o cadáver de um mendigo, confrontando-se com a morte pela primeira vez, e logo perdeu a mãe, aos 12 anos, tendo com a morte uma intimidade ainda mais indesejável. De primeiras, segundas, terceiras vezes se faz essa ficção com jeito de biografia. Benedetti nos conduz com humor e lirismo às suas aventuras e desventuras, tenham sido elas vividas ou inventadas”, aponta a escritora em seu texto de orelha.

Segundo o Jornal público o romance de Banedetti:

A prosa sóbria de Benedetti, tão característica do seu estilo, narra uma história realista (mas pontuada em vários episódios decisivos pela menção a uma hora “mágica”: as três e dez da tarde; o elemento de conexão entre o tempo e as circunstâncias) que no último capítulo se transforma em onírica e com elementos que por momentos poderão evocar o “realismo mágico” ou o fantástico: Claudio viaja de Montevideu para Quito, no Equador, para participar numa reunião profissional, numa companhia aérea que ninguém conhece, a Aleph Airlines, e já durante o voo o comandante anuncia que se dirige para Mictlán. Ora, a referência ao Aleph remete de imediato para o livro homónimo de Borges – em que as histórias têm como tema o sentido e o significado do tempo, o enigma do Universo e a compreensão da eternidade, a transcendência da palavra – e Mitclán é o nome do reino dos mortos nas culturas pré-colombianas. Mario Benedetti sublinha assim as relações entre a vida e a morte na reconstituição da vida de Claudio.

A bela senhora Seidenman

No cotidiano abalado pela ocupação alemã da Polônia, Szczypiorski busca o retrato da humanidade no século XX. O gueto judeu de Varsóvia resiste, com seus personagens marcantes, como o rebelde Pawełek Krynski, alter-ego do autor, produto do país onde convivem poloneses, judeus, alemães e outros; e o velho ferroviário socialista Filipek, que se engaja numa aliança peculiar com o alemão Müller — e toda uma rede de vizinhança — para salvar dos porões da Gestapo a bela senhora Seidenman que enfrenta, determinada e desafiadora, seu verdugo nazista.

Sobre o romance escrevei Moacyr Scliar:

Paixão
Estamos diante de um romance de ideias, mas escrito com uma paixão avassaladora, que envolve por completo o leitor. O cenário é a Varsóvia ocupada pelos nazistas, no tenso período em que os judeus estavam sendo enviados para o extermínio.
A senhora Seidenman, uma judia que, ajudada por amigos poloneses, consegue convencer com sucesso o comandante nazista de que é polonesa, na verdade nem é a figura principal (diferente das edições em francês, inglês e português, em polonês a obra intitula-se "Poczatek", o começo).
Junto dela temos uma galeria de personagens, todos envolvidos, direta ou indiretamente, na perseguição aos judeus: a irmã Verônica, que salva crianças judias convertendo-as ao catolicismo; o jovem rebelde Pawel, um alter-ego do autor; o alemão Mueller, que ajuda a senhora Seidenman, enganando o comandante nazista Stukler; o assaltante Wiktor Suchowiak, que salva a menina judia Joasia. É verdade que há também tipos abomináveis, como Bronek Blutman, que sobrevive denunciando outros judeus.
Aliás, se algum reparo pode ser feito ao romance, é exatamente este: fica visível a ânsia do autor pela equanimidade, o que se manifesta na seleção de personagens - em cada grupo existem os "maus" e os "bons". Mas predominam estes últimos, a demonstrar que, mesmo nas piores circunstâncias, podemos encontrar gente decente e idealista.
É, convenhamos, uma mensagem que não ouvíamos desde os tempos da literatura engajada. Mas é uma mensagem resultante de coerência pessoal do autor: "Uma Missa para a Cidade de Arras" (1971), que abordava a perseguição a judeus e heréticos no século 15, já se constituía em resposta à campanha antissemita então em curso em seu país.
Andrzej Szczypiorski deu uma importante colaboração para melhorar as relações entre poloneses, alemães e judeus, o que lhe valeu o Prêmio de Literatura Europeia (Áustria) e o Prêmio Nelly Sachs, este com o nome da grande poeta judia.
Em homenagem póstuma, em 2002, o então ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, ressaltou a coragem do escritor frente aos desafios totalitários do século 20. Coragem da qual este livro dá admirável testemunho.


05/08 – A borra do café – Mário Benedetti

12/08 – A borra do café – Mário Benedetti

19/08 – A bela senhora Seidenman - Andrzej Szczypiorski

26/08 – A bela senhora Seidenman – Andrzej Szczypiorski


Local: Rua Pires de Almeida 76/201- Laranjeiras
Duração dos encontros 1:30 h.
Horário: das 20:00 às 21:30 h.
Custo: 400,00 reais os quatro encontros
Mediador de leitura: Oswaldo Martins

Inscrições pelo tel (21)981438622

Oswaldo Martins, nascido em Barbacena – MG, em 1960, reside no Rio de Janeiro desde 1979. Fez graduação em Letras (Português-Literatura), pela PUC-RJ o mestrado (Literatura Brasileira), pela UERJ. Autor dos livros desestudos (2000 -  7 Letras / 2015 TextoTerritório); minimalhas do alheio (2002 – 7 Letras / 2015 – TextoTerritório);  lucidez do oco (2004 – 7 Letras / 2015 – TextoTerritório) cosmologia do impreciso (2008 – 7 Letras); língua nua (com ilustrações de Elvira Vigna 2011 – 7 Letras); lapa (2014 – TextoTerritório); manto (2015 – TextoTerritório); paixão (sobre imagens de Roberto Vieira da Cruz, 2018 – TextoTerritório)

Fez os roteiros dos filmes Urânia, poema de Alexandre Faria (com Felipe David Rodigues – 2009); Venta-não, (com Felipe David Rodrigues e Alexandre Faria – 2013). É editor da TextoTerritório.

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