Oswaldo Martins. Poeta e professor de literatura. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório
domingo, 14 de julho de 2019
quarta-feira, 10 de julho de 2019
relatos mais pequenos sobre coisas miúdas
para oswaldo martins
Surpreendeu parentes e amigos ao desfazer o noivado. Tão bem apanhado, tão bem situado, juiz de primeira instância; é uma tonta a nossa filha, dizia a mãe. Ó rapariga o que fizeste? Por que mandaste o rapaz embora. Escreve sonetos parnasianos, meu pai.
Surpreendeu parentes e amigos ao desfazer o noivado. Tão bem apanhado, tão bem situado, juiz de primeira instância; é uma tonta a nossa filha, dizia a mãe. Ó rapariga o que fizeste? Por que mandaste o rapaz embora. Escreve sonetos parnasianos, meu pai.
Fizeste bem.
Elesbão Ribeiro
segunda-feira, 8 de julho de 2019
desimitação anafórica
há quem escreva a partir do divã
e consinta dores a palavras vãs
há as que clamam por divãs
há as que clamam por odivan
outras se satisfazem com onã
outras se veem estrelas anãs
outras anáforas de aldebarã
(oswaldo martins)
segunda-feira, 1 de julho de 2019
Leitura de agosto
Leitura Agosto
A Borra do café
Em A borra do café, Mario
Benedetti mescla memória e invenção e resgata as lembranças de sua infância em
Montevidéu para construir uma narrativa lírica, profunda, sobre as surpresas e
as dificuldades do amadurecimento. Com seu peculiar lirismo e habilidade
narrativa, o autor relata pequenos acontecimentos de uma vida distante, fazendo
com que o leitor reconheça a si mesmo.
Na figura do jovem Claudio, o
consagrado escritor uruguaio, autor de A trégua, reinventa muitas passagens
marcantes de sua própria vida: as brincadeiras de rua com os amigos, as
constantes mudanças de bairro com a família, a trágica morte da mãe e a
descoberta do amor e do sexo.
Em seu texto de apresentação do
livro, a escritora Martha Medeiros destaca que toda história de infância corre
o risco de parecer piegas. Mas que, no caso Benedetti, a narrativa escapa desta
sina, graças ao talento do escritor. Ressalta ainda que, com mais de 80 livros
publicados, a poesia comum a seus livros jamais o deixou na mão, mesmo quando
não era um poema o que escrevia. “Fosse um manifesto político ou uma história
contemporânea, sua emoção permaneceu desinfetada de lugares-comuns”, descreve.
“E não foi diferente quando
escreveu A borra do café, que conta a história de um garoto de Montevidéu que
se apaixonou primeiro pela professora e depois por uma menina que ele não sabia
se existia ou se era fruto da sua imaginação. Um dia, descobriu o cadáver de um
mendigo, confrontando-se com a morte pela primeira vez, e logo perdeu a mãe,
aos 12 anos, tendo com a morte uma intimidade ainda mais indesejável. De
primeiras, segundas, terceiras vezes se faz essa ficção com jeito de biografia.
Benedetti nos conduz com humor e lirismo às suas aventuras e desventuras,
tenham sido elas vividas ou inventadas”, aponta a escritora em seu texto de
orelha.
Segundo o Jornal público o
romance de Banedetti:
A prosa sóbria de Benedetti, tão
característica do seu estilo, narra uma história realista (mas pontuada em
vários episódios decisivos pela menção a uma hora “mágica”: as três e dez da
tarde; o elemento de conexão entre o tempo e as circunstâncias) que no último
capítulo se transforma em onírica e com elementos que por momentos poderão
evocar o “realismo mágico” ou o fantástico: Claudio viaja de Montevideu para
Quito, no Equador, para participar numa reunião profissional, numa companhia
aérea que ninguém conhece, a Aleph Airlines, e já durante o voo o comandante
anuncia que se dirige para Mictlán. Ora, a referência ao Aleph remete de
imediato para o livro homónimo de Borges – em que as histórias têm como tema o
sentido e o significado do tempo, o enigma do Universo e a compreensão da
eternidade, a transcendência da palavra – e Mitclán é o nome do reino dos
mortos nas culturas pré-colombianas. Mario Benedetti sublinha assim as relações
entre a vida e a morte na reconstituição da vida de Claudio.
A bela senhora
Seidenman
No cotidiano abalado pela
ocupação alemã da Polônia, Szczypiorski busca o retrato da humanidade no século
XX. O gueto judeu de Varsóvia resiste, com seus personagens marcantes, como o
rebelde Pawełek Krynski, alter-ego do autor, produto do país onde convivem
poloneses, judeus, alemães e outros; e o velho ferroviário socialista Filipek,
que se engaja numa aliança peculiar com o alemão Müller — e toda uma rede de
vizinhança — para salvar dos porões da Gestapo a bela senhora Seidenman que
enfrenta, determinada e desafiadora, seu verdugo nazista.
Sobre o romance escrevei Moacyr
Scliar:
Paixão
Estamos diante de um romance de
ideias, mas escrito com uma paixão avassaladora, que envolve por completo o
leitor. O cenário é a Varsóvia ocupada pelos nazistas, no tenso período em que
os judeus estavam sendo enviados para o extermínio.
A senhora Seidenman, uma judia
que, ajudada por amigos poloneses, consegue convencer com sucesso o comandante
nazista de que é polonesa, na verdade nem é a figura principal (diferente das
edições em francês, inglês e português, em polonês a obra intitula-se
"Poczatek", o começo).
Junto dela temos uma galeria de
personagens, todos envolvidos, direta ou indiretamente, na perseguição aos
judeus: a irmã Verônica, que salva crianças judias convertendo-as ao
catolicismo; o jovem rebelde Pawel, um alter-ego do autor; o alemão Mueller,
que ajuda a senhora Seidenman, enganando o comandante nazista Stukler; o
assaltante Wiktor Suchowiak, que salva a menina judia Joasia. É verdade que há
também tipos abomináveis, como Bronek Blutman, que sobrevive denunciando outros
judeus.
Aliás, se algum reparo pode ser
feito ao romance, é exatamente este: fica visível a ânsia do autor pela
equanimidade, o que se manifesta na seleção de personagens - em cada grupo
existem os "maus" e os "bons". Mas predominam estes
últimos, a demonstrar que, mesmo nas piores circunstâncias, podemos encontrar
gente decente e idealista.
É, convenhamos, uma mensagem que
não ouvíamos desde os tempos da literatura engajada. Mas é uma mensagem
resultante de coerência pessoal do autor: "Uma Missa para a Cidade de
Arras" (1971), que abordava a perseguição a judeus e heréticos no século
15, já se constituía em resposta à campanha antissemita então em curso em seu
país.
Andrzej Szczypiorski deu uma
importante colaboração para melhorar as relações entre poloneses, alemães e
judeus, o que lhe valeu o Prêmio de Literatura Europeia (Áustria) e o Prêmio
Nelly Sachs, este com o nome da grande poeta judia.
Em homenagem póstuma, em 2002, o
então ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, ressaltou a
coragem do escritor frente aos desafios totalitários do século 20. Coragem da
qual este livro dá admirável testemunho.
05/08 – A borra do café – Mário Benedetti
12/08 – A borra do café – Mário Benedetti
19/08 – A bela senhora Seidenman - Andrzej Szczypiorski
26/08 – A bela senhora Seidenman – Andrzej Szczypiorski
Local: Rua Pires de Almeida 76/201- Laranjeiras
Duração dos encontros 1:30 h.
Horário: das 20:00 às 21:30 h.
Custo: 400,00 reais os quatro encontros
Mediador de leitura: Oswaldo Martins
Inscrições pelo tel (21)981438622
Oswaldo Martins, nascido em
Barbacena – MG, em 1960, reside no Rio de Janeiro desde 1979. Fez graduação em
Letras (Português-Literatura), pela PUC-RJ o mestrado (Literatura Brasileira),
pela UERJ. Autor dos livros desestudos (2000 -
7 Letras / 2015 TextoTerritório); minimalhas do alheio (2002 – 7 Letras
/ 2015 – TextoTerritório); lucidez do
oco (2004 – 7 Letras / 2015 – TextoTerritório) cosmologia do impreciso (2008 –
7 Letras); língua nua (com ilustrações de Elvira Vigna 2011 – 7 Letras); lapa
(2014 – TextoTerritório); manto (2015 – TextoTerritório); paixão (sobre imagens
de Roberto Vieira da Cruz, 2018 – TextoTerritório)
Fez os roteiros dos filmes
Urânia, poema de Alexandre Faria (com Felipe David Rodigues – 2009); Venta-não,
(com Felipe David Rodrigues e Alexandre Faria – 2013). É editor da
TextoTerritório.
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