terça-feira, 29 de maio de 2018

matisse


10

essa mulher sem rosto, marroquina
vivia num prostíbulo elegante de espanha

depois mudou-se com seu tapete
para uma casa qualquer e lá deixou-se
envelhecer com seu gato

(oswaldo martins)

segunda-feira, 28 de maio de 2018


francesa, mg
(oswaldo martins)



4

o nu blue foi conquistado
quando matisse visitou
no lugarejo de francesa mg

a puta que em sua casa dava
aos visitantes a metamorfose
dos tons cambiantes cujas

réguas torciam de espantos
o experimento de deus

(oswaldo martins)

sexta-feira, 25 de maio de 2018

goya



pichar os muros
como se último goya
em abismo a preto e branco
das desfiguras que assombram
opinativas o país carcomido dos asnos
que avoam qual mostrengos que o levam
como se lavassem a alma ao poço bem fundo
das masmorras ao desalento e ao gáudio funesto

da desrazão


(oswaldo martins)

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A árvore e a nuvem


Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.

Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.

(1962)

TOMAS TRANSTRÖMER


quinta-feira, 10 de maio de 2018

o socalco da madame


do sul primário a lição das descoisas:
um fio q se arrasta feito de soberbas
no próprio umbigo a olhar-se ousia
do vago-simpático feitor de escravos

do sul primário a raiva dos privilégios:
um q! cu róseo de aromáticas águas
aos traques do pseudo alabastrino
vaso de vazar as tripas intestinas

do sul primário a malsã consciência:
do quid do quê – puto discursivo
de alquímicas lambanças finas –
quando desanca a baiana voz

dos paraíbas

(oswaldo martins)

quinta-feira, 3 de maio de 2018

matula


as praças transitam por meus ombros
carrego-as a tiracolo e translúcidas
borboletas pousam-me os escombros
atassalhados pelas larvas úmidas

bebo o rasto líquido das pernas
que transitam no vai e vem das calçadas
me chutam me pisam como deidades
neo-liberadas de extensas catervas

me indagam se de divas se de súcubas
o manto das praças pórticas cobre-me
a mão descarnada da mão defunta

por vagar sem defesas como ao léu
andam os homens cujas bolas caput
pelos honrados homens da lei

(oswaldo martins)

malta

que os versos os proíbam
velhos poetas da minha laia
a certeza que se segue
às palavras

que lhes tragam antrazes
não na alma
que é lugar vazio
mas feridas nas pernas

e lhes façam pungir
o engodo dos nomes
pelas noites malsãs
da sordidez

(oswaldo martins)