1
Jorge Amado, no A descoberta da
América pelos turcos, vai, nas primeiras páginas da novela, classificar as
bocetas. A classificação que mais chamou minha atenção – até porque a
personagem principal é detentora de uma – foi a boceta de chupeta. O desgraçado
me fez até hoje buscar por essa boceta – néctar dos deuses.
2
Foi no Emissário do Diabo, de
Gilvan Lemos, que li pela primeira vez a proximidade de Deus com o sexo. Não
com o sexo etéreo dos anjos, mas o sexo carnal, lambuzado e sofrido, como uma
consciência pesada. Desde então tenho procurado desafiar as alturas do divino.
3
Li – não sei mais onde – uma
entrevista, decerto – um autor alemão dissertar sobre a questão da leitura, ou
melhor, do gosto pela leitura. Dizia o tedesco que fez seus filhos se
apaixonarem por livros, deixando no banheiro alguma obra libertina, como se
fosse um esquecimento. Apliquei o método com meus filhos. Acho que deu certo.
Por isto, agradeço ao Decamerão, ao grande poeta português Bocage e ao velho
Aretino. Entretanto, agradeço à boa literatura que Henry Miller nos deixou,
certo gosto por obras ousadas e pelas nomeações claras dos desejos.
4
Mais que por Bukowski, encantei
pela nudez de Ornella Mutti que contracena com Bem Gazarra, no filme de Marco
Ferreri, Crônica de um amor louco. Depois que li o americano, continuo
preferindo o filme.
5
José de Alencar é bom para fazer
chorar, de raiva.
6
O livro de contos do Carlos
Drummond. Como contista, o poeta mineiro é tão ruim como o Machado poeta, com
aquelas baboseiras sobre a Carolina. Romântico e babão.
7
Junikiro Tanizaki tem um livro
que me encanta mais que os outros escritos por ele. Elogio da sombra. Entre as
diversas narrativas e descrições preciosas que nos dá, diverte-me imaginar que
os haicais tenham sido escritos enquanto os poetas, fazendo uso dos belos
banheiros da tradição japonesa, se demoravam a ouvir o barulho do riacho que
lhes levava as fezes e permitia a permanência das sensações. Depois disso achei
os do Leminski, poeta curitibano meio bobos.
8
Agrada-me menos a voz possante do
velho deus da Bíblia. Mais a voz mansa de Safo e dos amores ilícitos. Salvo os
cânticos de sacanagem de Salomão.
(oswaldo martins)