terça-feira, 20 de junho de 2017

memórias sentimentais de um leitor randômico 2

1

Sempre gostei de ler autores que nunca li e alguns a que volto continuamente. Dentre estes últimos está o Sergio Sant’Anna, autor de grande capacidade crítica e percepção da vida, talvez seja hoje nosso principal autor vivo, o que não é pouco. Seu último livro, O Conto Zero, determina uma ordem de leitura que permite o leitor passear por pelo menos cinquenta anos de literatura.

2

A dura escrita de Cesar Cardoso disfarça-se de humor, mas é rascante e ferina, como o rasante de uma ave rapinante. Seus Urubus – procure, leitor desatento, saber deles – abrem voos sobre a fabricação da vida, abrem voos sobre as feridas expostas do nosso cotidiano. Assim como Sérgio, Cesar nos faz passear pelos milênios da boa literatura, sem conceder uma mínima brecha que seja ao sossego burguês de todos nós. Mas o que mais me delicia nos livros dele, e nesse, em particular, é a presença da prosa poética que atinge os limites da perfeição.

3

Não gosto da literatura umbigo. Não gosto da literatura como verdade – lembra-me o coitado do Alvarez de Azevedo que queria nos dizer a verdade, toda a verdade. Não gosto da poesia sentimental. Não gosto da literatura que põe a emoção antes da palavra, a palavra antes da sintaxe, da sintaxe como torneio para o nada dizer. Por isso não gosto de Bilac, nem de Quintana. E não tolero o tolo Casimiro e duvido muito, mas muito mesmo, de quase todo o século XIX brasileiro. Quem nos salva o século é Machado, é Souzandrade e talvez a putaria explícita do único Guimarães possível, o Bernardo.

4

Cruz e Souza tinha pretensão demais, acabou poeta católico.

5

Cuidado, Adélia!


(oswaldo martins)

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