segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

pilulinha 45

Submissão, o livro de Michel Houllebecq, é um romance de um cinismo triste. Ao construir um narrador em primeira pessoa, professor universitário, se permite analisar os rumos a que chegaria a sociedade ocidental, europeia e francesa, em particular, caso houvesse uma islamização deste mundo. A questão central não se coloca, entretanto, numa simples rejeição de um padrão religioso, mas, sobretudo na capacidade de adaptação do homem aos meios sociais a que são “obrigados” a aderir.  

A adesão se torna tão ignóbil quanto cínica. Às minissaias e ao amor livre, pretenso e ainda nos seus restolhos, substituem-se os véus, as saias compridas e a poligamia masculina. Substituem as roupas que permitem ver as coxas, delinear as bundas, altear os seios, por um mercado de roupas íntimas fadado a vestir as esposas do neoconvertidos ao islã.

A reflexão de Houllebecq expõe ainda a incapacidade de produção dos meios universitários, voltados para questões que desligam o chamado intelectual, do mundo real, social ou político. Tanto se pode verificar este afastamento quanto maior é o nível de adesão e de submissão aos valores que, a partir de uma frente ampla encabeçada pelo partido da Fraternidade Mulçumana e acompanhada pelos partidos tradicionais do mundo político francês, par derrotar a iminente vitória de Lê Pen, se tornam moeda de troca.

Destruidor, o romance é obrigatório para os que se sentem perdidos ante a vertiginosa mudança que o mundo contemporâneo tem sofrido.

(oswaldo martins)


Um comentário:

  1. Ele vende muito aqui. Manuela, minha filha, pegou uns dois livros dele na biblioteca pública mais próxima. Nem lhe perguntei o que achou, porque nunca me interessou muito, segundo as resenhas que li.

    ResponderExcluir