O mestre e a Margarida, romance do escritor russo
Mikhail Bulgákov, constitui uma bela alegoria sobre os regimes autoritários e seus
incompetentes burocratas, sejam os homens do regime, sejam seus poetas e
editores, outros estafetas, sempre alardeadores de verdades intransitivas e inquestionáveis.
Servem tanto uns quanto outros como matéria de escárnio; quando atravessados pelo
pequeno poder das vantagens administrativas, se contentam em ser arautos dos
bons vinhos, das boas companhias e da soberba da verdade duvidosa que defendem.
Transporte-se o
leitor deste belo livro para as rússias stalinistas, para as edulcoradas
verdades capitalistas das américas macarthistas, ou ainda para os que, à sombra
dos partidos, fazem o proselitismo dos grandes líderes. Transpor-se o leitor e
encontre um poeta e um editor de propagandas oficiais a discutir a inexistência
histórica dos cristos; para melhor servir ao poder do estado, não lhes bastava
a negação religiosa, era necessário negar a própria existência dos instrumentos
de tortura com que os poderosos de sempre tentam esconder a verdadeira face dos
regimes públicos. Transporte-se o leitor para essa conversa surrealista e
encontre, meio que sorrateiro aos dois – poeta e editor –, o diabo em pessoa. Transporte-se
o leitor e entre na sátira alegórica de O mestre e a
Margarida.
Deleite-se com
os incêndios, com as mulheres nuas, com os homens ensandecidos, com os que se
perdem, com o poder do dinheiro, com as trapalhadas dos burocratas e arautos,
com a inoperância da polícia e com esse diabo dos capetas!
(oswaldo
martins)
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