terça-feira, 27 de setembro de 2011

roubo

roubo

roubaram-me as roupas enquanto estava nu
mas não me fazem falta
as roupas que me roubaram

(no meu tempo de criança-adolescente, as nossas mães nos faziam uns calções que eram pendurados na cintura por um frágil elástico. puxávamos o calção dum e doutro quando queríamos zoar de alguém. tive pesadelos, nessa época- nunca quis ficar com a bunda de fora)

elesbão
(25/09/2011)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Aproximações e distanciamentos

KLEINE ASTER

Ein ersoffener Bierfahrer wurde auf den Tisch gestemmt.
Irgendeiner hatte ihm eine dunkelhellila Aster
zwischen die Zähne geklemmt.
Als ich von der Brust aus
unter der Haut
mit einem langen Messer
Zunge und Gaumen herausschnitt,
muss ich sie angestossen habe, denn si glitt
in das nebenliegende Gehirn.
Ich packte sie ihm in die Brusthöhle
zwischen die Holzwolle,
als man zunähte.
Trinke dich satt in deiner Vase!
Ruhe sanft,
kleine Aster!


VIOLETA

Um entregador de cerveja afogado foi posto sobre a mesa.
Alguém fincou-lhe entre os dentes uma violeta de um lilás claro-escuro.
Quando de dentro do peito,
por baixo da pele,
com um grande bisturi,
cortei para fora língua e palato,
devo tê-la acertado, pois escorregou
para dentro do cérebro ali ao lado.
Coloquei-a na cavidade toráxica
entre a linha dos pontos
costurados.
Sacie no seu vaso sua sede!
Descanse em paz,
violeta!

(Gottfried Benn)


Poema retirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado

(Manuel Bandeira)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fios desfeitos

A casa se ergue, mas a estrutura continua cindida
Salto no escuro rostos opacos olhares vazios
O tempo a decantar lágrimas
A roda do moinho corta grita grunhi
Quebro o tempo e os ponteiros do relógio
O mundo anda ao revés
Cabeça a girar tonteira infecta
Corro a vomitar no tempo e no tanque


Maria Tereza Pereira Cardoso

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

L'INFINITO / O INFINITO DE LEOPARDI

L’infinito
Sempre caro mi fu quest'ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
Dell'ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quiete
Io nel pensier mi fingo; ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l'eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e il suon di lei. Cosi tra questa
Immensita s'annega il pensier mio:
E il naufragar m'è dolce in questo mare.
Giacomo Leopardi

O infinito de Leopardi
Sempre cara me foi esta colina
Erma, e esta sebe, que de tanta parte
Do último horizonte, o olhar exclui.
Mas sentado a mirar, intermináveis
Espaços além dela, e sobre-humanos
Silêncios, e uma calma profundíssima
Eu crio em pensamentos, onde por pouco
Não treme o coração. E como o vento
Ouço fremir entre essas folhas, eu
O infinito silêncio àquela voz
Vou comparando, e vêm-me a eternidade
E as mortas estações, e esta, presente
E viva, e o seu ruído. Em meio a essa
Imensidão meu pensamento imerge
E é doce o naufragar-me nesse mar.

Giacomo Leopardi
(tradução de Vinicius de Moares)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Parrhesia

Falavras
para andré rios
falavras quê do dizerem em grego românico itálico ou português, de lá e de cá, em alemão, mermão; falavras para o estupor do não ler para o estuprar do não saber ler onde se não lê, para estripar do ventre da falavra a leitura as leituras que se fecham e cadenciam a ignorância das pessoas e cedem à ignorância das escolas porcas
falavras quê contrárias aos modos e modas contra a língua museológica dos poetas de antanho e hoje quê ao vento falavras ao vento aos ventos neológicos do tesão que dá usar falavras ou quaisquer do sânscrito da cachorra, bandida, cavala que encanta tua boceta e o caralho vetusto mesmo dos velhos assanhados que cagam e andam para os significados quê das boutiques de variedades
falavras quê as alacônicas das medas como os comprimidos de viagra aos potes revolvem as velhas palavras que não falavras quê antinome do silêncio do cabisbaixo pajé de bernado que ao som dos elixires borés se alevanta mais que os alevantados filhos do império de camões ou os piagas de gonçalves com suas indianegras
falavras quê mulatas cafuzas mamalucas eu as quero fora dos esquadros dos quadros bonitinhos das que antibalançam o ventre nas passarelas da grana e dos negócios falação antisintagmática felação degustativa do outro falavras quê saboreio do monte das elevações protuberantes desde ur desde el sur já que tudo é em língua e prazer comprazer de falavras quê
onde arthur o bispo do rosário já se dês é do anjo azul ou herdeiro sarará desfaz a cama em anticanto onde falavras quê são argumento sólidos teorias válidas para enfrentar a vida e rir dos afortunados que temem a cama onde arthur se deita entre véus macumbas e pequenas peças móveis a que dão-se nomes de baratas e percevejos falavras de arthur conselheiro
cajado e cabelo ao relento falavras quê glauberiana dicalvalcantiana esse que de hora em hora assalta as cidades os comezinhos dos antigos coronéis de antanho e os cultores da coronela tv que atravancam os livros onde as falavras dançam e atiçam o fogo como canta o muezim ou cantou em canudos ou santo pixinguinha de mesma lavra quê
quê em falavras eu lhes xingo soldados vagabundos das línguas.
(Oswaldo Martins)

O Santo


Solidão (Geraldo Babão)

Nelson Cavaquinho (1/5)

MARILIA MEDALHA-ICEBERG

Marília Medalha canta "Pressentimento"

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Entrevista dada à revista Setor X

Oswaldo Martins é poeta e professor de literatura. Já publicou quatro livros de poesia, desestudos (2000), minimalhas do alheio (2002), lucidez do oco (2004) e cosmologia do impreciso (2008). Possui dois inédito, Lapa e Língua Nua (com gravuras da escritora e artista plástica Elvira Vigna). Atualmente trabalha na recriação poética da obra e da personalidade de Arthur Bispo do Rosário.
Lamentavelmente, apesar do sério trabalho quem vem desenvolvendo com a linguagem poética, seu nome ganhou mais circulação na grande mídia depois que veio a público sua demissão da Escola Parque, na zona sul do Rio, em função do teor de alguns poemas de seu último livro.
SETOR X: O que, em sua opinião, faz com que a autoria de certas obras de ficção seja considerada criminosa ou, mesmo sem julgamento da causa, levem seus autores a sofrer sanções e represálias morais e materiais?
OSWALDO MARTINS: Antes de responder diretamente as questões, uma série de pressupostos deve ser levantada. Desde logo o pressuposto que concede à literatura o estatuto de ficção, de suspensão do processo comunicativo como finalidade, digamos, prática. A literatura e a ficção em geral, seja ela teatral ou fílmica, partem do princípio de que o que ali se usufrui é um arranjo intencionado e com um fim que destoa da linguagem que as pessoas usam no dia a dia. Costumo dizer que a literatura nunca diz o que diz, há sempre um segundo texto que permite perceber a intenção de desvelar algo que se escondia do senso comum.
A partir deste primeiro pressuposto, desdobram-se outros. Um primeiro desdobramento é a liberdade de construir o texto de tal maneira que a personagem utilizada pelo escritor – enquanto parte de um texto ficcional – não se transforma de maneira alguma em uma pessoa. É sempre parte do enredo que se conta, que se constrói e cujo centro não é de maneira alguma ela mesma, a personagem. Por esta razão lamento profundamente a atitude da escola posto que não houve a capacidade de distinguir o pressuposto literário da vida particular – o que nos leva ainda a lamentar e a verificar o quão simplória é a matéria comunicativa que domina nossos meios de comunicação de massa e o quanto ainda devemos à incapacidade de compreensão que o texto escrito exige de seus leitores. Acreditar que um texto seja capaz de interferir de maneira absoluta na condução dos negócios particulares é no mínimo não entender que a capacidade de interferência se dá mais além, na própria consideração do institucional e do particular.
SETOR X: Nesse sentido, você está falando de uma falta de familiaridade geral com a ficção, algo que estaria relacionado não exatamente à falta de leitores, mas de bons leitores?
OSWALDO MARTINS: Sim. A incapacidade de ler leva à triste facilidade de edulcorar obras que não tenham valor – senão o de imediata comunicação com o público, obras que visam não só uma ação, mas uma ação voltada para certezas que o público possui anteriormente à própria obra, como se fossem o espelho da realidade e não uma possível reflexão sobre a realidade multifacetada que se acerca de todos nós. Daí que tanto a obra de propaganda política quanto a obra de comiseração social sejam de certa forma criadas sob um realismo tosco e uma visão de literatura no mínimo falha.

SETOR X: Mas ainda assim, recepção equívoca de obras literárias, também não acabaria nivelando a literatura ao uso mais cotidiano da linguagem, de que se aproxima esse realismo tosco?
OSWALDO MARTINS: Sim, porque embora a literatura não use a linguagem utilitária, ela tem um poder de despertar as pessoas, abrir um espaço de percepção que a linguagem utilitária vedava. A partir do momento em que se abre essa percepção, necessariamente o choque se dá. As duas linguagens passam a ser confrontadas, a do troca--troca do cotidiano e a intencional. Além do mais isso está também relacionado à forma de se perceber o que é literatura. As pessoas têm a impressão de que a literatura é o retrato fidedigno da realidade, e ao criar o seu discurso, que se contrapõe ao discurso utilitário, abre-se um fosso entre o indivíduo e a ação pública. Se a ação pública é normativa, a literatura busca desnormatizar os comportamentos. E isso vai gerar conflitos. Esses conflitos podem ser lidos de uma forma ou de outra. Por exemplo, um dos meus poemas que teve problema foi o Lições Oswaldianas:

“as professoras dariam nuas as de história
por sua vez alunas e alunos também nus
assimilariam o que a história nos roubou
a celebração do corpo e do espírito assim
recolocados permitiriam a nossos jovens
a experiência dos ferozes tupinambá”

Um poema como esse obviamente não propõe que ninguém dê aula nu. Ao retomar a antropofagia de Oswald de Andrade, intenciona perguntar quem somos nós, qual é a nossa capacidade de pensar o mundo dentro de uma tradição que é muito maior que nós? Eu acho que é dando aula nu - metaforicamente, senão vão me entender errado de novo (risos).
Obviamente as pessoas não sabem ler – não falo de literatura – não sabem ler o mundo. Ler no poema uma proposta de nudez na sala de aula é um absurdo tão grande que a gente só pode designar as pessoas que leem assim como analfabetas. E o pior é que isso nasce dentro de uma escola.
SETOR X: Você acha que o conto, pelo qual o escritor Ferréz (Lamúrias de um paquito) foi processado, traria uma visão diferente de literatura?
OSWALDO MARTINS: Algumas questões podem se tornar mais claras. Uma literatura que se faz para tirar um sujeito da marginalidade, ou do tráfico de drogas geralmente é uma literatura cujo centro não é literário, mas o social. Talvez valesse mais o escritor engajar-se em alguma obra salvacionista e ali agisse, mesmo através do texto escrito, porque a consciência utilitária da obra necessariamente demandaria esconder certas percepções que são caras à própria literatura e à sua história ao longo dos séculos.
Flaubert, por exemplo, só consegue mudar as percepções de sua época e – por isso foi levado aos tribunais – por ter necessariamente se distanciado da vida corrente e através da linguagem desvelado o que essa vida corrente possuía de mais triste, de mais sombrio e de mais grotesco. Em outras palavras, ao tomar para si a vertente literária e não a sociológica, permitiu que se descortinassem as agruras de um mundo que se construía sob o pesadelo de um sonho. É Emma Bovary – que reúne sob suas características e sob a linguagem com que foi narrada – quem afirma a validade da ficção e não a ficção que afirma a validade do real. Assim como no romance de Flaubert, atitude corajosa e desviante, típica da ficção, é tomada por Dostoievski, quando escreve Crime e Castigo. A interrogação de Raskólnikov é válida no sentido de que ela abre um buraco na percepção moral do homem e faz com que alguns tabus sejam questionados. Mesmo que a culpa corroa a ação, a possibilidade fica aberta como uma ferida pulsante. Não é que se saia matando velhinhas por aí, mas a possibilidade de justiça acaba por corromper a atitude da velha usurária e justificando, no limite, o desejo de Raskólnikov. De novo, se um indivíduo, e não personagem, como Raskólnikov, surgisse de um fato corrente, estaria sujeito a uma série de estudos psicológicos, sociológicos, econômicos, o escambau... Como faz parte de um processo de ficção, as questões psicológicas, econômicas ou quaisquer outras, devem estar submetidas ao desejo de revelação e análise que o autor propõe, ao texto, em suma. Não cabe culpar a personagem, mas compreendê-la dentro dos ditames do próprio texto. Como tenho afirmado, a ficção não está sujeita ao julgamento factual, porque sempre o que diz está fora do mundo corrente e, mesmo porque lida com uma linguagem própria, o centro de seu significado se desloca para outro lugar, um lugar em que a linguagem não deseja nem usufrui da praticidade.

SETOR X: E na literatura brasileira, teríamos exemplos?

OSWALDO MARTINS: No romantismo brasileiro não se dá espaço a Sousândrade ou se toma a obra erótica de Bernardo Guimarães como uma obra menor, ou ainda quando ao traduzir Baudelaire nossos poetas transformam a força audaciosa da saliva que morde por uma pressão indizível que morde, conforme Antônio Cândido em magistral ensaio desenvolve, o que se vê é a adequação timorata e inexpressiva da língua corrente que permite que não se digam as coisas dentro da força que elas possuam.
O que se permitiu, ao longo das tradições literárias e não só as brasileiras, entender o que seja literatura, a deriva do mundo contemporâneo, o neoconservadorismo do politicamente correto, talvez sejam a chave para que hoje espoquem uma subliteratura, um teatro amadorístico e principalmente um público ávido que demanda justamente esse tipo de produção. Mesmo porque esse público ou é vítima das tradições a que aludíamos – entre nós, por exemplo, a poesia ainda é sobretudo romântica ou parnasiana – ou está preso a uma culpa social de que se quer livrar. Uma e outra deriva são portanto prejudiciais. Não se faz literatura com bons sentimentos – já nos alertava Mário de Andrade – nem se faz literatura sem que se queira romper com a tradição, no duplo sentido da tradição, a literária e a dos postulados sociais que uma dada sociedade afirma como corretos ou como moralmente aceitos.
SETOR X: Voltando à pergunta inicial: seria isso, então, essa vocação para a ruptura, que faria com que os autores acabem sendo punidos, processados ou estigmatizados na sociedade? E o que você acha que pode mudar esse quadro?
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OSWALDO MARTINS: O que, em suma, leva um escritor a sofrer as sanções sociais, econômicas e morais é, em primeiro plano, o retrato grotesco com o qual ele faz o grupo social se ver e, em segundo plano, o como ele o faz, isto é, a linguagem que o autor emprega para dessacralizar o lugar de onde fala, a própria escrita. O que leva à estigmatzação e à punição do escritor em parte está neste correr contra, nesta profanação a que submete a linguagem corrente e mesmo a que se estabilizou em uma certa época, como foi o caso do romantismo no Brasil, ou como é a consideração do amor desde o aparecimento da subjetividade como valor. O amor como um fim em si é invenção burguesa para justificar a herança e sua divisão. A ele submeteu-se a sexualidade e a hipocrisia desta sexualidade deve ser combatida. A sociedade privatizada, todos com os seus apartamentos, com seus computadores pessoais, suas questões individuais – o sexo entre quatro paredes onde tudo vale, segundo o lugar comum mais cínico – deve ser rechaçada, destruída. O lugar da arte, da poesia, é perceber como fazê-lo – descobrir o sexo livre dos entraves do quarto em uma linguagem também sem entraves. Nesta radicalidade, reside, creio eu, a contribuição maior da arte. Por exemplo, uma vez fui visitar o Museu da Língua Portuguesa, com um grupo de professores e alunos, em São Paulo. O museu é espantoso, bonito, bem montadas são as exposições. Emocionei-me ao ver as possibilidades múltiplas da língua. Tudo muito correto, mas não li nenhum palavrão. Tudo era por demais limpinho, perfeito, mesmo a exposição que privilegiava as variações linguístcas. Mas não tinha um palavrão. Por isso comecei a desconfiar do museu. Que museu da língua é este que tem pudor contra a própria língua? O mecanismo social rejeita a língua como sexo, ou só o aceita se fechado dentro do quarto/metáfora do cinismo que busca falar do sexo sem escancarar o prazer. A deriva da poesia hoje é destemperar sem medo o que vem cada vez mais sendo proibido pelo moralismo dos politicamente corretos. O poema erótico é apenas uma das soluções possíveis.

Segunda literárias na Moviola

Poema de um mestre

Lição de música

A tela representa uma figura
absorta, ao piano, Luz azul sombria.
Ajanela clareia a sala escura.
De onde vêm essa música e esse dia?
E quem na tela reconheceria
aquela face atenta, abstrata e pura?

O que há de oculto em nós e que é só nosso,
Embora atual, parece sonho antigo
de uma pedra no fundo de remanso.
Sobre mim passa esta água sem descanso.
Mal consigo espirar isto que digo,
Estou submerso
e dizer mais não posso.

(Dante Milano)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Dois Poemas de Everardo Norões

RIMBAUD MATEMÁTICO
Recompôs
todas as incógnitas
e com letras gregas
desvendou como
subjugar o infinito.
Depois,
armou-se
para o duelo:
anotou equações,
descreveu as curvas do sonho,
e aguardou a bala
para a conclusão
do último
teorema.

(In Poeira na Réstia -7 letras- 2010)


DIES IRAE
o braqueiro
há de chegar
à luz do chorinho de Pixinguinha
uma nota alegra a travessia
o som do saxofone
multiplica peixes
que se dispersam no ar
na margem que não vejo
um cão guarda o quintal
enquanto late
aguardo o barco que não tarda:
o óboço no bolso
da bermuda.

In Retábulo de Jerônimo Bosch - 7 letras - 2008)


Everardo Norões nasceu na cidade do Crato, Ceará.