sábado, 18 de dezembro de 2010

Memória brasileira 1

Aracy de Almeida - O Samba Pede Passagem


Noel foi quem acreditou em mim desde o primeiro dia em que vi o microfone na vida. Eu morava no Encantado, um subúrbio um pouco longe e vivia cantando em festinhas. Cantei no candomblé, da paulina, na rua Borges Reis, cantei na escola de samba Somos de Pouco Falar no Largo da Abolição, cantei em coro de igreja protestante, no Méier, mas isso tudo não rendia dinheirinho e eu estava precisando arrumar uma nota. Já estava farta de cantar de graça e quem canta de graça é galo, mas tem certos direitos no terreiro. Diante disso, eu estava louca para ir para o rádio, que o rádio era a sensação daquela época, lá pras bandas de 1932, 33. E aparecu lá um rapaz, um matusquela lá no Encantado, que era amigo de Custódio Mesquita. Eu arranjei uma roupinha melhorzinha que eu tinha, que não era lá muito legal, mas servia. E fui até a Av. Rio Branco pela primeira vez na minha vida que eu não conhecia a cidade nem nada. Era verdadeiro Xavante. Custódio Mesquita estava lá e me ensaiou um samba, mas eu não estava dando no coro, porque estava muito nervosa; a primeira vez com um piano na minha frente pra me acompanhar. Aí resolvi partir pra marcha, porque marcha era mais fácil era uma espécie de bossanova, qualquer tom servia e era naquela base, não é?
(Aracy de Almeida)

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