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segunda-feira, 11 de março de 2013

Man in a chair



man in a chair
Lucian Freud


Esperar sentado, mas sem
relaxar os músculos. Mãos
tensas nas coxas como quem
prestes a se levantar. Não

como quem, à espera, descansa.
E sim como se encurralado
na cadeira.  Sem esperanças
nem expectativas. Sentado

na cadeira como quem não
espera exatamente nada.
sem certezas, com exceção
da única, e indesejada.

(Paulo Henriques Britto – Formas do nada)

domingo, 25 de maio de 2008

Vilegiatura - Paulo Henriques Brito

Enviou este belíssimo poema a Célia Pedrosa.

VILEGIATURA

Munidos de maçãs, lápis e fósforos,
conquistaremos Nínive amanhã,
se não der praia e a noite for de sono.
Porque afinal os dias são dourados
e tudo é matinal nessa estação
de água fresca, madrigais e cópulas.

São tantas mãos e bocas, tantas cópulas,
tantas razões de se riscar um fósforo,
é tão horizontal essa estação,
que é puro engodo a idéia do amanhã.
E por que não beber o sol dourado
enquanto não nos sobrevém o sono?

Idéias sussurradas pelo sono,
pela sofreguidão de muitas cópulas.
Enquanto isso, Nínive dourada
aguarda a combustão de nossos fósforos
ao primeiro suspiro da manhã.
Rechacemos o torpor da estação

(e como é modorrenta essa estação.
tempo de bandolim, maçãs e sono!)
e vamos nus, na bruma da manhã,
buscar a glória, traduzida em cópulas,
claustros, tributos, castiçais e fósforos,
caixas de música e ídolos dourados.

Tomaremos a cidade dourada
na hora derradeira da estação,
quando já não restar nem mais um fósforo,
uma gota de sol, de céu, de sono.
A entrada triunfal será uma cópula
na imensidão da última manhã.

Quando acordarmos, já será amanhã,
os olhos turvos de sonhos dourados,
as peles mornas recendendo a cópulas,
bagagens esquecidas na estação,
jornais, explicações, ressaca e sono,
um alvoroço de café e fósforos.

Os fósforos primeiros da manhã
riscam o sono e o sonho do Eldorado.
Dessa estação só vão restar as cópulas.

(Trovar claro, 1997 Paulo Henriques Brito)