a tarde morna
me diz teu calor
olor e flor
memória sem fado
ato a nosso fato
essa face orna
(Cláudio Leitão)
Oswaldo Martins. Poeta e professor de literatura. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório
a tarde morna
me diz teu calor
olor e flor
memória sem fado
ato a nosso fato
essa face orna
(Cláudio Leitão)
1
vermes rentes às paredes
sabem-se a ser do homem
a medida única
2
nestes ossos expostos
um edifício ruinoso
habita-os
3
um pedaço de pano
em roxo sujo no interior
do horto
4
não se fazem jardins
apenas o que há
sem disfarce algum
5
as entranhas à mostra
esse vermelho parque
devoram
6
a lavra cava veias
na sórdida solidez
dos homens
para eugênia abrahão
as mãos
os braços mais tarde
os pés as desarticuladas unhas
o estrondo cava esta imagem dura
meus olhos
o espanto das ruínas
o ignóbil voejar das moscas
ser este menino estraçalhado
a nuvem de vergonha que o cobre
um retrato que desce aos escombros
de gaza