supõe um fio sem corte
entre sombra e abismo
o crepúsculo atravessa
janela a janela
os raios projetados
na parede das pétalas
detalham mancha
e derrota
Oswaldo Martins. Poeta e professor de literatura. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório
supõe um fio sem corte
entre sombra e abismo
o crepúsculo atravessa
janela a janela
os raios projetados
na parede das pétalas
detalham mancha
e derrota
neste
corpo encerra-se o tempo curto
nossa
conta ambígua de zero a x
alguns
bolsões criariam atos turvos
à
espera, a vida advém por um triz
no
alumbramento – apenas o instante
aberto
entre o rumor e a ausência –
constrói
alicerces que se roem ante
o
abrupto dos fatos e a insciência
do
ato seguinte ao ir fazer as compras
deixa
quieto o duro odor em ásperas
bocas
sem salivas prontas para o gás
mas
nem isso sequer a vida nos faz
permite
a só busca da última aceira
e
nos deixa a viver recolhas tontas