sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Poesia argentina

Buenas relaciones

Los prisioneiros se detestan
pero a pesar de su rencor
se tratan con educación

Los prisioneiros se detestan
pero no obstante, por dignidad,
jamás conversan con el guardián.

Los prisioneiros se detestan
pero de noche mantienen diálogos
fingiendo que hablan solos.

(Raúl Gustavo Aguirre)

*

 Bom relacionamento

Os prisioneiros se antipatizam
mas não obstante seu rancor
se tratam com educação.

Os prisioneiros se antipatizam
mas no entanto, por dignidade,
jamais conversam com o guarda.

Os prisioneiros se antipatizam
mas de noite dialogam
fingindo que falam sozinhos.

(Tradução de Antônio Miranda)

Poema de Manuel Resende

Também o que é Eterno

Também o que é eterno morre um dia.
Eu tusso e sinto a dor que a tosse traz;
O doutor quer por força a ecografia,
Mas eu não estou pra tantas precisões.

Eu rio à morte com um riso largo:
Morrer é tão banal, tão tem que ser!
Disto ou daquilo, que me importa a mim?
Mas, ó horror, com fotos, não, nem documentos!

A tanta exactidão mata o mistério.
O pH, o índice quarenta...
Não quero as pulsações, os eritrócitos,
O temeroso alzaimer, ou o cancro,
Nem sequer o tão raro, do coração.

Ver o pulmão, o peito aberto, o coração,
A palpitar a cores no computador?
Eu morro, eu morro, não se preocupem,
Mas sem saber, de gripe, ou duma coisa,
Ou doutra coisa.

Manuel Resende, in 'O Mundo Clamoroso, Ainda'

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

para negar-te um poema metafísico


em que desoras ao encontrar-te aflita
vi se chegarem os monstros vitalícios
em teu horror noturno plantei ramos
de acrílico para atiçar-te os danos

e envolver-te com doçura e estudo
o próximo passo a viva aventura
para que não às lágrimas viesses
mas ao prazer de ter-te em sangue

descurada a hipocrisia dos espaços
cujos demônios pus para fora
cujo dardo compus com acuro
rarefeita a emotiva sugestão

cortei-te até jogar-te fora do sublime
e ao rés do chão te possuí ao som
em que enlace furor e estratégia
foderam-te o corpo com a força

de um assassinato

(oswaldo martins)

LEONARD COHEN


Carta

O modo como assassinaste a tua família
nada significa para mim
enquanto a tua boca percorre o meu corpo

Eu conheço os teus sonhos
de cidades arrasadas e cavalos em fúria
do sol demasiado perto
e da noite sem fim

Mas isso nada significa para mim
ante o teu corpo

Sei que lá fora uma guerra ruge
que tu transmites ordens
e bebés são afogados e generais degolados

Mas o sangue nada significa para mim
pois não altera a tua carne

Que a tua língua saiba a sangue
não me surpreende
enquanto os meus braços crescem no teu cabelo

Não penses que não compreendo
o que acontece
depois de as tropas serem massacradas
e as putas passadas à espada

Escrevo isto só para te roubar o prazer
quando uma manhã a minha cabeça
estiver dependurada com a dos generais
do portão da tua casa

Só para que saibas que previ tudo
e que isto nada significa para mim.

(Tradução de Jorge Souza Braga e Carlos Tê no livro Antologia Poética, lançado em Portugal pela Assírio e Alvim)





Entre Visconde de Mauá, Maringá e Maromba










quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Um poema de Iracema Macedo

IDÍLIO

Entre notícias antigas e muralhas
construí com você
um amor feito alucinadamente de palavras
Meus versos seduzem os seus
seus versos aliciam os meus
Coloquei nossos livros juntos na estante
para que se toquem
e se amem clandestinamente
durante as madrugadas

(Iracema Macedo)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Neil Leadbeater

ANCIANO CORRIENDO

Corriendo en Río ninguna vista es mala. Descalzo en la arena
al sonido de las olas. O dentro y fuera de árboles iluminados

Leblon a Ipanema

En sus días de juventud hubiera corrido por caminos de palmeras imperiales
como persiguiendo un arcoiris

o manteniendo un comentario incesante acerca de los barcos que salían de la Bahía
porque al ver la alquimia de la industria apreciaba todo aún más

objetos comunes en casa;

descripciones transmitidas del Pan de Azúcar, todo empujando
con una fuerza simétrica: piedra maciza, la fricción del camino, conduciéndolo hacia arriba,
empujándolo sobre: la inmensa flexión de sus extremidades inferiores
cada una respondiendo al llamado de la otra, un pie moviéndose delante del otro

con el cuerpo inclinado hacia adelante –

pero ahora perdió la velocidad       sus piernas cansadas
rápidamente ensayan una especie de

festina lente

con el Latín que nunca fue su punto fuerte.

Él sabe de aquellos que fueron antes
cómo el ascenso lento puede ser crítico; cómo los brazos dan altura a las manos
limitado
a las velocidades más altas 
está corriendo en el vacío y sin tiempo 
pero todavía no expiró. 

(Traducción de Juan Arabia)

LA TRANSMISIÓN DE LA NOCHE

Debe haber sido cerca de la medianoche cuando encontramos
el camión quemado.
Una antorcha encendida hasta
el avance posterior de las moscas de la noche,
todas las variedades de polillas sorprendidas allí,
en un círculo alrededor de la carcasa.
Debajo del tablero de instrumentos estaba la radio. Un evidente,
autoritario sonido como de campanas,
entonando las santas trinidades…
En el límite del bosque
la transmisión terminó en poder de las espigas de trigo.
Su texto, casi propio de las Escrituras.
(Traducción de Luis Benítez)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O erótico como formulação da mimesis


Se o erótico emula as relações da natureza; na sua porção escrita, literária, o erotismo se transveste de palavras e não de atos, daí que tomar o texto erótico como formulação da excitação, permissiva do ato em si, solitário ou não, só pode acontecer quando o texto se torna a emulação dos desejos postos à flor da pele, ou seja, quando o texto solapa sua qualidade literária e se propõe não intermediado pela reflexão, mas pelos sentidos.

O texto intermediado pelos sentidos acontece nas flores já sabidas que João Cabral, em o Ferrageiro de Carmona, desconsidera como poesia, isto é, são textos que se escrevem com o mais tênue dos sentidos cotidianos. O texto erótico que se fixa na qualidade da trepada e a incentiva, que se cola nos hábitos das civilizações humanas se desautoriza como texto, como reflexão sobre o estar no mundo. É apenas reflexo animal do existir. Por exemplo, ler Aretino ou Sade querendo usufruir ou mesmo do que eles despertam nos sentidos o incentivo ao tesão, é não ler Aretino ou Sade.

O chamado inventor da poesia pornográfica está preso aos cânones da poesia de sua época e com estes cânones dialoga, propondo uma tensão que o coloca como um poeta metafísico, de estranha metafísica, ao mesmo tempo obediente aos preceitos religiosos e deles desrespeitoso, o ângulo de leitura que se torna adequado está em entender esta tensão que se coloca na fronteira entre um mundo já sido e um mundo que se inaugurava então. Esclareça-se. O mundo religioso da época precedente, que teve em Dante seu maior intérprete, se esfacela e as lutas religiosas entre os luteranos, calvinistas e católicos abrem-se ao palco da representação do mundo. Se essas forças conservadoras da religiosidade são em si conservadoras e apelam para que se entenda o divino na medida de uma imitação baseada em preceitos morais, Aretino toma uma terceira via – a poética.

A poética de Aretino, no sentido de uma ampla reflexão sobre o fazer, levemente desloca as questões postas por sua época e inaugura um pensar sobre a vida cuja simbologia se encontra na vitalidade, no desrespeito e na moralidade invertida com que analisa a vida social através do poema. No poema 1 do I Modi se lê:

Gente aqui há que fode e que é fodida
De conas e caralhos há caudal
E pelo cu muita alma já perdida.

Fode-se aqui com graça sem igual
Alhures nunca assaz reproduzida
Por toda jerarquia putanal.

Ressalto nos versos do poema o último verso do primeiro terceto, que exprime de maneira cordata os preceitos religiosos contra a sodomia, que reverbera em “alma perdida”, e o verso que fecha o último terceto. A palavra jerarquia indica “ordem que existe de forma a priorizar um membro, poderes, categorias, patentes e/ou dignidades de suas organizações: a hierarquia eclesiástica” ao juntá-la a putanal cria-se um amálgama que indica ainda a condenação das práticas conventuais. O tom irônico que se percebe nestes versos terá um desfecho no mínimo inusitado, quando o poeta escreve:

Enfim loucura total
Que até da nojo essa iguaria toda
E Deus perdoe a quem no cu não fode.

Ao pedir perdão para aqueles que se mantêm na regra ditada pela moral, a moralidade invertida se cumpre e a condenação se cala. Não dá tesão, mas faz o leitor refletir. A mimesis ao contrário do estatuto da imitação é produtora de sentido e leva o leitor à reflexão e não ao cumprimento da moral; a mimesis trabalha sobre o tecido ético, como no texto trágico.

A poética de Sade não é menos reflexiva que a de Aretino. Ao aproximar o homem da natureza, como propõe Octávio Paz no seu livro Um mais além erótico: Sade, o erótico vai se afirmar como expressão da animalidade, apagando os ademanes do erótico, que caracterizam as ações da espécie humana e nele, erótico, incentivando os atos desviantes que compõem o sentido último da existência.

Não há em Sade nenhuma complacência em relação ao humano, nenhum preceito que não deva ser desmitificado. A questão que se põe, quando se lê o Marquês, está na dificuldade de situá-lo no longo cabedal de cultura que se criou a partir de um cânone preciso. Entretanto, Sade pertence a sua época, isto é, “Instalar a natureza no lugar central que ocupava o Deus cristão não é uma ideia de Sade, mas de seu século. Porém sua concepção não é a vigente em sua época. Seu libertino não é o bom selvagem e sim uma fera pensante.” (Paz, 1999).

Esse deslocamento provocado por seus textos assustaram e ainda assustam a cultura normativa e moralista. Toda vez que um processo autoritário se instaura, ataca-se aquilo que da cultura como norma se desvia. O governo do inominável pertence a esta moralidade cultural, diga-se de passagem.

A cultura que leva o leitor à reflexão cria seus desvios, deixando o que se punha como certeza sob forte abalo. Percebe-se o que é, mas não se concebe que o que é seja possível, abre-se uma brecha a partir da qual nem o que se afirmava nem o que se afirma encontram um estatuto de vericabilidade. A verossimilhança está como se em posição fugidia e o que semelha difere, produzindo sentidos que não estão ao alcance da mão, mas que só é possível através de um desvelamento dos sentidos, que se velam para de novo se desvelarem, numa dialética do indeterminável, numa dialética cujo resultado nunca se sabe.

A reflexão que se faz acerca da poesia de Aretino e da obra de Sade, teve como substrato teórico os livros de Luiz Costa Lima, principalmente, A Trilogia do Controle (2007), Mímesis e Modernidade (1980), Mímesis: desafio ao pensamento (2000) e Vida e mímesis (1995). Além do livro de Octávio Paz, Um mais além erótico: Sade (1999). A tradução dos versos de Aretino é de José Paulo Paes no livro Sonetos Luxuriosos (1981).

(oswaldo martins)

Um mais além erótico: Sade

A imitação erótica nosfaz viver mais profundamente o ato, ou seja, leva-nos a vivê-lo de verdade, não como um rito público, mas como uma cerimônia subterrânea. O homem imita o caráter complexo da sexualidade animal e reproduz seus gestos graciosos, terríveis ou ferozes porque deseja voltar ao estado natural. E, ao mesmo tempo, essa imitação é um jogo, uma representação. O homem se espelha na sexualidade. O erotismo é o reflexo do olhar humano no espelho da natureza. Assim, o que distingue o erotismo da sexualidade não é a complexidade, mas a distância.O homem se reflete na sexualidade, nela se banha, nela se funde e se separa. A sexualidade, porém, nunca olha o jogo erótico; ela o ilumina sem vê-lo.É uma luz cega.

(Octávio Paz - Editora Mandarim)


A CEDAE seria uma merda ou a merda seria a CEDAE


segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Poema da Priapéia Latina

Ao falar, numa letra sempre caio em erro:
"a ti eu falo" sai " ati meu falo".
Matronas castas, ide p'ra bem longe:
palavras sem puder vergonha é lerdes!
(Não dão a mínima e aqui vêm direto:
Não admira, também matronas veem,
degustam com prazer um pau enorme.)

(Priapéia Latina - Tradução de João Ângelo Oliva Neto)

Homo Sapiens sexualis




domingo, 12 de janeiro de 2020

Rio de Janeiro RJ BR

À cidade restam

As estátuas
O mau gosto
O vazio
O estupor

A barganha
As igrejas
Um bispo aqui
Outro acolá

À cidade resta

Essa vontade doída
De mandá-la
Canonicamente
Ir tomar no cu

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Meus mortos viverão através da lucidez


Lucidez do oco


Em 2004 publiquei o meu terceiro livro – lucidez do oco – pela 7 Letras. O livro viria a ser reeditado pela Editora TextoTerritório dez anos depois em 2014. São dez anos entre as duas edições e dezesseis até hoje. Quer parecer-me que o livro resiste ao bombardeio do tempo. Conto a seguir duas curiosidades acerca do livro.

 O título do livro seria fotografia de cadáveres; a editora tendo ponderado que um título desses seria mais difícil de vender, fiz a troca do título primeiro pelo atual. Se o título, a partir do qual o livro ficou editado, é um belo achado, perde o impacto imediato das abordagens que o nortearam e que estava ligado às diversas partes do livro e pelas perdas pessoais e anônimas que envolvem a morte próxima e coletiva, além da morte cultural. Refiro-me á morte de minha mãe, à guerra do Iraque e uma parte do livro em que a imaginação recria para pensar as mortes o filme feito por Glauber Rocha, no enterro de Di Cavalcante, além da morte da Minas drummondiana, em desminas.

 Os dez anos que se seguiram à publicação do livro foram anos de alguma esperança, melhora sensível na economia e alguma estabilidade emocional. Havia um país a construir, embora as sombras do país derruído em que se vive hoje já estivessem passeando sobre os cadáveres assassinados do período anterior. Fosse no Iraque, com a guerra estúpida do Srs. Bushão e Bushinho, fosse nos acontecimentos domésticos dos índios assassinados, dos negros vilipendiados, das mulheres trabalhadoras identificadas à prostituição, fosse nas concessões ao mercado, ao fortalecimento dos bancos.

As sombras sempre nos enovelam – hoje mais que nunca. Figuras como as que detém o poder aqui e alhures são execráveis, incultas e de péssimo caráter. Os seus gurus ideológicos, bestas humanas. Os seus representantes imediatos, bufões de quinta categoria. Seus seguidores, legião de incapazes. A esse grupo inumano interessa a morte, a tortura, o desaparecimento do outro. Por isso riem como nem os idiotas conseguem rir. Como ria Hermann Goering, na reunião com os empresários alemães que financiaram a estupidez fascista e com ela se locupletaram para além da guerra.

Se a eles aprestava a fotografia dos cadáveres, a lucidez do oco sobre a qual devemos nos debruçar se torna a reflexão necessária deste esvaziamento a que a sociedade é submetida, deste vender a alma que Klaus Mann retratou com ferocidade em Mephisto. Manter a lucidez, mesmo que as ações recaiam sobre o vazio, permite não deixar que as forças opressoras do humano se edifiquem em nós, nem como forma de desespero, nem como forma de salvar a pele, pois de resto o que nos resta está no persistir, para que possamos anunciar tempos mais justos, mais igualitários e menos preconceituosos.

Meus mortos viverão através da lucidez  

(oswaldo martins)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

João Cabral de Melo Neto

Estudos para uma bailadora andaluza

I

Dir-se-ia, quando aparece
dançando por siguiriyas,
que com a imagem do fogo
inteira se identifica.

Todos os gestos do fogo
que então possui dir-se-ia:
gestos das folhas do fogo,
de seu cabelo, sua língua;

gestos do corpo do fogo,
de sua carne em agonia,
carne de fogo, só nervos,
carne toda em carne viva.

Então, o caráter do fogo
nela também se adivinha:
mesmo gosto dos extremos,
de natureza faminta,

gosto de chegar ao fim
do que dele se aproxima,
gosto de chegar-se ao fim,
de atingir a própria cinza.

Porém a imagem do fogo
é num ponto desmentida:
que o fogo não é capaz
como ela é, nas siguiriyas,

de arrancar-se de si mesmo
numa primeira faísca,
nessa que, quando ela quer,
vem e acende-a fibra a fibra,

que somente ela é capaz
de acender-se estando fria,
de incendiar-se com nada,
de incendiar-se sozinha.

II

Subida ao dorso da dança
(vai carregada ou a carrega?)
é impossível se dizer
se é a cavaleira ou a égua.

Ela tem na sua dança
toda a energia retesa
e todo o nervo de quando
algum cavalo se encrespa.

Isto é: tanto a tensão
de quem vai montado em sela,
de quem monta um animal
e só a custo o debela,

como a tensão do animal
dominado sob a rédea,
que ressente ser mandado
e obedecendo protesta.

Então, como declarar
se ela é égua ou cavaleira:
há uma tal conformidade
entre o que é animal e é ela,

entre a parte que domina
e a parte que se rebela,
entre o que nela cavalga
e o que é cavalgado nela,

que o melhor será dizer
de ambas, cavaleira e égua,
que são de uma mesma coisa
e que um só nervo as inerva,

e que é impossível traçar
nenhuma linha fronteira
entre ela e a montaria:
ela é a égua e a cavaleira.

III

Quando está taconeando
a cabeça, atenta, inclina,
como se buscasse ouvir
alguma voz indistinta.

Há nessa atenção curvada
muito de telegrafista,
atento para não perder
a mensagem transmitida.

Mas o que faz duvidar
possa ser telegrafia
aquelas respostas que
suas pernas pronunciam

é que a mensagem de quem
lá do outro lado da linha
ela responde tão séria
nos passa despercebida.

Mas depois já não há dúvida:
é mesmo telegrafia:
mesmo que não se perceba
a mensagem recebida,

se vem de um ponto no fundo
do tablado ou de sua vida,
se a linguagem do diálogo
é em código ou ostensiva,

já não cabe duvidar:
deve ser telegrafia:
basta escutar a dicção
tão morse e tão desflorida,

linear, numa só corda,
em ponto e traço, concisa,
a dicção em preto e branco
de sua perna polida.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

A poesia de Jacques Roubaud

LUZ, POR EXEMPLO

Luz, por exemplo. preto.
Vidros.
Boca fechada. abrindo-se à língua.
Janela. reunião de gizes.
Seios. depois embaixo. a mão se aproxima. penetra.
Abre
Lábios penetrados. de joelhos.
Lâmpada, lá. molhada
Olhar repleto de tudo.

tradução: Inês Oseki-Dépré

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Oficina de criação 2020


Oficina de criação 2020

A oficina tem duração de 5 meses, perfazendo um total de 10 encontros, podendo ser estendida por outros 5 meses, ao final dos quais o inscrito, caso queira, pode entregar originais para apreciação de edição.

Encontros de 15 em 15 dias
Horário: das 20:00 às 22:00
Valor por módulo: 200,00
Participantes: mínimo 04 e máximo 08
Contato: Oswaldo Martins (021) 981438622 por telefone ou zap
Endereço: Rua Pires de Almeida 76/201 Laranjeiras – Rio de Janeiro

Modulo 1

Apresentação dos inscritos
Apostila de textos para discussão sobre o que é escrever
Propor discussão sobre o ato de escrita

Textos:

Psicologia da composição – Edgar Allan Poe
As multidões e carta a Arsène Houssaye – Charles Baudelaire
Análise de o Ferrageiro de carmona - João Cabral de Mello Neto

1º encontro 06/02
2º encontro 20/02

Modulo 2

Primeiras produções

Análise e discussão sobre os textos apresentados (poemas, contos, capítulo de romance). A ideia é que todos leiam os textos apresentados antes do encontro e proponham leitura e modificações nos textos apresentados.

Tema livre.

3º encontro 12/03
4ª encontro 26/03

Modulo 3
Proposição e análise de exercícios de escrita criativa. Como adequar assunto e forma? O que um assunto pede? Qual a extensão exige? Qual ritmo? Qual linguagem?

Temas:

Amor e paixão
Morte
Tópicos clássicos – carpe diem, mediocridade dourada, o mundo às avessas, outros
A literatura social – a recusa do panfleto

Textos:

Jacopone da Todi poema XLVIII
Leito de folhas verdes – Gonçalves Dias
A uma passante – Baudelaire

5º encontro 09/04
6º encontro 23/04

Modulo 4

Análise e discussão sobre os textos apresentados (poemas, contos, capítulo de romance). A ideia é que todos leiam os textos apresentados antes do encontro e proponham leitura e modificações nos textos apresentados.

Temas:

Amor e paixão
Morte
Tópicos clássicos – carpe diem, mediocridade dourada, o mundo às avessas, outros.
A literatura social – a recusa do panfleto

7º encontro 07/05
8º encontro 21/05

Modulo 5

Os modos de construção da surpresa, da ambiguidade, a participação do leitor na construção do enredo. Por que não devemos entregar tudo ao leitor nem propor uma moral?
Exercício:
Reescrever o final de um conto, de um poema, de um capítulo, escolhido de antemão.

9º encontro 04/06
10º encontro 18/06

Oswaldo Martins é poeta e professor de literatura e língua portuguesa. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório.

sábado, 4 de janeiro de 2020

poética


o poema gira nas entrelinhas
silenciam por mim os limites
de ti detém pouco ou nada

o poema cala a leitura mínima
perscruta os possíveis sintáticos
aparecem os conselhos negam

palavras a lucidez se faz sem
a brida dos versos o poema
indaga olhos não o podem

ver tocam os bordados, vê
e traça a impraticável
fímbria da delicadeza

(oswaldo martins)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

PENSEI QUE ERAS MEU INIMIGO

Pensei que eras meu inimigo,
a minha grande infelicidade.
Mas inimigo não és – só um mentiroso
e são vãs as tuas manobras.
Diante do carrossel
eu joguei cara ou coroa.
Queria, com essa moeda,
saber se te amo ou não.
Meu lenço ficou caído
no chão, no jardim Aleksándrov.
Aqueci as mãos; mas todos souberam
o que eu pensava – e que também mentia.
As mentiras devem estar voando
à minha volta como corvos.
Mas da próxima vez que te despedires
não verás, em meus olhos, nem azul nem negro.
Ah, continua vivendo, não fique triste.
Por mim está tudo bem.
Mas como tudo isso é inútil,
como é tudo absurdo!
Você indo para um lado,
eu indo para outro.


(Bella Akhmadulina Tradução de Lauro Machado Coelho.)