sábado, 15 de julho de 2017

astúcia do dizer

entre a porta e as escaras
poste de pequenos tálamos
se desequilibra

a arte enquanto soam acordes
se cumpre no afogamento
dos naufrágios

o intervalo de um barco
um lastro de copo
lacra o poema

no intento de querer
e jamais poder convir
como o barco

a astúcia do dizer


(oswaldo martins)

quinta-feira, 6 de julho de 2017

poema pânico

1
risca sobre as vagas a linha
mal medida do que lavra
o desacerto

2
pulsa dança ainda corrói
a morte quando eros cria
travesso

3
estala o tubo da cervical
se escorre líquido bebê-lo
até o talo

4
ah, thanatos, velha puta,
entuba nênia do caralho
o riso farto

5
furta o raio franco da vida
e manda a que a pariu
à morte


(oswaldo martins)

domingo, 2 de julho de 2017

2

júlio pomar

descem em torno essas solidões
o quadro dos cegos em madrid
o almoço dos trolhas

debicam almofadas nas calçadas
os pobres que dormem a hora
o vulto dos polícias

dedica-se ao maltrato do assombro
os encapuzados de todo instante
cumprem ordens os sacanas

derivam da toga sutis dos magistrados
as ordens que despacham
nos bordéis em que atuam


(oswaldo martins)