domingo, 6 de janeiro de 2013

Pilulinha cinematográfica 1


No, de Pablo Larraín, é um filme correto do ponto de vista histórico. Estão presentes nele as imagens terríveis dos anos da ditadura recente no Chile, o tremendo culto das personalidades, que o fascismo ensinou ao mundo. Assim como está presente uma nova linguagem para que se possa falar da coisa pública. A presença do marketing na percepção da política é antiga, entretanto, a esmagadora presença da propaganda como idéia é recente.

A troca do discurso “sério” pelo discurso eficaz foi aos poucos tomando corações e mentes dos idealizadores do século XXI. Não entro aqui no mérito do discurso – apenas anoto. Aristóteles já havia demonstrado como o discurso trágico e catártico servia para educar a população grega para os tempos novos que se vivia então. Com sua capacidade de convencimento transversal e plástico, o discurso da propaganda faz com determinado público vire massa de manobra dos desejos justos ou nem tanto dos que palmilham o plano do poder. Se a intenção é despistada pela “alegria” do discurso, a consciência pode ou não ser despertada pela invenção presente no discurso midiático.

O que tal discurso cria me parece ser um apaziguamento que não se deixa ver e se imiscui nos planos pacíficos que resguardam os torturadores e ideólogos dos regimes funestos que dominaram a América Latina durante anos. A passagem dos governos militares para as mãos dos civis feita – via de regra – de modo pacífico é um chute nos culhões dos desaparecidos, dos assassinados, dos exilados. Ver, por exemplo, Pinochet passar a faixa para seu sucessor cria uma imagem de normalidade que induz ao erro de avaliação deste período tenebroso.

Se foi a única maneira possível, foi também a mais equivocada e apenas adia o que de fato deve ser tomado como diretriz da história – o julgamento dos culpados. A presença apaziguadora da linguagem midiática, quando, a partir da necessidade dos mercados, ela se dobra na venda infausta dos produtos que maquiam a felicidade na compra – por exemplo, de um novo produto que o mercado quer vender, frutifica na inconsciência a que os povos da América Latina foram submetidos pelos que tomaram o poder e pelos que fizeram a escolha de substituí-los pela linguagem do convencimento fácil.

(oswaldo martins)

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