segunda-feira, 25 de junho de 2012

Pilulinha 22


Os três contos que fecham a leitura do livro de Sergio Sant’Anna são primorosos. Não é que os outros contos que fazem parte do livro O voo na Madrugada sejam piores ou obedeçam outra ordem de composição que fizesse dos três últimos uma composição à parte, mas que a intensidade conquistada pelo autor, nos retratos possíveis das mulheres tomadas como ponto de partida para o desenvolvimento dos enredos, está na ordem do excepcional.  Verdadeiros tratados sobre a escrita, os três contos são ao mesmo tempo tratados do erotismo que alimenta o prazer da leitura.

Que se entenda, quando se fala sobre o prazer da leitura, ligada ao erotismo, nada se propõe que se aproxime a leitura dos abertos do pornográfico, mas pelo contrário a aproximação que se faz é com a necessidade dos esconsos do erótico, revelador dos mistérios escusos ou não das mentes humanas. Se o pornográfico é tecido frágil que se resolve numa ação direta e final, o erótico é curvo e escuso, já que permite ao leitor os abismos e a reflexão constante dos renascimentos que provocam crises e permitem que se veja nu no espelho de si mesmo. As narrativas que desnudam a narrativa têm esse dom. Não basta o assunto, não basta o enredo, mas urdidura erótica das palavras.

Dom que está presente nas narrativas de Sergio Sant’Anna.

(oswaldo martins)

Um comentário: