terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Vicent Olcina

A caça aos micos

No rio dito Amazonas, lá nas Índias,
assim se caça mico à moda índia.
A coisa assim é feita:
alguns jarros de boca muito estreita
de milho os índios enchem, e este ardil
é deixado na margem desse rio.
Em emboscada fica o caçador,
e no instante em que os micos um odor
percebem das espigas, sem suspeita
vão aos jarros, qual ratos à colheita.
Pegam logo uma espiga, e com a mão
tentam de lá tirá-la, mas em vão,
pois nos jarros é feita,
em cada um, uma boca tão estreita
que por ela a mão, como em zona amiga,
sai e entra bem, mas não com uma espiga.
Mas como isso os micos não entendem,
nunca soltam a espiga que à mão predem:
se esforçam e trabalham mais de uma hora
só tentando trazê-la para fora;
mas não conseguem, e com a mão já presa
ficam ali, por não soltar sua presa.
Nisso o caçador pega o seu porrete
e, com a razão do forte, os acomete,
e em troca de umjas boas cacetadas
cobra-lhes as espigas mal roubadas,
ou, se o índio matá-los não pretende,
com o furto em mãos, vivos, ele os prende.

Mais tontas que os micos
por aí muita gente identifico,
que, antes de largar dinheiro ou bens,
perdem a vida - ou a alma, o que é mais além.

(Vicent Olcina - Gorga, 1731 - Roma, 1809)

Informa-nos o tradutor - Fábio Arstimunho Vargas - que Oncina era clérigo e poeta. E, acrescento eu, escrevia de acordo com sua época, na qual a efabulação poética servia para a expressão das moralidades. Chamo a atenção da oração causal e reduzida, que, de certa forma anuncia o desenlace do poema. Uma beleza!
(oswaldo martins)

2 comentários: