sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A propósito, uma letra do Haroldo Barbosa

Não se aprende na escola

Dom Pedro disse fico
E ficou, que maravilha!
Mas quem ficou com Pedro
Foi a dona Domitila
Não se trata de invenção
De quem não tem boa cachola

Isso não se aprende na escola
Isso não se aprende na escola

Depois do casamento
Todo mundo tem vergonha
Papai que está nervoso
Põe a culpa na cegonha
A cegonha leva fama
Não reclama e não dá bola

Isso não se aprende na escola
Isso não se aprende na escola

Napoleão primeiro
Sempre soube que ele é
Mas foi com Josefina
Que aprendeu a manobrar
Josefina tinha um jeito
De prendê-lo na gaiola

Isso não se aprende na escola
Isso não se aprende na escola

Semente dá um broto
Diz a história natural
O broto dá uma encrenca
Quase sempre desigual
Se não sabe então que guarde
Esse conselho na cachola

Isso não se aprende na escola
Isso não se aprende na escola

(Haroldo Barbosa)


A letra da música exposta acima faz lembrar meu pai, quando a cantava, levando-nos a mim e a meu irmão para a escola. Uma bela lição de insubordinação e visão crítica. Gosto da gravação que dela fiz Aracy de Almeida, uma das minhas cantoras prediletas.

Um comentário:

  1. Oswaldo,

    Acompanhei o fenômeno de sua demissão, administrei a indignação como pude, desde lá pensei umas coisas nunca até então pensadas e por isso resolvi lhe escrever.

    Como escrever sempre leva tempo e ando alucinada de trabalho, foram passando e passando os dias, mas hoje acordei inspirada e eis-me aqui a lhe dar bom dia e a compartilhar minha constatação.

    Veja só: sou ao mesmo tempo uma professora com 30 anos de magistério, já fui coordenadora de uma escola que teve boa fama, semelhante à da Parque em outros tempos, sou mãe, e logo mais avó, e também autora de umas miudezas eróticas, por vezes publicadas na Internet.

    Portanto, sua demissão foi para mim como uma 'madeleine' de efeito autobiográfico.

    Pois daí que tentei me pôr nesses diferentes lugares para olhar o acontecido. Para experimentar a fertilidade da diferença dos olhares...

    Bem, primeiro o lugar de professora: por coerência com princípios antigos e que me são muito caros, jamais poderia ir contra a liberdade de expressão das idéias.

    Depois, o lugar de coordenadora de escola: lá na que trabalhei, onde não mais estou porque fui também demitida, eu teria lutado sem trégua contra o descalabro de uma demissão como foi a sua. Por coerência, evidentemente.

    Depois, o lugar de autora: era só o que me faltava não poder escrever o que penso sobre qualquer assunto! Tenho militado em favor desse tipo de registro a vida toda.

    Por fim (e não por acaso no fim), do lugar de mãe: o fato é que, se minhas filhas tivessem hoje oito ou nove anos, eu não gostaria que ficassem lendo textos de conteúdo erótico porque souberam na escola que um professor querido dos alunos tem um blog na Internet, aos quais se chega facilmente pelo simples toque de umas poucas teclas...

    É. Não gostaria.

    Portanto, depois desse exercício difícil, conclui o óbvio: não se pode dar velhas respostas para novos problemas.

    A questão nova, acho, é o acesso fácil ao que está publicado na Internet... Porque antes, usando ainda o exemplo de minhas filhas, elas não teriam a mesma facilidade para chegar a textos que eu, como mãe, poderia considerar inadequados para a idade delas. Elas só chegariam aos seus textos, por exemplo, pela via das publicações impressas e isso provavelmente não aconteceria: alguém teria que comprar ou reproduzir os livros ou revistas ou o que for. Mas como à essa altura da vida textos eróticos em geral não têm o mesmo apelo que poderiam ter os materiais pornográficos (que costumam ‘valer’ o empenho e o dinheiro gasto), é de se esperar que crianças e adolescentes não dessem aos seus textos importância suficiente para pagar o preço de fazê-los circular clandestinamente em espaços escolares.

    O problema novo, me parece, então, é o acesso fácil à informação hoje.

    E qual é, afinal, o mérito (se é que se pode usar essa palavra em um caso assim) da Escola Parque no episódio de sua demissão?

    Ora, ter tentado solucionar o problema criado pelo advento da internet com a demissão de um professor.

    Ã?!

    Que escola é essa?!

    Desejo a você muito melhor sorte em seus novos projetos profissionais.

    Um abraço

    Lou

    PS. Gosto de seus textos.

    PS2. Sempre usei codinome para publicar meus textos mais pessoais porque sei muito bem que poderiam acontecer comigo coisas semelhantes ao que ocorreu contigo. Infelizmente é assim que é. E, para mim, o que conta mais, em precisando escolher, são as idéias (ainda com acento, enquanto posso) comunicadas e não propriamente a autoria. Pelo menos nesse caso.

    Outro abraço.

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