quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Lucian Freud



com a nudez de henry miller

nas esquinas à sombra
de tanizaki

o corpo que ferve
desvenda um hai-kai

de banheiro japonês

(oswaldo martins)

Interview with Henry Miller Screener

Henry Miller - Sleep and Awake (Monólogo en el Baño) Subtitulado Español...

Henry Miller Master of Fuck Subtitulado en Español

Prosa do dia

"Eu disse que ela tinha um físico maravilhoso, essa mariposa noturna. É verdade. Era cheia e flexível, sinuosa, macia como uma foca. Quando corro a mão por suas nádegas, esqueço todos os problemas... Mas no instante em que comecei a fazer comparações entre seu corpo e o de Mona, percebi que era inútil prosseguir. Por mais carne e sangue que ela tivesse, não passava de carne e sangue. Nada mais havia nela além do que se podia ver e tocar, ouvir e cheirar. Com Mona, a história era completamente outra. Qualquer porção do seu corpo era capaz de me inflamar. Sua personalidade jazia tanto em sua teta esquerda, a bem dizer, quanto em seu dedo mindinho direito. A carne falava de todas as partes, de todos os ângulos. Estranho, o corpo dela não era perfeito. Mas era melodioso e provocativo. O corpo correspondia a suas disposições de espírito. Ela não tinha necessidade de exibi-lo ou espicaçá-lo, tinha apenas de habitá-lo, de sê-lo.
Havia ainda mais acerca do corpo de Mona: mudava constantemente. Bem me lembro dos dias em que vivíamos com o médico e sua família no Bronx, quando tomávamos sempre juntos um banho de chuveiro, trocávamos carícias, trepávamos o melhor possível - sob o chuveiro -, enquanto as baratas subiam e desciam pelas paredes qual exércitos em debandada. Seu corpo, então, embora eu o amasse, estava fora de forma. A carne pendia-lhe da cintura, em dobras, os seios caíam frouxos, as nádegas eram muito chatas, demasiado infantis. No entanto, aquele mesmo corpo, envolvido num vestido engomado de bolinhas, dava-lhe todo o encanto e fascínio de uma camareira de comédia. O pescoço era cheio, um pescoço colunar, como sempre o chamei, e combinava com a voz rica, escura, vibrante, que dele saía. À medida que corriam os meses e os anos, esse corpo sofria toda espécie de mudanças. Às vezes ficava tenso, esbelto, esticado como um tambor. Quase demasiado tenso, demasiado esbelto. E então ele mudava novamente, cada mudança registrando uma transformação interior de Mona, suas flutuações, seus estados de ânimo, ânsias e frustrações. Mas permanecia sempre provocativo - inteiramente vivo, suscetível, latejante, pulsando de amor, ternura, paixão. A cada dia, ele dava impressão de falar uma nova linguagem.
Que poder, então, poderia exercer sobre mim o corpo de outra mulher? Quando muito, somente um poder débil, transitório. Eu encontrara o corpo, nenhum outro me era necessário. Nenhum outro jamais me satisfaria plenamente. Não, o tipo risonho não me satisfazia. Penetrava-se neste tipo de corpo como uma faca que atravessa o papelão. O que eu almejava era o ilusório. (Esse basilisco ilusório, como eu o definia). Ilusório e insaciável ao mesmo tempo. Um corpo como o de Mona, que, quanto mais se possuía, mais se ficava possuído. Um corpo que trazia em si todas as desgraças do Egito - e seus milagres, suas maravilhas...."


Trecho retirado do livro Nexus, de Henry Miller.

Poema do dia 2

quero uma vida em forma de espinha


Quero uma vida em forma de espinha
Num prato azul
Quero uma vida em forma de coisa
No fundo dum sítio sozinho
Quero uma vida em forma de areia nas minhas mãos
Em forma de pão verde ou de cântara
Em forma de sapata mole
Em forma de tanglomanglo
De limpa-chaminés ou de lilás
De terra cheia de calhaus
De cabeleireiro selvagem ou de édredon louco
Quero uma vida em forma de ti
E tenho-a mas ainda não é bastante
Eu nunca estou contente



boris vian
canções e poemas
tradução de irene freire nunes e fernando cabral martins
assírio & alvim

1997

Poema do dia

arte

Aqui o tempo está à frente do tempo
E esse caso incomparável
Só acontece entre os profetas.

Apesar disso torna-se necessário
Que o nosso impulso para abeleza
Se manifeste em todos os instantes.

Porque já, ó surpresa,
Na pedreiras de mármore
Se trabalha o monumento de amanhã.

Nicolai Kantchev
Trad. Egito Gonçalves

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Konstantinos Kaváfis

aπολειπεν o θeoς antωnion

Σάν ἔξαφνα, ὥρα μεσάνυχτ’, ἀκoυσθεῖ
ἀόρατoς θίασoς νά περνᾶ
μέ μoυσικές ἐξαίσιες, μέ φωνές –
τήν τύχη σoυ πoύ ἐνδίδει πιά, τά ἔργα σoυ
πoύ ἀπέτυχαν, τά σχέδια τῆς ζωῆς σoυ
πoύ βγῆκαν ὅλα πλάνες, μή ἀνωφέλετα θρηνήσεις.
Σάν ἕτoιμoς ἀπό καιρό, σά θαρραλέoς,
ἀπoχαιρέτα την, τήν Ἀλεξάνδρεια πoύ φεύγει.
Πρό πάντων νά μή γελασθεῖς, μήν πεῖς πώς ἦταν
ἕνα ὄνειρo, πώς ἀπατήθηκεν ἡ ἀκoή σoυ.
μάταιες ἐλπίδες τέτoιες μήν καταδεχθεῖς.
Σάν ἕτoιμoς ἀπό καιρό, σά θαρραλέoς,
σάν πoύ ταιριάζει σε πoύ ἀξιώθηκες μιά τέτoια πόλι,
πλησίασε σταθερά πρός τό παράθυρo,
κι ἄκoυσε μέ συγκίνησιν, ἀλλ’ ὄχι
μέ τῶν δειλῶν τά παρακάλια καί παράπoνα,
ὡς τελευταία ἀπόλαυσι τoύς ἤχoυς,
τά ἐξαίσια ὄργανα τoῦ μυστικoῦ θιάσoυ,
κι ἀπoχαιρέτα την, τήν Ἀλεξάνδρεια πoύ χάνεις.

Konstantinos Kaváfis


O deus abandona Antônio

Quando, pela meia-noite, de improviso ouvires
passar, invisível, um tíasos
com música soberba e cânticos,
a sorte que afinal te abandona, tuas obras
falidas, teus planos de vida
– tudo ilusório – com nênias vãs não lastimes.
Como um bravo que, há muito, já se preparava,
saúda essa Alexandria que te está fugindo.
Não, não te deixes burlar, dizendo: “foi sonho”,
ou: “meus ouvidos me enganaram”;
desdenha essa esperança vã.
Como um bravo que, há muito, já se preparava,
como convém a quem é digno desta pólis,
aproxima-te – não hesites – da janela
e escuta comovido, porém
sem pranto ou prece pusilânime,
como quem frui de um último prazer, os sons,
os soberbos acordes do místico tíasos:
e saúda Alexandria, enquanto a estás perdendo.


Trad. Harroldo de Campos

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

timeu

a tribo dos pássaros contempla
a lua de safo

dada ao estudo das coisas celestes
deixa crescer penas de amor

nas cabeleiras humanas

(oswaldo martins)