sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Rachel Jardim - sobre o lapa

Rio, 22.7.90

Oswaldo,

A sua Lapa deixa uma sensação sombria, viscosa, abafada, mas ao mesmo tempo luminosa. Há no trato uma forma nova de intimismo e uma forma nova de lirismo. Apesar do esperma, da saliva, dos dejetos, um profundo bom gosto e um grande refinamento. Não é a Lapa sentimental de Manuel Bandeira mas não deixa de ser uma Lapa emocionada, apesar da contenção. De um erotismo que sai dos quartos para a rua e perpassa tudo, até os objetos da Cavé.
Linguagem muito apurada, palavras exatas, jamais banais. Nenhum pernosticismo, apesar do apuro.
É um livro para ser lido inteiro. Primeiro de uma vez só, depois detendo-se em alguns poemas, observando a linguagem.
Gostei muito da inclusão do bidê no texto. Nunca vi um quadro de uma mulher sentada num bidê Por quê?
Fica a esperar novos poemas seus.


Um abraço,
Rachel 

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