para o cândido rolim
a caatinga afoga
abrevia o olhar
faz andas de tortura
em agonia os quem
da lenta metamorfose
tenaz e inflexível
confrontam
a terra
a secura dos ares
e o estrondar das armas
Oswaldo Martins. Poeta e professor de literatura. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório
para o cândido rolim
a caatinga afoga
abrevia o olhar
faz andas de tortura
em agonia os quem
da lenta metamorfose
tenaz e inflexível
confrontam
a terra
a secura dos ares
e o estrondar das armas
Mafalala
Os
sinos da munhuana estão velhos
Tocam
nas enrugadas horas da esperança
Murcha,
o cansaço das lembranças estampadas
nas
casas de madeira e zinco
E
no chão cimentado por pântanos
As
rãs fazem ajuste de contas com o eco do abandono.
Subúrbio
Nas
margens da cidade
as
acácias são como almas adiadas a arder
na
melancólica procura de um sonho
para
enxugar os pés
e
sei que nenhum peão restituirá os buracos
(Amosse
Mucavele)
ao semear vermelhos-terra
as insígnias dos marechais
nos haveres-nação a morte
a ceva seca-sôfrega agrega
em decúbito dorsal os quem
da hora catingam destroços
na de ninguém pátria-pária
carcomida por torturadores
exumada nos rudes confins
da ausência os quem mortos
sem constituição ou preclara
medalha ao peito-continência
a treva medida em rictus ara
crava sub-lápide o epigrama
dos quem nada nação afora
na pele-sinais eram muitos os convites
entre eles havia uma pinta situada
nas
curvas das estradas que levam ao
rio
e suas margens
lentamente os sinais pisavam o chão
brincavam com as texturas da chuva
com as asperezas da ressequida rua
e tilintavam pianos
faziam os lábios reavivarem cantos
ao toque-frêmito das falanges asas
desciam e abriam caminhos nus
em ávida de devoração
ali a paisagem negativa
esboça um risco
talvez o de uma cidade
pronta para o não-ser
talvez impresumível escultura
na ampla vaziez do ser
as ressalvas do que se nega
ao largo das palavras
perdem-se nas amplitudes
e o levam ao estertor da recusa