No, de Pablo Larraín, é um filme correto do ponto de
vista histórico. Estão presentes nele as imagens terríveis dos anos da ditadura
recente no Chile, o tremendo culto das personalidades, que o fascismo ensinou
ao mundo. Assim como está presente uma nova linguagem para que se possa falar
da coisa pública. A presença do marketing na percepção da política é antiga,
entretanto, a esmagadora presença da propaganda como idéia é recente.
A troca do
discurso “sério” pelo discurso eficaz foi aos poucos tomando corações e mentes
dos idealizadores do século XXI. Não entro aqui no mérito do discurso – apenas anoto.
Aristóteles já havia demonstrado como o discurso trágico e catártico servia
para educar a população grega para os tempos novos que se vivia então. Com sua
capacidade de convencimento transversal e plástico, o discurso da propaganda faz
com determinado público vire massa de manobra dos desejos justos ou nem tanto
dos que palmilham o plano do poder. Se a intenção é despistada pela “alegria”
do discurso, a consciência pode ou não ser despertada pela invenção presente no
discurso midiático.
O que tal
discurso cria me parece ser um apaziguamento que não se deixa ver e se imiscui
nos planos pacíficos que resguardam os torturadores e ideólogos dos regimes funestos
que dominaram a América Latina durante anos. A passagem dos governos militares
para as mãos dos civis feita – via de regra – de modo pacífico é um chute nos
culhões dos desaparecidos, dos assassinados, dos exilados. Ver, por exemplo,
Pinochet passar a faixa para seu sucessor cria uma imagem de normalidade que induz
ao erro de avaliação deste período tenebroso.
Se foi a única
maneira possível, foi também a mais equivocada e apenas adia o que de fato deve
ser tomado como diretriz da história – o julgamento dos culpados. A presença apaziguadora
da linguagem midiática, quando, a partir da necessidade dos mercados, ela se
dobra na venda infausta dos produtos que maquiam a felicidade na compra – por exemplo,
de um novo produto que o mercado quer vender, frutifica na inconsciência a que
os povos da América Latina foram submetidos pelos que tomaram o poder e pelos
que fizeram a escolha de substituí-los pela linguagem do convencimento fácil.
(oswaldo martins)
Nenhum comentário:
Postar um comentário