sexta-feira, 26 de junho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

antiode para imelda marcos, com direito a papa doc

o haiti é aqui
(caetano veloso e gilberto gil)

senhora das terras herdeira eterna chefe de clã
usurpadora de tronos
as chamas do inferno esperam por ti

lá pululam os pequenos pobres-diabos que o manto da impunidade criou nos montes santos dos coronéis lá estão também os filhos da pátria preparados com chicotes para açoitarem tuas costas nuas nas noites brasílicas do estupor e do caos

terás as carnes usurpadas e o aspecto macilento das meninas nordestinas atormentará como fantasmas inconsúteis a trama dos fios de ouro de seus vestidos e negociatas comporão sobre teus desejos hinos de ódio e desamor

pedirás que não te apedrejem, puta
não de amores satisfeitos,
mas cafetina azeda a distribuir pobreza e malversação de verbas
mas cafetina de meninas – tudo é também obra tua
os obeliscos da pobreza, o lixo acumulado nas consciências dos semi-alfabetizados as vias entupidas da estupidez o estado infeliz das anciãs abandonadas a eterna dependência das igrejas

tudo ponho em tua conta, cachorra

caolha calhôrda os cães te esperam com dentes afiados com a boca fétida com as patas potentes e sujas de merda para fazer com que a engulas e mesmo assim as versos apostrofaicos não se darão por satisfeitos.

exigem a cremação dos ritos a política de terra arrasada a destituição do império erguido os romantismos toscos das chorumelas dos chouriços dos toitiços que correm em tuas veias platinadas e fazem as pessoas lacrimejarem bobas lágrimas
a tola emoção que corre em tuas veias
e impede às pessoas os pensamentos do abismo

espera por ti também neste inferno o desdestino de Beatrice.
tu voltarás, bandida, para acercar-se das cadeias
do calabouços
da miséria
da fome

provarás das gonorréias dos cancros e ao procurares os hospitais públicos para te cuidares fecharão as portas para que morras, velha cadela,
com uma mosca entrando-te pelos orifícios.

(oswaldo martins)

Arrumação

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Da sério sobre o Arthur Bispo do Rosário

8
para paulinho

pode ser que o anjo azul assalte-me à noite
estarei desprevenido

não fumegará o café a broa de fubá e a mesa a mesa repleta de baratas não saberá que o anúncio da manhã estancou-se na alvorada

virão os amigos ver o corpo inerte
virão os amigos ver

e lentamente a conversa sobre esse anjo desarrazoado que me tomou o corpo em sua finitude comporá sintaxes quando o inusitado pelas brechas da matéria mostrar a voz suar os alicerces das palavras para que a matéria finita invente finitudes definitivas

rasgarei os retratos da juventude e esse anjo mágico as suas vestes e se oferecerá nua,
e assim, repleta de rasuras, será guardada nos mantos, nos estandartes – nesta cama –
a vagar nos portais do terrestre paraíso


(oswaldo martins)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Tocata e fuga

A minha professora passou-me um castigo: reescrever duzentas vezes o texto a seguir (por sorte minha, ludíbrio a professora, ou por azar meu, deixo de aprender o que ela quis me dizer - nesta maquineta, basta selecionar, copiar e colar):

O escorpião aproximou-se do sapo que estava à beira do rio. Como não sabia nadar, pediu uma carona para chegar à outra margem. Desconfiado, o sapo respondeu: ora, escorpião, só se eu fosse tolo demais! Você é traiçoeiro, vai me picar, soltar o seu veneno e eu vou morrer. Mesmo assim o escorpião insistiu, com o argumento lógico de que se picasse o sapo ambos morreriam. Com promessas de que poderia ficar tranq�?ilo, o sapo cedeu, acomodou o escorpião em suas costas e começou a nadar. Ao fim da travessia, o escorpião cravou o seu ferrão mortal no sapo e saltou ileso em terra firme. A tingido pelo veneno e já começando a afundar, o sapo quis saber o porquê . E o escorpião respondeu: porque essa é minha natureza.


(Elesbão Ribeiro)

domingo, 21 de junho de 2009

Oceano e afogado

Alto da montanha de um dezembro,
Luzes na cidade baixa,
sonhos na lua que existia apenas em pensamento.
Começo do amor, bem-vindo amor,
Quanto há de mim na espera?
Quanto há nele da procura?
Leio Neruda, sem respostas.
(Versos do diário de uma moça)


Tentava entender porque havia nascido predestinada ao amor fugaz. Ela que havia se aberto como fenda oceânica a tanto amor, ela mesma oceano e afogado. Há algum tempo, é verdade, vinha procurando se redimir. Dizia não amar. Queria deixar de lado aquela fúria de mar em arrebentação e fazia questão na justeza das coisas do viver. Em mais, ela só violava a palavra, trabalhava para além da rotina. Debruçava-se num árduo labor de desmetrificar, quebrar a expressão da escrita. Desejava, contudo, apenas uma máquina que retirasse dela as idéias em pensamento bruto, nada crivado pelo que acreditasse ser passível à literatura.
Havia dias, e sim, como os havia, desde a infância. Acordava dando adeus às flores, aos pássaros e até mesmo às gotas de chuva em sua janela, tal a impressão de fim da vida. Nessas manhãs frias, sua mãe levantava-a da cama e carregava a menina em viagem à Medina. Os insetos no debater-se contra os vidros, as poças a arrebentar água nas ruas, a ventania nas mãos, os perdidos pedestres, as variadas tonalidades do verde na densa estrada, tudo era matéria de poesia. E ela se esquecia, então, de morrer. Em algumas vezes, um grande cachorro morto na estrada, crescendo como um homem afogado, os abandonados do oceano de pedras e mar.
Ela ouvira histórias de náufragos eternos, desvalidos das águas chamados pela força de Iemanjá. Ela mesma já ouvira um dia o chamamento da senhora rainha, lutara contra a correnteza. Chegara à profundeza, ao sem ar, ao quase afogamento. Entretanto, a mãe apenas a advertira. Que tomasse tento para a partida, soubesse compreender a demora. E nessa destemperança, conheceu-o. Naquele salvamento inesperado, a mão imprecisa entre a ânsia do morrer e do respirar. O corpo em caminho à superfície como a sensação do começo de amar. Na verdade, gostara muito do sobrenome dele: Baleia, vindo de capitães do mato, os traidores traídos. Sina de um nome de bruteza na coragem, da reentrância do sertão das Minas Gerais que adentra o mar. Quem saberia de mãos mineiras encontrando-a em meio à imensidão do oceano. No beirar da praia, quando o ar já se fazia bastante, reparou nos olhos intrigantes dele, os lábios de mulher. A pele de ébano, negro como a noite, iluminava o sol. Aquele nome a surpreendê-la no desacordar foi o primeiro desejo silencioso.
Seguiram-se outros desejos. Gostava de tudo nele, do cheiro e do gosto, sobremaneira presentes em seu corpo depois que dormiam juntos. E musicava o moço, vindo de pequenez de lugar, buscava o mundo ao som do acordeão. Tinha o brilho das estrelas ao sorrir. Os olhos dele salvaram-na o sonho do novamente amar. Instrumento afinado e desejo suave, trazia notas de felicidade a seus dias e a mulher, pouco a pouco, rejuvenescia. Voltava, então, ao estado de meninice, entre prendas e brinquedos de beleza. Vestia o sapato da mãe, colocava a saia da tia, passava sombra e batom. Quiçá pintasse as unhas de vermelho vivo contrastando na pele branca. Ele era de carinhos, preocupações e quase nenhuma conversa. O pouco falar dava lugar a uma sensatez bem-vinda, a diferença do jorro de palavras dela e do gesto em muito, especialmente, quando por dentro, ela se sentia arredia.
Durante as manhãs de feiras, as frutas se coloriam na banca como animais de cores diversas, as mais formas de espécies que se pudesse imaginar. O cheiro da vida era outro, em aromas e perfumes das flores. Até o sol era fragrante vário no decorrer das horas do dia. O odor do amanhecer era parte do amor dele em seu corpo. As gotas no banho matutino ardiam-lhe, como castigo ao fazerem-na perder dele o visgo. Contudo, sorria d’água, vivenciava a beleza cotidiana.
Almoçavam frente ao mar, comiam e tomavam vinho tinto. A sesta da tarde e, em delicada rotina, amavam-se entre as almofadas da sala onde liam após as refeições. Algumas vezes, ele melodicamente estudava, as notas de cada música a sobrevoar pelas janelas a fora. Ela, como platéia solitária nos recantos da casa, perdida entre sonhos e livros.
Às noites, quem não sabe as ações daqueles que amam? Há tal beleza no aventuranças dos amantes. Os dedos escorregadios, os olhos entreabertos, os colares de pernas e braços, as entrâncias e reentrâncias dos corpos que se movem. Como se Deus guardasse para a noite as coisas mais belas, entre estrelas, luas e a maravilha da escuridão. Amavam-se no silêncio, como quem ama a mudez da voz e a desesperação do corpo, como se pudesse despedaçar-se em gozo. Os corpos se entendem, mas as almas não. As almas são incomunicáveis, anjo pernambucano. Na escuridão da noite havia beleza e vindouro terror.
O sucedido tempo acolheu um novo amor na vida de Baleia. Iniciara suas apresentações pela estrada, músico sem rumo ou lugar à espera da platéia itinerante. Loira, olhos azuis, a mocidade toda na menina que ele escolhera. A tristeza do abandonar. O moço a propôs continuarem entre os dois amores, amava duas, ela haveria de entender. Nunca amara duas pessoas na vida? Sim, ela entendia. Amara dois, várias vezes. Administrara na juventude namorados que a visitavam nas madrugadas, os mais direitos saíam cedo, os malandros chegavam alta madrugada. Amara seu namorado da faculdade e a amiga com quem dividira casa, deixava-o dormindo em sua cama, indo visitá-la nas noites cunilíngues. Contudo, amar na divisão é delicioso apenas quando se é divisor, não quociente.
E ele não apenas as dividia, como as colocava em lados opostos. A maturidade não a livrou de um desesperado amor do engano. Ele a enganava, fazia-a tocar seu sexo entre sussurros de “toma, é seu, sou seu”. A noite vigiava seus sonhos de suor, a neblina de seus pensamentos enquanto se entregava. Durante meses arrenegou o egoísmo do querer. Dividiu as despesas e os lucros de um amor partido.
A vida e suas dilacerações, o barro de mágoas de nossas humilhações, o que sobrava da natureza de Adão, pior ainda, seres vindos das costelas. Queria tanto voltar à época em que os caramujos subiam o muro do seu quintal e brincava com suas antenas saintes e entrantes quando as tocava. Quem vai entender a vida, com suas intempestivas de bonança e tempestade, de vinda e partida, de amor e desamor, as antíteses cotidianas. Como quisera quebrá-las de um só lado, encontrar a felicidade plena sem dissabor, uma única margem, direita e certa. Entretanto, os desmastreios eram rotina em sua história, como se amar fosse algo que lhe fora proibido ainda criança, quando aquele maldito veio a bulinar. Roubara-lhe a infância e a confiança nos homens. Entregou-a ao pélago sem águas e sem ar. Ela solitária na profundeza das coisas de si mesma.
Não suportou o saber da outra, o não saber de si. Horas a fio no pensar das coisas. Em frente a sua morada, apenas ela e o oceano. Barulho insandecido das águas, como o dentro de seu coração. Tanto dissabor no amor, tanta ruindade. Salva-me Iemanjá, pensamento dela.
Ela marítima.
Começados, assim, os primeiros fios da manhã, tecidos nas colasantis palavras, o pélago pareceu-lhe convidativo, possibilidade de um reino submarino onde reinassem seres inimagináveis, com caldas de peixe e corpos de homem. Talvez, lá alcançasse o silêncio dos pensamentos. Foi-se com o mar, e com ele levou as confusas coisas suas. Não mais respirava, coração sem batimento, nem aceleração. O corpo, apenas um ser afogado. A alma, o próprio oceano.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Encantada palavra

Palavra (En)cantada é um filme bonito. Desde a fala inicial, ouvimos e vemos desfilar uma série de depoimentos sobre o que se convencionou chamar de música popular brasileira. A questão que se propõe como linha temática está na indagação do estatuto da letra feita para composições musicais.

A lembrança histórica dos trovadores – principalmente os provençais, de que ainda se guardam partituras e, portanto, o canto e a música – é exposta de forma didática e exata. Recuperados, estudados e divulgados pelos poetas concretos, principalmente por Haroldo e Augusto de Campos, a poesia trovadoresca permite que se percebam as estruturas de outra época, na qual o proveito do tempo era matéria possível. Os meios de divulgação – escassos – permitiam que a música e a poesia provenientes deste meio social circulassem em ambiente restrito. Não existissem os cronistas dos reinos – os verdadeiros depositários da tradição – não existiriam as canções trovadorescas. Ligá-las ao que aconteceu durante o século XX ou ao que antes acontecera com a literatura grega me parece no mínimo complicado.

Todo o desenvolvimento da narrativa e do argumento do filme se baseia nesta primeira aproximação, que, de certa forma, permite que se vejam algumas diferenças entre o fazer poético e o fazer musical – ou da letra de música. Por volta do século XIV, com as mudanças sociais acontecidas, como a ressurgência da subjetividade, o aparecimento dos primeiros movimentos de formalização dos tribunais de justiça, poesia e música se distanciam – a música vai tornar-se sinfônica – a poesia independente da composição – sem contar que, com Fernão Lopes, a história se desligará do maravilhoso. O que antes era uma peça unívoca – história, música e poesia – agora alça voo próprio. Cada uma delas neste desligamento buscará estatuto próprio. Em Portugal a poesia trovadoresca dá lugar à poesia palaciana, mais elaborada e complexa. A elaboração da poesia permitirá o aparecimento de Camões, para se ficar apenas no ambiente da língua portuguesa.

A pressa, perdoem aqui a ironia – é própria da música. Dir-se-ia mesmo, como no adágio popular, que a pressa é inimiga da perfeição, assim como a necessidade imediata de circulação a faz ligada ao mercado e ao consumo, ao gosto do público, enfim. Desta forma mais próxima da ideologia. Esse pequeno adendo – que não está, é óbvio, no filme – é na verdade o motivo desta longa introdução.

Não tomem, leitores, entretanto, estas palavras como um discurso contrário à música. A música é um fenômeno artístico tão válido e nobre como qualquer outro ofício humano, assim como o fazer poético se enquadra no mesmo viés. O que incomoda, e o filme pressupõe esta medida, é o endeusamento de um fazer cultural. A cultura é em toda a sua extensão, do balaio indígena a mais alta pesquisa tecnológica, expressão do humano, e humanos somos todos nós. Entronizar um fazer – seja o da composição musical seja o da composição poética – não faz, quem o pratica, diferente ou merecedor do apodo de gênio. Entronizar pessoas ou seus produtos é recair num tosco romantismo, com seu viés torto e defasado, com sua tábula de ilusionismos. Defender posição diferente é permitir-se atitude antidemocrática e fascista, pois hierarquiza as sociedades, as civilizações, permitindo senão o extermínio total ao menos o extermínio cultural.

O que torna um marceneiro, marceneiro; o que torna um músico, músico; um poeta, poeta é a dedicação com que abraça seu fazer, os anos de estudo e reflexão que vão lhes dar a medida do exato e das possibilidades de fazer seu ofício de modo correto e ao mesmo tempo inovador, descobrindo nas brechas do que se fez antes a possibilidade de marcar o mundo com sua personalidade, construída ao longo do tempo. Neste sentido, um poeta que resolva fazer um móvel, um marceneiro ou um músico que resolva fazer um poema só poderão fazê-lo se estudarem e refletirem sobre o que pretendem fazer. Daí a diferença entre um bom móvel, um bom poema e uma boa música.

Juntar todos os fazeres como a expressão de um só fenômeno é no mínimo recair em equívoco. Equivoca-se o filme, portanto, em afirmar que letra de música e poesia são a mesma forma de expressão, ou a se recusar a discutir a questão mais a fundo, como o faz Adriana Calcanhoto.

Apesar deste equívoco, o filme tem momentos de beleza e percepção crítica. Tomem, por exemplo, a fala de Chico Buarque, quando pedem que leia a letra de sua música palavra. O músico é preciso e irônico, ao dizer, quase sem que se perceba, em tom mais baixo, que “cantado é mais caro” ou ao afirmar que a palavra palavra só estava ali porque a música assim o exigia. A reflexão sobre o seu fazer não lhe permite certo oba-oba, típico de certas falas ao longo da história de nossa música. Desta maneira, ao se afastar de certo tom que o filme busca, Chico Buarque coloca lenha na fogueira das vaidades e salva o filme de uma maior imprecisão. Mas não se esqueçam, Chico também não é o gênio da raça, apenas demonstra maior lucidez, por ter-se dedicado a entender o que significa a música, o que significa a literatura.

Emocionam também no filme as falas de Lirinha. Ao demonstrar, didaticamente, o quanto seu canto e desempenho são caudatários da poesia, principalmente de uma poesia que rejeita a música, como a de João Cabral, mas que se erguem em linha própria e se diferenciam enquanto ofício. Aliás, a fala de Lirinha abre outra linha temática importante no filme e que será complementada pela discussão acerca da música de Cartola e dos sambas que a sociedade brasileira viu surgir desde seus morros e favelas e da presença esfuziante da poesia modernista.

A tradição poética brasileira até hoje, malgrado o aparecimento da poesia moderna, lê como poema a tradição parnasiana e romântica. O filme, ao ler Cartola, repropõe essa discussão. Ao perceber em Cartola a presença de Olavo Bilac, faz desfilar todo um contraste entre a poesia burguesa de São Paulo e a letra da música popular egressa do Rio de Janeiro. Algumas proposições adicionais podem iluminar a questão proposta.

A poesia erudita do século XIX (romântico-parnasiana) mantinha um padrão de identidade social, como herança mesmo do país bacharelesco e religioso, que então era o Brasil. O samba não foi facilmente reconhecido, como expressão de sua cultura. que era a de falsos franceses, falsos cultores do parnaso europeu.

Ora, ao desprestígio a que se submetiam as classes sócias que não representavam a elite brasileira era necessário que se fizessem algumas ações de resistência, como a fundação das escolas de samba, a cooptação que a composição popular fez de Noel Rosa. Uma dessas ações foi a de “imitar” a escrita da elite, via Bilac, via Guerra Junqueiro, poeta português que muito influenciou Cartola. O samba falou, então, em uma deliciosa segunda pessoa, tão original quanto os erros intencionalmente cometidos pelos poetas de nossa elite.

Essa dupla originalidade que se cruza com intenções opostas vai permitir que o país encontre para si uma imagem própria, que as mídias fazem questão de destruir, quando oferecem um pastiche da música, quando oferecem um pastiche da poesia, quando, em suma, não fazem com que se diferenciem os estatutos de cada fazer cultural. E permitem que circulem como verdade questões que necessariamente devem circular como indagação.

(Oswaldo Martins)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

do desestudos

6

I

água, clara
sem nada
dizer
sofrer
ou jubilar

II

clara, as mãos
a página

livra

eis a língua
de uma arte morta

III

blake a compunha em seus livros
passava-lhe a mistura aguosa
de ovo, clara

(oswaldo martins)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

CAMÕES REMIX

eu cantarei de amor, valor mais alto
as ledas madrugadas devastando
triste engenho que arde, fogo e arte,
novo reino da morte libertando

em perigos e guerras de meus versos
busque amor, ‘inda além da taprobana
que valor de meus olhos não sei como
docemente partiste, força humana

são armas, são barões, edificaram
pelo todo essa parte que me paga
e a tanto não sei como sublimaram

alma minha gentil, é mesmo amor
que, tão contrária a si, a coisa amada
se alevanta, transforma o amador

Cesar Cardoso

quinta-feira, 4 de junho de 2009

de a cosmogonia de arthur

2

begônia e herzegovina
quanta das palavras as
lábaro-físicas palavras

quem a hades palavras
soletra a ave o infinito
do vôo nesta cama aro
inelástica que azul um
anjo mandou deitasse

quem há de nesta cama
deitar-se prometeu ante
penhascos e escarpas e
na língua do fogo ir-se
do incriado ao possível

mundo renomeado

(oswaldo martins)