segunda-feira, 29 de novembro de 2021

horyon lee

dançam no improvável

essas moças cujos pés

o movimento delineiam

 

enxergam ou fazem-se

enxergar as sombras

a sugerirem os néctares

 

da luz sem limites até

a devassa lente fixar

as saias no levadiço

 

das mãos a puxarem

os desejos da língua

tece o sexo impudente

terça-feira, 23 de novembro de 2021

uma lenda arrepiadora

 

olharam a sanhuda ave de césar

na árvore a baloiçar de lá pra cá

de cá pra lá até onde o vento

 

a roupa-traste de rasgada tiras

já não veste o moreirinha tirado

pelo medo de seus cabos

 

pela morte-fama do contestado

cabeças boiam no ainda boiar

desta farda incorpórea e rota

 

qual caxias à margem-história

joga ao revés de si os paraguaios

dos sertões que em kirie eleison

 

entoam glórias ao bom menino

no há-de vingá-los da morte

o manto-água da matéria-nada

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

totem

o rato ante o degrau da escada

a ultrapassar demandava-se

o repentino da quietude

 

os olhos miúdos interrogavam

os pés – belos agentes do caos

que no alto do eirado provocavam

 

os tabus ratilínicos a proverem

hipóteses para as virtuoses

destes vetustos roedores

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Genial Genival Lacerda


 

descante

a cor da unha

o balanço-sola

a liturgia dos pés

 

caem vagares sob a cidade

as pessoas os cães os cavalos

passam há cigarras ainda

 

e o estupor civilizado

no chão o outro do eu

cavo ao fecharem-se olhos

 

ultimo o silêncio

as sintaxes secam

a despedida-quando

 

o cicio do age-fim

resta no nada

 

(oswaldo martins)